terça-feira, 15 de setembro de 2015

Capítulo 10


Capítulo 10
O vigésimo andar estava em silêncio. Demi avançou pelo corredor acarpetado certa de que alguém a deteria e lhe perguntaria o que estava fazendo ali, mas ninguém o fez. Encontrou o quarto 2020 e colocou o cartão na ranhura, enquanto uma parte de si mesma esperava que não abrisse. Mas quando fez pressão no trinco, este se moveu sem problemas sob sua palma. Uma vez dentro, encontrou-se rodeada de tons bege e rosa, madeira clara e mármore. A decoração era sóbria, mas moderna. Esperava que fosse mais opulenta, tendo em conta o vestíbulo, mas se sentiu surpreendentemente cômoda com a relativa normalidade do ambiente. As janelas viradas para sul ofereciam uma impressionante vista da cidade, a vista mais alta que já tinha visto.
— Demi?
Uma mulher apareceu do nada, dando-lhe um susto de morte.
— Assustou-me! — ofegou, quando pôde respirar de novo.
— Sinto muito. Não pretendia fazê-lo — disse a desconhecida, com acento britânico. Usava uns jeans brancos e uma túnica turquesa.
Tinha o cabelo acobreado recolhido em um coque solto e se enfeitava com umas elegantes joias de platina. — Sou Jess. Joe me pediu que viesse se por acaso precisasse ajuda.
— Você... Trabalha para ele?
— Trabalhei com ele. — esclareceu Jess. — Sou estilista e maquiadora. Mas aqui vim como um favor pessoal. Ele pensou que poderia precisar de mim. Demi assentiu, como se tudo aquilo tivesse uma absoluta lógica.
— A roupa para esta noite está no quarto. — indicou-lhe Jess, apontando para direita. — Me avise se quiser algo. E vista tudo o que Joe deixou aí para você. Insistiu muito a respeito. É muito detalhista, como provavelmente já saiba. Não, não sabia, mas estava começando a ter uma ideia. Dirigiu-se ao quarto. Havia duas sacolas de papel e uma capa de tecido sobre a enorme cama. A capa tinha as palavras Miu Miu impressas. Uma das sacolas era rosa com um arco preto e nela se lia: Agent Provocateur. A outra era laranja, da Prada. Conhecia o nome Prada, mas não os outros dois.
Começou pelo conhecido e olhou primeiro dentro da sacola Prada, onde encontrou três caixas de sapatos. Abriu a primeira e encontrou um par de sapatos fechado de salto, bastante conservador, que ela mesma poderia ter escolhido. Só que os saltos mediam dez centímetros e eram de metal. Pareciam mais uma vara ou um prego que parte de um sapato.
— Isto não é um sapato, é um instrumento de tortura. — murmurou e o deixou de lado. Abriu a segunda caixa e encontrou os mesmos sapatos, mas meio número maior. Na terceira encontrou o mesmo. Os primeiros que tinha tirado eram o seu número exato. Isso a irritou mais do que a surpreendeu.
Voltou-se para a capa de tecido, segurou pelo cabide forrado de veludo, com uma mão enquanto baixava o zíper com a outra, perguntando-se o que estaria fazendo Jess no outro aposento e se estaria zangada porque Joe havia pedido que ela fizesse papel de criada. Tudo aquilo era muito embaraçoso. Tirou o cabide da capa e descobriu um simples vestido preto sem mangas, mas de pescoço alto, comprido até o joelho. Parecia algo que Audrey Hepburn poderia ter vestido. Algo que lembrasse Hepburn, tanto Audrey como Katharine, parecia-lhe bem. Esse tinha sido um avanço positivo, depois dos sapatos que poderiam ser usados perfeitamente como uma arma branca. A seguir, pegou a sacola rosa. Teve que revirar um monte de papel de seda dessa mesma cor, para encontrar uns pacotes planos envoltos em papel preto. Com cuidado, desembrulhou o primeiro e descobriu um delicado sutiã tomara que-caia preto. Era caro, não tinha nada a ver com o simples sutiã de algodão da GAP que ela tinha usado toda sua vida. A trabalhada renda com um sistema de minúsculos e elaborados colchetes, o objeto não lhe pareceu nada prático. O colocou de lado e desembrulhou o próximo pacote. Encontrou mais roupa íntima preta, mas não conseguiu identificar o que era. Tinha a forma de um sutiã posto ao contrário e dele dependuravam quatro cintas com ganchos. Era tão desconcertante que o colocou novamente na sacola. Por último, encontrou umas meias pretas, tão finas e sedosas que pareciam uma pluma. Bateram uma vez na porta do quarto.
— Está tudo bem aí dentro? — perguntou Jess.
Demi recordou que Joe estava esperando-a no vestíbulo, assim seria melhor que se apressasse.
— Sim, obrigada — respondeu.
— Lembre que tem que vestir tudo isso. Ela olhou para a exibição de roupas sobre a cama. Aquela misteriosa roupa íntima a encheu de ansiedade e pensou: "Posso partir agora".
Podia passar pela porta, desculpar-se com a ruiva inglesa e dizer que não necessitaria da sua ajuda. Podia deixar a chave eletrônica na recepção e comunicar a Joe que não estava interessada em se passar por Eliza Doolittle para seu Henry Higgins particular.
Então iria para casa, para seu pequeno quarto e... O que? Se perguntaria do que poderiam ter falado durante o jantar? Imaginaria como poderia ter sido vestida como alguém que tivesse saído diretamente das páginas da Vogue? E mais tarde, seis meses ou um ano ou talvez dois, sentaria sozinha naquele mesmo quarto e recordaria o momento em que o homem mais bonito que já tinha visto lhe havia dito que era bonita. "Por que veio a Nova Iorque?"
Demi tirou o misterioso objeto de renda preto da bolsa, aproximou-se da porta do quarto e olhou com cautela.
— Jess, sinto incomodar...
— Estou aqui para ajudar. — interrompeu a ruiva, de bom humor.
— Não sei o que é isto. — Levantou a renda preta como se fosse um animal raivoso.
— É uma cinta-liga. Pode ser complicado colocá-lo. Deixe-me ajuda-la. Não se ofenda, mas certamente para você levaria uma eternidade. Jess provavelmente teria coisas mais importantes para fazer do que 
ajudar a vestir uma mulher adulta como se fosse uma desabrigada pré-escolar. Não sabia se queria abreviar. 
— Ok, obrigada — aceitou Demi e deu um passo paro o lado para que Jess pude se entrar também quarto. Esta cruzou os braços e examinou o desdobramento de roupas sobre a cama.
— Um vestido bonito. E perfeito para você. Joe tem muito bom gosto.
— Mas os sapatos — disse Demi, enquanto os olhava como se fossem o inimigo. — Não serei capaz de caminhar com essas coisas. Acredito que irei com os meus postos.
Jess olhou o calçado da Demi e negou com a cabeça devagar.
— Eu sei que você não o faria. Ela assentiu.
— OK. Suponho que terei que caminhar muito devagar — cedeu.
Jess pareceu visivelmente aliviada.
— Boa ideia. Agora ponha o sutiã e a calcinha. Logo te ajudarei com a cinta-liga e as meias. Demi esperou que saísse do quarto, mas a mulher não fez gesto de dar-lhe qualquer tipo privacidade.
— A verdade é que não estou acostumada a me trocar diante de outras pessoas. — reconheceu timidamente.
— Demi, — respondeu Jess — sou estilista. Vi algumas das mulheres mais famosas do mundo nuas. E Joe está esperando no vestíbulo. Se eu estivesse no seu lugar, me apressaria. Demi se sentiu tola. Aquela mulher só tratava de ajudar e ali estava ela, fazendo um drama de sua presença no quarto.
Tentando não se sentir inibida, tirou o casaco. Jess o pegou e o dobrou. Depois desabotoou a blusa e baixou o zíper da saia e lhe entregou os dois. De repente, sentiu o ar frio e se arrepiou. Notou que os mamilos endureciam sob o sutiã. Não queria tirá-lo, mas o de renda preto estava esperando-a. Levou as mãos até as costas para desabotoar, mas seus dedos se moveram entorpecidos sobre o fecho que tinha aberto e fechado incontáveis vezes.
— Deixa te ajudar. — ofereceu-se Jess e antes que ela pudesse protestar os dedos da mulher lhe roçaram as costas entre as omoplatas e lhe desabotoaram o sutiã. Demi deixou que o simples sutiã de algodão caísse no chão e cobriu os seios cruzando os braços sobre eles. Jess pegou o sutiã preto e encaixou lhe as alças pelos ombros. Depois o fechou.
— Não entendo como pôde saber qual era o número exato. —comentou Demi e sentiu imediatamente que era o sutiã que melhor se ajustava de todos os que já tinha usado.
— Tem bom olho — repetiu Jess e seus olhos verdes brilharam.
Algo no seu tom de voz fez que Demi se perguntasse se ela teria conhecido Joe em outros níveis, além do profissional. — Agora isto. — indicou a mulher, entregando-lhe a calcinha.
Ela as pôs o mais de pressa que pôde e elevou a vista só uma vez para assegurar-se de que Jess não a estivesse olhando. Mas o estava fazendo.
— A cinta-liga — assinalou e lhe estendeu aquele objeto desconcertante. Demi o agarrou e o sustentou com dois dedos.
— Não tenho nem ideia... Jess agarrou a cinta-liga e se colocou diante dela. Primeiro o prendeu ao redor da cintura e logo puxou para baixo até que ficou à altura dos quadris. As quatro cinta ficaram pendurado sobre suas coxas como tentáculos.
— Ponha meias e eu ajeitarei isso. Demi se sentou na cama, muito centrada na tarefa para continuar sentindo-se envergonhada. Pegou as meias com delicadeza e as subiu devagar até as coxas. Quando acabou, ficou em pé. Jess se colocou de joelhos e ajeitou as quatro cintas na beirada das meias, uma na parte da frente e outra na parte detrás de cada coxa.
— Incrível — murmurou quase para si mesmo e logo acrescentou
— Por que não se olha no espelho?
— Não, assim está bem — resistiu Demi, embora sentisse uma secreta curiosidade. Jess lhe estendeu o vestido preto para que o pusesse.
— Dê a volta — disse e lhe subiu o zíper.
— Pronto, acabou — sussurrou Demi.
— Quase — Jess colocou os sapatos na frente e ela os pôs com cautela. Sentiu-se como uma Cinderela de romance. Olhou no espelho e não reconheceu nada do que via do pescoço para abaixo.
— Posso te recomendar algo mais? — perguntou Jess.
— É obvio — respondeu. Jess lhe deu um batom. Era preto com umas letras brancas que punham NARS. Demi o abriu e viu uma barra nova de intenso vermelho fosco.
— Deixou isto para mim também? — perguntou. Jess não respondeu, mas esperou que o aplicasse. Fazia muito tempo que Demi não pintava os lábios, desde seu baile de formatura. Tinha ido com o Robert Wellers, seu coeditor do jornal do instituto. Mais tarde, na festa posterior ao baile na casa de praia da Samantha Sinclair, esperava que Robert a beijasse na escura praia banhada pela luz da lua, mas ele disse que era gay. Demi sentia a mão tremer e custou um momento para acalmá-la o suficiente para poder passar nos lábios. Uma vez que o fez, se surpreendeu ver como o intenso vermelho ressaltava os seus olhos azuis. Sorrindo, saiu do espelho e deu o batom a Jess.
— Pronto — Disse-lhe — Está lindíssima. Agora vá. Joe não é um homem paciente. Demi atravessou o vestíbulo do Four Seasons, vacilante sobre os saltos. Pela primeira vez na sua vida, ficou consciente de que as pessoas ficavam olhando quando passavam ao seu lado. Ao princípio, pensou que era porque caminhava como uma gazela dando seus primeiros passos fora do útero materno. Mas logo viu a expressão de um homem de negócios e identificou algo que nunca tinha visto dirigido para ela: desejo. Desorientada pela atenção dos estranhos, o elegante vestíbulo e aquela roupa, absolutamente familiar para ela, quase chocou contra Joe.
— Oh! Não vi você — disse a ele, estancou.
Os olhos dele percorreram-na dos pés à cabeça. Quando Demi se deu conta de que ele sabia o que levava debaixo do vestido, sentiu que enrubescia de vergonha. Esperou que ele fizesse algum comentário sobre seu traje, mas não disse nada. Limitou-se a avalia-la com um olhar intenso e imperturbável. Em seguida estendeu o braço e agarrou a velha bolsa que tinha pendurado do ombro.
— Isto é horrível.
— Bom, é questão de gostos. E cumpre sua obrigação. Agora que já não carregava a bolsa, voltou a olhá-la e, aparentemente satisfeito, ofereceu-lhe o braço. Demi levantou o olhar para Joe e logo se apoiou nele como se a acompanhasse a um baile de debutantes. Pensava que se dirigiriam ao restaurante do hotel, mas voltou a guia-la para a rua.
— Não vamos jantar aqui?
— Não, — respondeu Joe. — Meu restaurante favorito daqui fechou no começo deste ano, L'Atelier do Joel Robuchon —explicou sorrindo. — Mas não se preocupe esta cidade não tem falta de grandes restaurantes. Abriu-lhe a porta do carro e Demi voltou a entrar no Mercedes, mas desta vez o fez com cuidado, prestando atenção aos sapatos de salto e ao vestido. O carro avançou por Park Avenue e justo quando começava a sentir-se cômoda, detevese na Rua Sessenta e cinco. O chofer rodeou o veículo para abrir a porta e ao sair se encontrou com um lindo edifício neoclássico. Sobre a porta, com letras grandes, dizendo DANIEL. No interior, tudo era arte de mais de cinco metros de altura, balaustradas, arcos e pilastras esculpidas. A arquitetura clássica foi compensada pelo mobiliário moderno e o tratamento com intensas cores neutras, nogueira e creme, compensados pelas cadeiras de jantar vermelhas. Todo o espaço era banhado numa luz quente que vinha dos lustres e castiçais de parede, e Demi pensou que aquele ambiente impressionaria sua mãe. Tudo no restaurante transmitia elegância e agradeceu ter aceitado o pedido de Joe para trocar de roupa. O Maître cumprimentou-o calorosamente.
— O Salão Bellcour está preparado, senhor Jonas. — anunciou o homem. Joe deu-lhe passagem e Demi seguiu o Maître através do salão. Novamente sentiu os olhares sobre ela, e tudo que ela podia fazer era em se concentrar em não tropeçar nos sapatos. Sentia-se como Julia Roberts no Pretty Woman, toda glamorosa com seu vestido vermelho de braços com Richard Gere. Sentiu uma espécie de agitação no estômago, uma felicidade louca. O Maître abriu a porta de um salão privado que caberiam cem pessoas, mas que estava preparado com uma única mesa. Puxou-lhe a cadeira e Demi se sentou com rigidez, enquanto Joe tomava assento em frente a ela.
— Poderíamos jantar lá fora. — comentou com uma risada nervosa. — Aqui há muito espaço. O Sommelier trouxe a lista de vinhos, mas Joe apenas a olhou.
— Tomaremos o cardápio degustação, assim traga algum vinho que seja apropriado — comentou. Em seguida dirigiu a Demi: — O cardápio degustação consta de oito pratos. Espero que não tenha pressa. Ela se limitou a negar com a cabeça enquanto tentava não se deixar levar pelo pânico. Do que falariam durante um jantar de oito pratos? Era tão boa a comida para que alguém quisesse comer tanto?
— Está linda. — disse-lhe Joe. — Esse vestido te cai bem.
— Oh! Obrigada — respondeu, com o olhar fixo na sua taça de água. —Acertou as medidas.
— Passo muito do meu tempo contemplando as mulheres – comentou. Demi ruborizou com tal afirmação, mas logo se deu conta de que devia estar se referindo a sua ocupação de fotógrafo.
O garçom apareceu com o aperitivo. Deixou três pequenos pratos diante deles e anunciou:
— Mosaico de frango e rabanete Daikon, geleia de cogumelos e salada de legumes frescos.
— Obrigada — disse Demi, desejando desesperadamente reconhecer algo do que lhe tinham servido.Então, Joe piscou e o seu estômago encolheu de tal forma que não seria capaz de comer qualquer coisa.
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Mais três capítulos para vocês meninas, vou tentar postar um dia sim e outro não, mas sempre com três capítulos, não deixem de comentar, quero saber o que vocês estão achando, beijos.

2 comentários:

  1. Estou amando a história, Joe é mto sedutor, posta logo

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  2. Ja estou a ver no que vai dar... kkkkk
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    beijokas

    ps: se poderes podes dar uma olhada nos meus blogs... e comentarem

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