sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Capítulo 33


Capítulo 33
A pista de dança — se é que podia chamar assim— era mais como um salão de uma decadente mansão, propriedade de uma família fabulosamente rica de gostos luxuosos e excêntricos. Se tivesse que descrever o ambiente com uma só palavra, poderia definir-se como
"vitoriano", embora esse termo não seria muito preciso. A enorme sala tinha tetos com painéis, bordas vintage, descoloridos tapetes persas, uma enorme lareira e espécimes empalhados; acima de tudo aquilo, pendurava uma gigantesca bola de discoteca. Havia sofás de veludo dourados e marrons, antigas mesas de madeira, cadeiras estofadas de zebra, grandes plantas em vasos de barro, lustres e vitrôs que iam do teto ao chão, cobertos por cortinas de veludo.
E nessa cortina de fundo da descolorida glória cuidadosamente idealizada, homens e mulheres vestidos de gala se relacionavam e dançavam ao som de um DJ que tocava a canção do Edwyne Collins A girl like you. Havia um camarote e Demi teve vontade de subir para ter uma vista panorâmica da sala. Um homem aproximou. Usava um traje de veludo vermelho, o cabelo preto penteado para trás e uma máscara em forma de bico.
— Participarão da caça ao tesouro à meia-noite? — perguntou. — Se lhes interessar, há uma folha de inscrição junto à cabine do DJ.
— Não, obrigado — respondeu Joe. Demi gostava de caça ao tesouro e a ideia de que se fizesse uma a meia-noite, com um disfarce assim, pareceu-lhe fascinante.
— Está seguro de que não quer participar? — perguntou a Joe.
— Sim, é só um exercício par ajudar às pessoas a estabelecer vínculos e que assim possam passar a atividades mais... íntimas ao longo da noite. Nós não necessitamos disso. A imagem de um homem com smoking seguido por outra pessoa a distraiu, era impossível saber se era homem ou mulher, que andava a quatro patas, coberta dos pés a cabeça com um traje preto de látex.
— Como pode alguém respirar com isso? — perguntou, estremecendo-se. Parecia algo pouco natural e incômodo e resultou perturbador a ela. — Estou seguro de que há buracos para o ar. Bom, não estou seguro. O látex não é o meu — ele comentou.
Apesar de que se esforçava ao máximo por não fazê-lo, Demi se encontrou seguindo com o olhar o estranho casal.
— Vamos subir — sugeriu Joe. Ela o seguiu através de uma porta estofada em pele com incrustações de bronze. Pegaram um elevador até o segundo andar e percorreram um estreito corredor revestido de madeira. Como já tinham explicado, todas as portas dos quartos estavam totalmente abertas. Demi olhou para o interior de uma e, imediatamente, desviou a olhar. A porta aberta revelou a uma mulher nua numa cama de solteiro, atada com um elaborado sistema de cordas que a mantinha deitada de barriga para baixo, com as mãos e os pés unidos e uma mordaça na boca. Tinha a bunda coberta de vergões vermelhos.
 — Oh, Meu Deus! — exclamou Demi e agarrou a mão de Joe.
 — Acredita que ela está bem? 
— É obvio que sim — ele asseguro .
— Alguém a deixou aí... — Essa imagem lhe resultou perturbadora, mas pensou que era uma espécie de representação, como uma das fotos bondage do livro de Bettie Page.
— Demi — disse Joe, — tenta lembrar onde está. E, acima de tudo, confia em mim. Cruzaram com outro casal pelo corredor. A mulher ia vestida de branco, com um vestido que chegava até o chão. O homem vestia umas calças de smoking, sem camisa, e um colar de couro preso a uma corrente. Tinha as mãos às costas, claramente atadas, algemadas ou presas de algum modo. Embora os dois usassem máscara, havia algo vagamente familiar neles. Demi teve a clara impressão de que os tinha visto antes, que eram celebridades de algum tipo.
Joe encontrou um quarto livre e indicou que ela entrasse. O quarto era minúsculo, como um camarote de um navio. Tinha uma cama de solteiro, uma televisão de tela plana e uma mesa cheia com uma variedade perturbadora de objetos bondage: chicotes, algemas, mordaças, vendas, caixas de brinquedos sexuais sem abrir e uma bacia cheia de camisinhas. 
— Isto me parece uma má ideia — ela comentou.
— Confia, Demi. Agora tire a saia. Olhou-o, mas seus olhos se viam frios e decididos. Estava em plano autoritário e sabia que não lhe serviria de nada discutir com ele. De todos os modos, não importava tirar a saia de aro, porque ainda levava a outra de seda por baixo. Mas esse seria seu limite, até aí chegaria.
Desabotoou a saia e deu um passo para sair dela. Joe separou o objeto a um lado.
— Ajoelhe na frente da cama — ordenou. Ela fez e Joe tirou a máscara para substitui-la por uma faixa.
O coração de Demi acelerou.
— As mãos nas costas.
Sentiu a corda ao redor dos punhos e ele a apertou com força. Era menos incômodo que as algemas que usava no seu apartamento.
— Levante — ordenou. Ele a ajudou a ficar em pé. — Agora deite na cama de barriga para baixo. — Ajudou a colocar-se na posição, com a cabeça de lado para que pudesse respirar. Então sentiu que ele abaixava o zíper da minissaia de seda.
— Isto não é uma boa ide...
— Não volte a falar até que saiamos deste quarto — ele interrompeu. Joe tirou-a do objeto e ela levantou os quadris, obediente, para deixar que a descesse pelas coxas, os joelhos e os pés. Desse modo, ficou exposta da cintura para baixo. Só com a roupa interior de renda preta. Ouviu os passos de Joe que se afastavam.
— Aonde vai? — perguntou. O chicote lhe respondeu com um estalo de dor nas coxas.
— Disse que não era para você falar. Confie, Demi. Ela se estremeceu de dor e se inundou na fantasia de seus dedos lhe abrindo o sexo, porque só essa doce pressão ou a de sua língua no seu clitóris deteria a dor. Não se ouviram mais sons no quarto. Ouviu pessoas que iam e vinham pelo corredor e se envergonhou ao saber q e apareceriam e a olhariam, igual a ela tinha v o aquela mulher atada no primeiro quarto. Seu único consolo era seu anonimato e que não estava nua. Ainda.
O certo era que não sabia se Joe estava ali esperando antes de lhe tirar mais roupa ou se tinha ido desfrutar da festa no andar de baixo. Teve que fazer uso de toda sua força de vontade para não chama-lo. Começavam a lhe doer os braços e as cordas já lhe cravavam nos pulsos. Deu-se conta de que estava se retorcendo e que doeria menos se ficasse totalmente imóvel. Tentou não deixar se levar pelo pânico. Pensou no que ele não tinha deixado de repetir sobre essa noite: confiança. Não a deixaria ali sem mais nem menos, não durante muito tempo. Podia ouvir a música abaixo. Florence and the Machine. Tentou deixar-se levar por ela, imaginar que estava em outro lugar. Mas todos seus pensamentos se voltavam sexuais. Imaginou que destapava os olhos e o duro membro de Joe estava ali, na beira de seus lábios. Poderia tirar a língua e sentir seu quente sabor salgado, inchado e latejante por ela...
Ouviu uns passos entrando no quarto. O coração acelerou a um ritmo frenético. Desejava chama-lo, dizer seu nome assegurar-se de que era ele, mas sabia que não podia fazê-lo. Então sentiu que umas mãos lhe acariciavam o traseiro, que se moviam levemente sobre a renda das calcinhas. Eram as carícias de Joe? Não sabia e esse pensamento a horrorizou. Então recordou o que ele havia dito momentos antes que entrassem no hotel: "A única coisa que tem que saber desta noite é que ninguém vai tocá-la além de mim".
A lembrança desse comentário foi a única coisa que evitou que gritasse quando a mão subiu entre as pernas, deslizando-se por debaixo da roupa interior e um dedo lhe acariciou levemente os lábios do sexo. O coração pulsava tão depressa que teve medo de deixar de respirar.
“E acima de tudo, confia em mim”. 
"Confia, Demi."

O dedo se inundou no seu interior. Sem dúvida gostou.Entretanto, não havia nada identificável nesse contato. Entrava, saía.
Sua mente se agarrou ao medo de que fosse um desconhecido, mas seu corpo a traiu e se moveu com a mão, ávido por um orgasmo. Embora só pudesse chegar até aí, porque seguiu esperando alguma pista que lhe confirmasse que era Joe. E quando não passou nada nesse sentido, sua mente venceu e seu corpo paralisou.
As carícias se detiveram. Sua roupa interior voltou para seu lugar enquanto lhe palpitavam as vísceras, ávidas de uma satisfação. Teve medo de que aquela pessoa saísse e a deixasse sozinha perguntando-se quem a estava tocando. Não poderia suportá-lo. Mordeu os lábios para evitar chamar Joe.Justamente quando pensou que perderia a cabeça... que romperia o silêncio e mostraria, portanto, uma falta de confiança, sentiu que lhe destapavam os olhos. Abriu e se encontrou com Joe de joelhos junto à cama, olhando-a com olhos calculistas e intensos. Sentiu tal alívio, tal liberação depois da tensão, que começou a chorar.
— Demi, não chore. Eu falei que ninguém a tocaria além de mim.
Não acreditou em mim?
Desatou-lhe os braços e ela se ergueu devagar, enquanto esfregava os pulsos.
— Sim... mas como podia ter certeza? E só de pensar que havia gente que passava... que me olhava.Nesse momento estava sentada e olhava com receio a porta.Joe se levantou e a fechou.
— Teremos problemas — advertiu.
—Chiste... tem que se acalmar — ele disse. Sentou-se a seu lado e a abraçou. — Não pretendia te magoar. Eu gosto de experimentar os limites. Isso... pode unir mais às pessoas. Intensificar as coisas.
— Está bem — admitiu. E o dizia a sério.
— Quer partir? — perguntou.
— Sim — respondeu. E também o dizia a sério.

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