domingo, 27 de setembro de 2015

Capítulo 22


Capítulo 22
Já estava no meio da tarde quando Demi entrou no seu apartamento como se estivesse flutuando numa nuvem. Selena olhou por cima do sofá. Tinha um caderno de esboços no colo.
— Onde você estava? Por que não voltou para casa ontem à noite?
Estava muito preocupada com você — disse, enquanto soltava o lápis 
 Ela se inclinou para desabotoar os sapatos. Joe a mandou para a casa vestida de Prada da cabeça aos pés. Como sempre, os sapatos eram incriminadores. 
— Estou surpresa que tenha voltado para casa ontem à noite — comentou Demi. — Da maneira como ocorreram as coisas no Nurse Bettie, não o esperava.
— Não tente desviar a atenção para mim. Onde você estava? Não pode desaparecer assim, Demi.
— Eu não desapareci. Foi você que partiu, lembra?
— Sinto muito. Ultimamente tenho estado tão deprimida que eu precisava de alguma coisa para tirar Justin da cabeça.
— Por isso me deixou com aquele asqueroso no bar?
— David  não é um asqueroso. Além disso, foi ele quem me disse que você tinha saído com um cara.
— Não era um cara, era Joe. Mas de todos os modos, sinto por tê-la preocupado.
Sentiu-se comovida por Selena ter se preocupado com ela.
— O que Joe estava fazendo ali? Perseguindo você? 
 Demi encolheu de ombros e se dirigiu à cozinha. Não tinha comido nada do café da manhã e, de repente, deu-se conta de que estava morta de fome. Esticou o braço para pegar um prato da segunda prateleira do armário, mas os ombros lhe doíam tanto que ela mal conseguia levantá-los por cima da cabeça. 
— Ai! — gritou, incapaz de alcançar o prato.
— O que foi?
— Pode me baixar um prato? Selena pareceu na porta.
— Não até que me fale o que está acontecendo?
— Doem-me os braços — explicou-lhe.
— Sim, eu posso ver isto. Assim, a menos que tenha jogado uma partida de tênis a meia-noite no Central Park, eu me pergunto porquê
 Olhou- a com as mãos nos quadris. Demi não pôde evitar sorrir. De algum modo, sua relação com o Joe tinha convertido a sua mordaz companheira de apartamento em uma supermãe. 
— Se me der o prato, contarei tudo — disse.
Selena pegou o prato, passou-o e insistiu:
— Cuspa-o, Demi. Sentaram-se à mesa, comendo as sobras de arroz com frango e bebendo garrafinhas de cerveja Corona. Demi tinha colocado uma calça de moletom e uma velha camiseta da Drexel. Estava fisicamente exausta, mas tinha a mente acelerada como se estivesse na sexta marcha que não sabia que tivesse. — Ele gosta do que suponho que poderíamos chamar dominar — começou a contar.
— Fazendo o que, exatamente? — perguntou Selena.
Agora que tinha chegado o momento, estava morrendo de medo de contar a alguém o que estava acontecendo. Não sabia se Selena diria que era uma loucura, que devia afastar-se desse tipo ou se, em troca, confessaria: "Claro, eu faço coisas assim todo o momento". De qualquer maneira, Demi necessitava de uma confidente.
— Isto... bom, me deu de presente um celular e me disse que tinha que leva-lo sempre ligado e que só era para usá-lo entre nós dois. Manda-me mensagens que, na realidade, são ordens. E me diz o que tenho que vestir. Sempre devo usar sapatos de salto e um tipo específico de lingerie.
— Bom, sinceramente, Demi, não foi tão ruim um pouco de orientação sobre o seu jeito de vestir.
Ela lançou um olhar furioso antes de continuar:
— Se não faço o que me diz, ou seja, se não me visto do modo adequado, me "castiga". Agora sim ela tinha toda a atenção de Selena. À frívola, entediada e sabe-tudo da Selena de repente arregalou os olhos.
— Continua — insistiu.
— Bom, digamos que me dá... uns tapas.
Não pôde dizer nada mais. Não pôde falar do quarto. Sua companheira assentiu.
— já ouvi falar desse tipo de coisas — comentou, enquanto arrancava a etiqueta de sua garrafinha de cerveja.
— Sim? — exclamou Demi surpreendida.
— Claro. É BDSM básico.
— BD quê?
— BDSM: bondage, disciplina, sadomasoquismo. É uma subcultura bastante difundida.
— É mesmo?
— Claro. Tem muita gente que faz isto.
— Então, você não acha... estranho? 
 Selena encolheu de ombros. 
— Para mim não serve, mas, eu tenho certeza de que em pequenas doses poderia ser muito erótico. Conheci uma garota que usava uma coleira. 
— O que quer dizer?
— Usava uma colar de couro, como uma coleira de cachorro.
Disse-me que, na comunidade, isso indicava a outros que tinha um dono.
— Está de brincadeira.
— Não
 Isso fez que Demi se sentisse muito melhor. Ao menos, ela não tinha chegado tão longe. 
— Então, está-me dizendo que tudo isso é relativamente normal
— concluiu.
— OH, bom, não é muito normal — replicou Selena. — Mas enquanto você se sinta bem, a quem importa? Principalmente se
você conseguir com isso um guarda-roupa inteiro da Prada, te diria, deixe-o chicoteá-la até que se canse.
Demi corou e olhou para o seu prato. Possivelmente Selena não fosse a melhor escolha como confidente, mas era tudo que tinha no momento. E ao menos, a partir daí, podia nomear aquilo que estava enfrentando: BDSM. Teria que investigar um pouco, embora algo lhe dizia que não encontraria um livro sobre esse tema em particular na biblioteca.

                                           ***
Pela manhã quando chegou ao trabalho se encontrou com o Liam sentado no seu lugar, organizando uma pilha de livros.
— Oi — saudou Demi. — Desculpe por ontem. Espero que não tenha tido muita bagunça.
— Não, foi tudo bem. Mas Blanda quer ver você em seu escritório.
Demi teve um mau pressentimento.
— Por quê? — perguntou, enquanto deixava a bolsa atrás da mesa.
— Não sei. Mas a julgar por seu tom quando ela ligou, eu não a faria esperar muito. Aquilo não era bom sinal. Demi se dirigiu ao segundo andar.
A porta do escritório de Blanda estava entreaberta. A viu antes de entrar, levava o cabelo loiro platinado preso num coque perfeitamente descuidado, as mangas da blusa azul marinho dobradas até os cotovelos e os pulsos bronzeados enfeitados com alguns delicados braceletes de ouro. Estava tomando seu café da Starbucks enquanto folheava The New York Post “on-line”.
Demi bateu na porta.
Blanda olhou para cima e entreabriu os olhos.
— Bem, bem, bem, que amável da sua parte se dignar a aparecer 
— disse.
— Sinto por ontem — desculpou-se, nervosa por ter que pedir desculpas e se desculpar tão cedo.
Tinha ensaiado mentalmente esse momento no metro, mas tinha sido incapaz de pensar numa razão plausível pela que Joe e ela tivessem que trabalhar "fora" no dia anterior.
— Sente-se Demi — pediu-lhe Blanda.
A contra gosto, entrou no escritório. A única cadeira disponível estava cheia de revistas de noivas. Como Blanda não fez gesto de limpá-la, ela o fez e se sentou nervosa com as revistas no colo.
— Sei que quando começou a trabalhar aqui sentiu que o balcão de empréstimos não era digno de você.
— Não, não é isso. Só pensei...
— Por favor, não me interrompa. Como ia dizendo, sei que sentiu que não era digno de você por sua licenciatura com honras e tudo mais. Mas numa biblioteca deste nível, o balcão de circulação é vital. Vital. E se não posso confiar em você que esteja aqui todos os dias, não poderei mantê-la nesse posto.
— Blanda, estarei aqui todos os dias. Não voltará a acontecer.
Ela sentiu pânico. Poderiam demiti-la por faltar um dia ao trabalho? Deus, o que eu estava pensando? O que estava errado?
— Bom, terá que me provar isso E, enquanto isso, trabalhará no balcão de devoluções. Demi sentiu que empalidecia.
— Blanda, isso não é necessário. Prometo que não voltará a acontecer.
— Isto não é uma discussão aberta, Demi. Agora vá informar ao balcão de devoluções. Alguém ali vai ensiná-la como organizar o material nos carros e como colocar tudo de volta nas estantes.
Sentiu-se a beira das lágrimas, mas não queria que Blanda visse como ficou chateada. Levantou-se, voltou a deixar as revistas sobre a cadeira e se dirigiu à porta.
— Demi mais uma coisa — disse sua chefe. Ela virou-se.
— Eu realmente espero que o sua relação com Joseph Jonas seja só profissional. Embora o apoio financeiro de sua família é indispensável para esta biblioteca, não gostaria que nenhum membro da minha equipe mantivesse uma relação íntima com ele. Seria inapropriado e prejudicial. Ficou claro?
— Sim — respondeu Demi, incapaz de olhá-la nos olhos.
— Bem. E no seu horário de almoço, por favor, vá a Vera Wang e me busque uma amostra de tecido. Depois necessitarei que a leve a meu florista.Demi assentiu e partiu rapidamente.

No caminho para as escada, cruzou com a Margaret. A senhora a saudou com a mão.
— Olá, Demi. Tem estado desaparecida ultimamente. Gostaria de almoçar na escada hoje?
— Eu gostaria de poder, mas Blanda me pediu para fazer um favor.
Margaret negou com a cabeça.
— Oh, sinto muito. Vamos ficar em outro momento.
Demi se sentiu extremamente triste. Perguntou-se se a senhora pensaria que a estava enrolando ou que a estava evitando.
O celular vibrou na bolsa. Enquanto subia a escada para o balcão de devoluções, leu a mensagem:
O carro estará esperando lá fora às seis.J.
E só com isso, tudo voltou a estar bem no seu mundo.
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Oi meninas, amanha eu começo a maratona, beijos.

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