terça-feira, 15 de setembro de 2015

Capítulo 9


Capítulo 9
As seis, Demi desceu a escada sul até a porta de entrada da biblioteca e saiu para a quente tarde de verão. A verdade era que não esperava que Joe Jonas estivesse ali. Depois de trabalhar um dia todo, tinha chegado à conclusão de que o livro de Bettie Page e as notas era uma bobagem, uma brincadeira como castigo por havê-lo surpreendido no quarto andar.Mesmo assim, o pulso ia a mil por hora quando desceu a ampla escada de mármore até a Quinta Avenida. Uma vez ali, alisou timidamente a saia e se abanou com o livro de bolso que levava.
— Onde está o livro de Bettie Page? Sobressaltada, virou-se e viu Joe atrás dela. Estava incrivelmente bonito, com um traje escuro e uma gravata de uma intensa cor púrpura. Seus olhos, que pareciam pretos em contraste com o leve tom dourado de sua pele, estavam fixos nela com uma intensidade que a deixou sem respiração. De novo se maravilhou da perfeição de seu rosto, de seus espetaculares e elegantes traços que, de algum modo, eram lindos, mas também muito masculinos.
— O que?
— O livro ilustrado que te dei de presente. Não acredito que caiba nessa esfarrapada e pequena bolsa que carrega. — respondeu, olhando com desdém sua bolsa Old Navy.
— Tudo o que preciso levo nesta bolsa, muito obrigada.
— Espero que isso inclua o livro. Ela ajeitou a bolsa no ombro e respondeu:
— Não, não o inclui.
— Pegue-o — ordenou-lhe.
— Perdão?
"Que cara!"
— Olha-me como se eu tivesse dito algo ofensivo. Minha nota não dizia que eram "deveres de casa"? Isso significa que devia levar o livro.
Certo?
— Sim... Exceto não sei por que eu deveria ter dever de casa.
Ele sorriu, revelando uma covinha na bochecha direita.
— Suponho que eu gostaria de ser seu professor. — Então ficou sério. Seguia com os olhos cravados nela, desconcertando-a. — Ficaria surpresa com o que poderia aprender. Demi engoliu a seco.
— Vamos, me agrade. — pediu-lhe. Com um suspiro, ela decidiu seguir com o jogo. No momento. Voltou a subir a escada.
— E rápido. — gritou-lhe. Demi virou-se e o fulminou com o olhar. Joe soltou uma sonora gargalhada que tornou impossível não sorrir. Certo, ás vezes, podia ser encantador. "Mas isto é uma loucura", pensou. Por que estava deixando aquele cara lhe dar ordens? Não sabia se era pela curiosidade de descobrir o que tramava, por sua tendência a querer agradar às pessoas, ou, a opção mais patética, a embaraçosa atração que sentia por ele. Em qualquer caso, entrou com toda a pressa na biblioteca, dirigiu-se a sua mesa, agarrou o livro e o abraçou, surpreendida com seu peso. De repente, veio-lhe à cabeça uma ideia inquietante: e se quando saísse ele tivesse ido embora? Não soube por que isso a colocou tão nervosa. O que estava acontecendo? Descartaria todo o assunto como um louco momento próprio de Nova Iorque. Mas assim que saiu, o viu na porta, tinha subido também. Voltou a fixar-se no seu aspecto impecável, do terno sob medida até aos impecáveis sapatos. Em contraste, sentiu-se mal arrumada com sua saia longa e a blusa simples de manga curta que tinha desde o primeiro ano de faculdade.
— Me deixe levar isso — ofereceu Joe Demi deu-lhe o livro. — depois de você — acrescentou mostrando a Quinta Avenida.
Ela desceu as escadas com cautela, com ele atrás. Uma reluzente Mercedes preta os esperava na esquina da Rua Quarenta e um. Joe abriu a porta.
— Aonde vamos? — perguntou Demi, vacilante.
— Para jantar. Não recebeu meu bilhete? — perguntou.
Ela deslizou no assento traseiro e Joe entrou depois.
Ao volante estava um chofer vestido a caráter, que pôs o carro em movimento imediatamente.
— Recebi os outros livros. — comentou Demi. — Os romances.
Joe assentiu.
— Possivelmente descubra o novo Tom Perrotta. Ela o olhou desconfiada.
— Está rindo de mim?
— Não — respondeu sorrindo e negando com a cabeça. – Por que teria que fazê-lo? Alguém vai descobrir o próximo grande escritor. Por que não poderia ser você?
— Não sei — admitiu, sem saber ainda se falava a sério.
O carro avançou devagar pelo intenso tráfego.
— Deixa eu perguntar uma coisa — disse Joe — Por que mudou para Nova Iorque?
— Para trabalhar na biblioteca — respondeu ela com convicção.
— Essa é a única razão?
— Bom, sim — respondeu Demi, duvidando de sua própria resposta. — Quero dizer, não é suficiente?
— Não sei —ele respondeu. Havia um desafio nos seus escuros olhos. — É? Sentiu-se nervosa e, instintivamente, devolveu-lhe a pergunta:
— Bom, e por que você se mudou?
— Eu não me mudei, eu nasci aqui. Mas caso contrário, o teria feito. Isso é certo. E a maioria das pessoas que eu conheço que não nasceu aqui, não é que se mudaram, mas sim veio correndo para conseguir seu objetivo. — Ou possivelmente saíram correndo porque fugiam de algo — comentou Demi, pensando na sua mãe.
Imediatamente, lamentou ter dito isso, mas felizmente ele não a pressionou a respeito.
— Então, alguma vez teve vontade de ser atriz, modelo ou algo assim? Demi cruzou os braços; agora já segura de que estava provocando ela.
— Não, — respondeu com frieza.
— Interessante — comentou. — A maioria das mulheres com seu aspecto o teriam feito. Não posso acreditar quão inconsciente é de sua beleza. Ela sentiu que se ruborizava. Não era que não lhe tivessem feito elogios antes; as pessoas lhe diziam que tinha uns olhos ou um cabelo bonito, e que era "Mona". Ela nunca se preocupou de sua aparência ou seu peso, como muitas de suas amigas, certamente não era uma beleza. Tinha uma altura média o nariz muito grande para seu gosto e o lábio superior muito fino para poder fazer páreo com a sedutora beleza de uma Scarlett Johannson, Kim Kardashian ou Angelina Jolie. Desde então, nunca tinha se sentido objeto de desejo verdadeiro, embora possivelmente, em parte, isso fosse culpa dela, por não acreditar ser digna de semelhante atenção.O trânsito melhorou e passaram junto a Park Avenue como uma nuvem. Em um determinado momento, o chofer virou na Quinta.Deteve-se em frente de um edifício que Demi reconheceu: o hotel Four Seasons, de 52 andares, projetado por I. M. Pei. Conhecia muitos de seus edifícios. Era um dos arquitetos favoritos de seu pai.
Um porteiro do hotel abriu a porta do carro. Joe saiu primeiro e logo estendeu a mão para ajudá-la. Ela vacilou, não sabia se devia dar a mão, mas inclusive com sua instintiva relutância, não podia ter antecipado que seu contato faria um tremor percorrer como uma corrente elétrica. Joe a guiou ao interior do vestíbulo de pedra calcária, inspirado na Art Déco com tetos que deviam ter mais de nove metros de altura. — Espere aqui. — disse ele e deu-lhe uma chave eletrônica. — É do apartamento 2020.Demi ficou olhando o cartão, mas não o pegou.
— Não entendo.
— Não pensou que podia sair para jantar vestida assim, não é? — perguntou.Ela sentiu que o sangue lhe subia à cabeça e não soube se sentia-se mais envergonhada ou ofendida.
— Se não posso ir vestida assim para ir ao restaurante, então possivelmente deveríamos ir a outro lugar.Joe a olhou com uns olhos sérios que mostravam o que Demi estava começando a reconhecer como seu habitual desafio.
— Sério? Pensei que alguém com sua curiosidade intelectual poderia gostar de ver outro aspecto da vida.Demi pensou no sentimento que a tinha atormentado desde que tinha uso da razão: o medo. Medo do que aconteceria se não fizesse o correto, de se arriscar, de chamar atenção. E ao mesmo tempo, o medo de perder as oportunidades, ficando sempre por fora. Agarrou o cartão.

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