terça-feira, 8 de setembro de 2015

Capitulo 2



Capítulo 2
Demi pegou o saco de papel marrom em que levava o almoço e se sentou lá fora, no alto da escada da biblioteca. Abriu a garrafa térmica de leite e contemplou a Quinta Avenida.
— É a nova bibliotecária? — perguntou-lhe uma senhora que se deteve seu lado antes de descer a escada.
— Sim, sou Demi. — respondeu ela, enquanto mastigava tampando a boca com a mão.
— Bem-vinda. Sou Margaret Saddle. Incomodava por estar sentada enquanto a mulher permanecia em pé, Demi se levantou e alisou a saia vincada de algodão que vestia.
— Ah, sim. Você trabalha na Sala de Arquivos, não é? A senhora Saddle assentiu.
— Há cinquenta anos.
— Nossa, é.... Impressionante.
Margaret tinha o cabelo branco e usava meio preso, e tilo anos 60, e os olhos eram de um azul muito claro. Além de blush no rosto, não usava maquiagem. Estava com um colar de pérolas de várias voltas e, se Demi tivesse que apostar, diria que eram autênticas. A mulher voltou o olhar para o edifício.
— Este é um lugar que vale a pena dedicar toda uma vida profissional. — afirmou. — Embora tudo foi de mal a pior desde que perdemos o Brooke Astor. Bom, prazer em conhecê-la. Venha me visitar no quarto andar quando quiser. Provavelmente terá dúvidas e Deus sabe que nenhum outro se apressará em respondê-las, se é que sabem a resposta. Bom, desfrute do sol.
Demi desejou lhe dizer que se especializou em Arquivos e Conservação, mas não queria que parecesse que estava competindo com ela. Entretanto, tinha certeza que preferia trabalhar com a Margaret Saddle do que com a Blanda Eggnschwiller.
A mulher se afastou e Demi sentou-se novamente no degrau, esquecendo que tinha deixado a garrafa térmica com leite aberta.
Derrubou-a, o leite derramou pela escada e a pesada tampa caiu ricocheteando como uma bola.
Ela ficou horrorizada, sem saber o que fazer primeiro, da crescente poça de líquido branco ou da tampa que saltava cada vez mais rápido em direção à Quinta Avenida.
Levantou o recipiente térmico para deter o fluxo de leite e desceu correndo escada abaixo para alcançar a tampa, mas antes que tivesse podido baixar muitos degraus, viu que um homem alto e de ombros largos a interceptava com um rápido movimento da mão. Olhou para ele, seus olhos eram de um escuro castanho aveludado, quase negro.
Quando se aproximou, surpreendeu-se ao notar que o coração disparava.
— Isto é seu?
Ele devolve a tampa com um leve sorriso no rosto, um rosto de feições duras, tão grosseiramente belo que resultava perturbador. Tinha as maçãs do rosto altas, um nariz bem definido e uma diminuta covinha no queixo. Seu cabelo era brilhante e escuro e o usava comprido o bastante para que as pontas se enrolassem ao redor do pescoço. Era mais velho que Demi. 
— OH, sim... Sinto muito. Obrigada.
Agarrou a tampa e, embora se encontrasse um degrau acima dele, superava-a em altura.
— Não é necessário que se desculpe. Embora, agora que vejo o desastre... Possivelmente sim. Envergonhada, ela seguiu seu olhar até a poça de leite.
— OH... Irei limpar. Nunca deixaria que...
Mas seu sorriso lhe indicou que só brincava.
— Sem problemas. — disse-lhe, ao mesmo tempo em que devolvia a tampa de plástico preto.
Quando ele roçou os dedos com os seus, Demi sentiu verdadeiro calor com o contato. Então, o homem passou junto a poça e desapareceu pela porta da biblioteca.
Demi subiu os cinco andares até seu apartamento na Rua Bank com a bolsa cheia dos livros que não tinha podido resistir em pedir emprestados da biblioteca.
Vivia num pequeno apartamento no bloco mais perfeito, do bairro mais perfeito da cidade. Pensava nele como seu “Grande Escape”, não só das limitações da sua cidade natal, mas também dos compridos e necessitados braços de sua mãe. Ali, escondida, num típico edifício nova-iorquino, numa vizinhança que em outra época foi o lar de gênios literários, como Willa Cather, Henry James, Edna St. Vincent Millay e Edgar Allan Poe, Demi era verdadeiramente independente pela primeira vez na sua vida.
A única sombra nessa paisagem, totalmente perfeita, da recém-descoberta liberdade era sua colega de apartamento, Selena. Selena Gomez era uma estudante do Parsons totalmente obcecada por duas coisas: moda e homens. E trocava de homem com mais frequência que de jeans. Parecia que cada semana trocava para um menino diferente.
Demi nunca tinha tido uma companheira. Enquanto cursava a faculdade, sua mãe tinha insistido em que ficasse em casa em lugar de instalar-se numa das residências da Universidade de Drexel, no centro da Filadélfia, há apenas vinte minutos de carro desde seu bairro nos subúrbios. E agora que vivia com Selena se dava conta de que, nos últimos anos, sua mãe possivelmente tinha tido muita influência sobre sua vida social. Agora que era testemunha diária da turbulenta vida sentimental de Selena, Demi não podia evitar perguntar-se por que ela não se aventurou mais nesse campo. Em parte por causa de sua mãe, que se mostrava tão contrária a que saísse com caras, que quase não valia a pena fazê-lo secretamente. E os poucos encontros que tinha tido, foram tão decepcionantes que não compensavam as mentiras ou as discussões com ela. Mas agora se via obrigada a se perguntar se tinha perdido algo importante.
Quanto a Selena, Demi demorou várias semanas a descobrir por que a garota não se incomodava em ter uma colega de apartamento.
Parecia dispor de uma infinita reserva bancária, ao menos para gastar em roupa. As bolsas do Barneys, Alice e Olivia ou Scoop estavam sempre presentes no apartamento. Demi não sabia muito de moda, mas era consciente de que essas lojas não tinham nada a ver com as modestas Filene's e Target, onde ela fazia todas suas compras. E logo estavam as contínuas visitas de Selena ao 
Bumble&Bumble para manter seu comprido cabelo pintado com mechas, sem contar os constantes jantares fora. Demi não tinha visto nunca a sua companheira servir-se nem sequer uma tigela de cereais. Inclusive pedia que lhe entregassem em casa os ovos mexidos nas estranhas manhãs de fim de semana em que acordava no apartamento. O mistério ficou resolvido uma noite, quando Demi despertou ao ouvir Selena e seu namorado atual fazendo sexo na cozinha às duas da manhã. Selena brigou com o namorado por todos seus fortes gemidos (que tinham despertado Demi): 
— Minha colega de apartamento ficará traumatizada-repreendeu-o. 
O rapaz respondeu:
— Não entendo por que tem uma colega de apartamento. Seu pai é Mark Gomez.
Selena explicou-lhe que não era uma questão de dinheiro; seus pais tinham insistido que tivesse uma colega dividindo o apartamento por "motivos de segurança". Os dois riram e ele comentou:
— Ainda bem que você tem alguém para te controlar. Do contrário, poderia ser uma garota má.
É obvio, Demi procurou no Google Mark Gomez e descobriu que o pai de Selena era o fundador da gravadora de hip-hop mais importante do país. Esse pequeno detalhe serviu para aumentar ainda mais a distância que já havia entre as duas. Era impossível imaginar seu pai ou sua mãe escutando hip hop, ou qualquer música pop. O pai de Demi rondava os trinta e cinco anos quando ela nasceu e morreu oito anos depois. Era arquiteto e a única música que escutava era ópera. A mãe de Demi era uma violoncelista que só gostava de música clássica e insistia que na sua casa só se ouvisse esse tipo de música. Enquanto Alice Lovato estava em casa, as únicas formas de música, pintura e literatura aceitáveis eram os clássicos, por isso Demi tinha crescido sem música "pop", arte “moderna”, nem ficção "barata".
— Como foi seu primeiro dia? — perguntou-lhe Selena, levantando a vista da revista W. — Os rapazes da biblioteca estão se comportando? — brincou.
Estava sentada no sofá, com as pernas cruzadas. Vestia uma calça jeans perfeitamente descolorida e queimados, um pulôver de caxemira que lhe chegava logo abaixo do peito e prendeu o cabelo loiro dourado em um descuidado coque.
A sala cheirava a seu perfume, Chanel Allure. 
— Muito bem. Obrigada. — respondeu Demi, enquanto deixava sua pesada bolsa no chão e ia à cozinha pegar uma Coca-Cola.
Nunca sabia se Selena estava realmente interessada em falar com ela ou era só um gesto automático por ser ela a única pessoa que havia ali. Demi sabia que a garota não compreendia que "pôr livros em estantes", segundo suas próprias palavras, pudesse ser o sonho da vida de alguém. Mas isso era exatamente para Demi.
Desde que tinha seis anos e seu pai tinha começado a leva-la à biblioteca todos os sábado à tarde, embora não fosse a de Nova Iorque, e sim a pequena biblioteca no Gladwynne, Pensilvânia, Demi sabia que esse era seu lugar.
Nunca passou por uma fase em que queria ser professora, veterinária ou bailarina. Para ela seu sonho tinha sido sempre tornar-se uma bibliotecária. Desejava trabalhar rodeada pelo cheiro dos livros, ser responsável por fileiras e mais fileiras de ordenadas prateleiras, e de uma meticulosa catalogação e de ajudar às pessoas a descobrir um grande romance, ou o livro que os ajudaria no projeto de uma pesquisa com o qual obteriam seu título ou solucionariam um enigma intelectual.
Sabia desde que era pequena, e nunca tinha perdido de vista seu objetivo. E agora seu sonho virou realidade, por muito insignificante e ridículo que pudesse parecer para alguém como Selena Gomez.
— Fico feliz. — comentou. — Vou receber a visita de um amigo.
Espero que não a incomodemos. O que realmente estava lhe dizendo era que esperava que ficasse no seu quarto e não incomodasse.
— Não se preocupe. Tenho muito que ler.
— Ah e sua mãe ligou. Duas vezes. — comentou Selena, dando-lhe uma nota com a mensagem ilegível rabiscada com marcador permanente. Para reduzir despesas na sua mudança para Nova Iorque, Demi tinha excluído o celular da sua vida. Isso foi ótimo já que ficou impossível para sua mãe contatá-la as vinte e quatro horas do dia, mas, infelizmente, qualquer pessoa que tivesse um relacionamento com Demi e possuísse uma linha fixa pagava o preço. Dobrou a nota e a meteu no bolso.
Despertou com um barulho que a fez pensar que alguém estava arrombando o apartamento. Ao menos, isso lhe pareceu. Logo se deu conta de que só era a cabeceira da cama de Selena batendo contra a parede.
O ruído chegava acompanhado de uns gemidos da sua colega e sem dúvida desnecessário grito de:
— Foda-me!
Mais gemidos, dessa vez masculinos. O ruído da cabeceira se fez mais forte e mais rápido e o tom das vozes pareceu de repente mais indicativo de violência do que prazer. Logo silêncio.
Demi respirou com dificuldade, embora ela não sabia se devia ao sobressalto ou à natureza do que tinha ouvido. Era perturbador e excitante ao mesmo tempo e isso a preocupou mais do que o fato de que a vida sexual de sua companheira de apartamento estivesse roubando suas horas de sono.
Sabia que estava muito desatualizada em todo o tema de sexo; ser virgem na sua idade era impensável para a maioria das pessoas. Mas era sua realidade, uma realidade que a preocupava desde que se mudou para Nova Iorque e se deu conta de que era a última a chegar na festa.
Não é que pensasse não praticar sexo nunca. Não tinha feito voto de castidade, muito pelo contrário. Era porque não tinha aparecido oportunidade. Suas amigas lhe diziam que passou pela vida sem perceber que os caras sempre se fixavam nela e que lhe pediriam para sair mais frequentemente se esforçasse mais por relacionar-se e fazer as coisas.

— É sempre tão séria... — diziam-lhe.

Não é que não queria divertir-se. Tratava-se mais de que estava dolorosamente consciente de que cada festa que ia era uma noite que perdia de estudo, e cada cara que gostava a ameaçava desviar sua atenção do que era importante para ela: aprender, trabalhar duro, conquistar um futuro.
Determinação. Esse era o mantra de sua mãe, que não demorou em prevenir Demi de que os meninos não eram nada mais que uma distração, um modo muito eficaz de impedir seu futuro. Tinha-lhe passado, advertiu-lhe com tom solene. Demi tinha ouvido a história dezenas de vezes, mas sua mãe sempre contava-lhe como havia
"renunciado a seus sonhos" para apoiar o pai de Demi enquanto este estudava arquitetura e logo nos primeiros anos de luta... E mais tarde veio sua gravidez.
— Depois seu pai morreu e me deixou com toda a carga. Ninguém pensa em imprevistos, Demi. Só pode depender de você mesma.
Olhou o relógio. Eram duas da manhã. Faltavam cinco horas para que soasse o despertador. Ouviu risadas e outro gemido de Selena.
Deitou de barriga para cima, desesperada para dormir de novo. A camisola, um objeto folgado de algodão cinza da marca OldNavy, enroscou na cintura. Demi o soltou, mas a deixou por cima dos quadris. Acariciou estômago tentando relaxar para recuperar o sono. E então, como se movesse por vontade própria, sua mão desceu até a borda da calcinha.Deteve-se. Do quarto ao lado só chegava silêncio.Colocou a mão por debaixo a roupa íntima e acariciou levemente com os dedos entre as pernas. Pensar que havia um homem a poucos metros de distância, do outro lado da parede, excitou-a e a distraiu ao mesmo tempo. Fazia muito que um menino não a tocava e as poucas experiências que tinha tido até então tinham sido vergonhosas e não valia a pena recordar. Agora resultava-lhe impossível imaginar a mão de outra pessoa naquele lugar íntimo e sensível, alguém que a acariciasse até que se umedecesse e logo entrasse e saísse de seu corpo do modo adequado para provocar aquela potente liberação.Moveu a mão depressa, as paredes de sua vagina palpitaram contra seu dedo, e seus quadris se balançaram ao mesmo ritmo. Experimentou a familiar onda de prazer e logo ficou quieta sob o enrugado edredom. O coração pulsava com força.Como seria ter alguém com ela nesse momento e clímax?Começava a perguntar-se se algum dia saberia.


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  oi meninas,como voces estão? Estava sumida mas aproveitei o feriado para colocar a historia do livro para voces nao ficarem sem nada, desculpa qualquer erro no texto, não deixem de comentar o que estão achando da história, beijos.

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