quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Capítulo 11


Capítulo 11
Demi remexia a comida no prato e, quando olhou para cima, encontrou Joe observando-a fixamente.
— Você me decepciona, Demi. – comentou. — Não pensei que fosse das que não comem.Ela sentiu que corava e o desconforto e o absurdo da situação finalmente pesaram mais do que quão excitante poderia chegar a ser.
— Desculpe que eu não pule no prato, mas na última meia hora eu não fiz mais que receber ordens, e isso me fez sentir mais numa representação extravagante do que num jantar, me fez perder o apetite. Ele riu, mas não com um sorriso educado, mas com uma profunda e rouca gargalhada, jogando a cabeça para trás.
— Hum, uma cliente descontente. Isto é algo novo para mim — brincou, exasperando-a ainda mais.
— E como vou recuperar minha roupa? Porque eu não vou voltar a esse quarto de hotel depois do jantar.
— Parece-me bem — afirmou ele, claramente divertido, o que a irritou ainda mais.
— Aviso-te para que estejamos na mesma página e que não haja mal entendidos.
— Na mesma página, né? Falou como uma verdadeira bibliotecária. — afirmou. Sem saber o que responder a esse comentário, Demi provou o vinho. Estava delicioso e o líquido deixou um rastro de calor líquido na sua garganta.
— E agora que o mencionou, não íamos falar dos livros? Pensava que era disso do que tratava este jantar.
— Impaciente para entrar na matéria.
— Sim — assentiu e tomou outro gole de vinho. "É o último, agora vou parar", assegurou-se a si mesmo.
— Por que não tem celular? — perguntou Joe.
Demi foi surpreendida com essa pergunta que parecia surgir do nada.
— Oh, não sei. — respondeu. Negava-se a reconhecer sua obrigatória austeridade a alguém que andava por aí num carro com chofer e que usava um dos hotéis mais caros do mundo como vestiário.
— É pouco prático — comentou.
— Para mim não.
— Tinha usado cinta-liga alguma vez? — perguntou-lhe. Demi quase cuspiu o vinho.
— Como?
— Você disse que queria entrar na matéria. — Seu olhar era intenso e sua expressão séria. Era evidente que a pergunta sobre o móvel tinha sido só de aquecimento. — Como se sente vestindo a roupa íntima que comprei?
— Como se usasse um disfarce. — respondeu.
— Você diz isto como se fosse algo ruim.
Levaram os pratos e a aparição do garçom deu a Demi uma pausa temporária do interrogatório. Eles Colocaram um novo prato a sua frente, tão elegantemente apresentado que mais parecia arte do que comida.
— Mousseron e raviólis de acelga, queijo nettlesome, cogumelos St. George em conserva, samambaias cabeça de violino. — anunciou o garçom. O sommelier retirou a taça de vinho de Demi, embora ainda estivesse meio cheia e trouxe outras taças limpas. Apresentou então uma nova garrafa a Joe.
— Domaine Drouhin Meursault, Burdeos 2008. Demi fez gesto para recusar mais vinho, mas uma crítica olhada do Joe a deteve.
Quando voltaram a ficar sozinhos na sala, ele levantou sua taça.
— Pelos disfarces. — disse com um sorriso.
— Por que bebemos pelos disfarces? — perguntou ela, enquanto chocava com delicadeza sua taça contra a dele.
— Porque inspiram. E liberam. "Para você é fácil dizer", pensou.
— O que tem de liberador em me dizer o que vestir? — perguntou.
— Bom, pensa nisso. Imagina se eu avisasse que íamos a um restaurante e que você tivesse que se arrumar. Não saberia que roupa pôr, como encontra-la, quanto gastar... Eu simplesmente cuidei de todo esse trabalho e aborrecimento. Abrir mão do controle é a liberação máxima.
— Que tal dar alternativas?
— Você tinha alternativas. – replicou. — Poderia ter recusado sair comigo. Poderia ter recusado usar a roupa. Demi assentiu, lembrando que ela tinha pensado em sair do quarto do hotel. Provou os raviólis. Estavam deliciosos e surpreendentemente suculentos, não se parecia com nada que tivesse provado antes.
— Eu quero ver a cinta-liga e o sutiã. — afirmou. Demi se engasgou com a comida. Tossiu e bebeu vinho.
— Isso não vai acontecer — respondeu, embora só com as palavras que tinham saído de sua boca, Joe tinha provocado um formigamento entre as pernas igual o que sentia quando estava na cama, sozinha e acordava no meio da noite e se tocava.
— Não tem que haver sexo — explicou ele. — Inspiro-me muito com a beleza e tenho curiosidade em ver como ficaria com esta lingerie desde o primeiro momento em que te vi.
— Sei que é fotógrafo — comentou Demi.
— Ah... A vida na era do Google. Tiram-nos qualquer oportunidade de aproveitar a descoberta ou o mistério. Você não acha?
— Não te procurei no Google. Minha colega de apartamento estuda na Parsons e tem uma de cada revista de moda do mundo. Vi suas fotos em uma delas. Joe assentiu.
— A fotografia de moda sempre é um exercício interessante. Mas normalmente só é um trabalho. Meu tipo favorito de fotografia é muito diferente.
— E que tipo é esse? Ele sorriu e algo na forma que a olhou fez com que Demi se sentisse mais exposta do que quando se despiu na frente de Jess.
— Se me permitir, eu mostro a você.
— Buscarei no Google. — afirmou furiosa pelo efeito que tinha sobre ela e sem desejar que ele se desse conta disto.
— Não vai achá-las na Internet. — advertiu-lhe. — Não poderá as encontrar em nenhuma parte.
— Nesse caso, suponho que não as verei.
— Tenho plena confiança que o fará. — replicou Joe. — Falando de fotos, folheou o livro de Bettie Page?
— Um pouco. – respondeu. — Estava no trabalho, assim não pude...
— Olhe antes de se deitar. Ela bebeu outro gole de vinho.
— Por que você gosta tanto de Bettie Page? Pareceu que Joe considerava a pergunta com cuidado, embora, evidentemente, tinha uma resposta preparada.
— Ela, e o efeito que tem sobre as pessoas, eu acho fascinante. É compreensível por que teve tanto êxito na sua época: poucas mulheres posavam com ela, mas por que ainda impressiona até agora? Hoje em dia, há mulheres nuas por toda parte. As fotografias na web são muito mais explícitas do que qualquer coisa que Bettie Page já fez. Há muitas mulheres mais bonitas. Mas, mesmo assim, ela é única.Estava totalmente animado e o fato de que era fotógrafo de repente pareceu mais real a Demi. Vivia-o. Pensava nas fotografias como ela pensava nos livros.
Desejou poder deslumbrá-lo com algum comentário digno da Camille Paglia sobre a semiótica de Bettie Page, mas o certo era que nunca tinha ouvido falar dessa mulher antes do comentário que Liam fez sobre o corte de cabelo.
— Quero que leve isto a sério — pediu Joe de repente, olhando-a nos olhos. Ela respirou fundo. — Não te convidei para jantar para conversar sobre besteiras, Demi. E, apesar do que crê não te pedi que saia comigo para poder te foder, embora pense nisso.
O estômago deu um nó e desviou o olhar. Uma parte dela desejava que deixasse de falar e outra rezava para que não o fizesse.
— Você está chateada porque disse isso? — perguntou-lhe.
— Não. — respondeu com um sussurro apenas audível.
— Você me olha com esses enormes olhos azuis e não sei se é tímida ou se está me julgando em silêncio — reconheceu. Ela olhou surpreendida.
— Por que ia julgar você?
— Fez no dia que me viu fodendo aquela mulher na biblioteca.
Demi estremeceu por ouvi-lo usar de um modo repetido e despreocupado a palavra "Foda".
— Bom, sim. Acredito que a biblioteca não é o lugar adequado para esse tipo de coisa...
— Posso dizer uma coisa? — Ele perguntou, e algo em sua voz e o modo que a olhou, como seu olhar se moveu de seus olhos para seus lábios e de novo para seus olhos fez que todo seu corpo se retesasse.
— Sim — sussurrou.
— Penso em foder você na biblioteca.Todo o sangue se concentrou no rosto. Baixou o olhar para a mesa e sentiu um pulsar de desejo assustador entre as pernas.Depois do jantar, o Mercedes esperava na porta do Daniel. Virou para o oeste e avançou pela Sétima Avenida.
— Para onde estamos indo? — perguntou Demi.
— Te levo para casa. — respondeu.Ela tentou não se sentir decepcionada.
— Para isso não precisa do meu endereço? — ela perguntou.
— Tenho seu endereço.
— O que? — Fosse qual o feitiço que tinha sido lançado com o vinho, a roupa elegante e o bate-papo sobre sexo se rompeu de repente.
— Como você o conseguiu?
— No escritório da biblioteca.
— Não podem dar meu endereço a qualquer um!
— Eu não sou "qualquer um", Demi. Me conhecem.
— Essa não é a questão!
— Você sente como um violação? — perguntou.E alguma coisa no modo que a olhou fez que soubesse que não estava falando de seu endereço.
— É que não é... apropriado. — queixou-se. Joe pareceu considera-lo e balançou lentamente a cabeça lentamente. — Pode ser que não seja apropriado, isso é certo. — afirmou. — E eu não me sinto muito bem em pedir permissão. — Pegou a sua mão e a olhou a nos olhos. Sua intensidade a afetou de um modo como nunca antes tinha acontecido. — Suponho que deveria saber isto sobre mim se formos passar um tempo juntos.Ao ouvir essas palavras, a irritação de Demi se evaporou. Iam passar um tempo juntos.Quando o carro se deteve em frente ao edifício em que morava, conseguiu dizer:
— Obrigada pelo jantar. Joe pegou sua mão e o seu contato pareceu pesado e quente que a fez sentir vontade de aninhar-se nele.
— Falava a sério quando te disse para folhear o livro da Bettie Page esta noite. Quero saber sua opinião. Quero te conhecer, Demi.
— Ok. — concordou.
Mais uma vez, os olhos dele se cravaram nos seus. Na escuridão e sob o imperturbável foco de seu olhar, sentiu como se, de algum modo, fizesse uma promessa importante. Embora não fazia a mínima ideia do que tinha prometido.

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