quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Capítulo 36

Capítulo 36 Mini maratona (2/6)
                            
— Esta é uma lista de compras bastante extensa — exclamou Selena, olhando a grande nota rosa que Demi escreveu ao longo dos dias.
Era sábado de manhã e Demi não pôde evitar pensar que fazia só uma semana tinha ido às compras com Joe para o Baile Bondage. Esse tinha sido um dia que começou com uma grande promessa e terminou com ela questionando tudo. Esperava que essas compras lhe dessem as respostas.
Seguiu Selena para o leste, até a rua Christopher.
— É por isso que eu preciso de você, pensei que podia passar horas no Yelp, confiando em estranhos, ou podia recrutar a minha própria guru da moda.
— Sou uma desenhista, não uma Personal Shopper — grunhiu Selena, mas Demi sabia que a fazia feliz de embarcar nesse projeto.
— Espero que possamos encontrar tudo em dois lugares. E você realmente já tem um espartilho e uma cinta-liga?
— Sim — reconheceu Demi, ruborizando-se. Tinha escondido o espartilho no fundo do armário e não o tinha visto desde a noite em que Greta a tinha embutido nele, a noite em que Joe lhe tinha dado o dilatador anal.
A primeira loja se chamava My Cross to Bare, e a vitrine estava cheia de esbeltos manequins de plástico branco vestidos com espartilhos, boinas de couro, botas de plataforma e algemas pendurada nas mãos. Selena tocou um pequeno sino branco e eles abriram a porta. Demi viu algumas vendedoras passando, mas nenhuma parecia ter pressa para ajudar. Provavelmente, supunham que os clientes que iam à loja sabiam o que queriam e como consegui-lo. Selena puxou os cabelos para trás num rabo de cavalo rápido e improvisado, olhou a lista e pôs as mãos nos quadris, como se estivesse se preparando para a batalha. Então começou a percorrer a loja pegando os objetos em questão: umas luvas longas de couro preto e outras brancas; um espartilho de veludo preto com um zíper grande e visível nas costas; um chicote de couro trançado preto e tiras vermelhas e pretas; um chicote longo, espetacular e de aspecto muito pouco prático e uma vara de quarenta e cinco centímetros. Entregou a pilha a Demi. 
— Foi fácil — afirmou. — Agora, pode me dizer o que vai fazer com tudo isto?
— É minha versão de chegar a um acordo com o Joe —respondeu.
— Não entendi — admitiu Selena.
— Sei... é difícil de explicar. Eu mesma estou começando a entender.
Uma vendedora asiática apareceu.
— Precisam de um provador?
— Não, obrigada. Levaremos tudo isso — respondeu Selena, sorrindo para Demi.

                                           ***

Quando Joe abriu a porta de seu apartamento, Demi se deu conta de que pela primeira vez era ela que o surpreendia. Ele sorriu e pegou as duas bolsas esportivas das suas mãos.
— Uma semana sem falar comigo e agora vai se mudar para cá? — brincou, claramente encantado em vê-la.
Ao contrário do outro dia na rua, Demi o olhou imediatamente nos seus olhos e num instante soube que estava fazendo a coisa certa.
Se funcionasse...
— Bom, isso de não falar não me está ajudando exatamente.
Assim decidi testar uma tática diferente.
Sorriu, mas no fundo estava tremendo. E se ele se negasse? E se lhe dissesse que era uma ideia estúpida? E se Joe não pudesse trabalhar desse modo? Ele pegou a sua mão e a levou para a sala de estar.
—E o que teria de ajudar isso de você não falar exatamente? — perguntou, enquanto se sentava a seu lado.
— Se supõe que tinha que me ajudar a pensar, algo que não posso fazer direito quando estou perto de você. Tudo se torna... impreciso. — Inclusive nesse momento, estar perto dele a distraía. Sentiu que se voltava para ele como uma planta que se inclinava para o sol em busca da luz que necessitava para a fotossíntese. — Eu devia ser clara no que queria e o que estou disposta a dar.
— Tenho que admitir, e talvez se deva a minha inexperiência com a intimidade emocional, que faz a sua aparição por muito que me pese, que eu não tenho nem ideia do que está acontecendo.
Demi engoliu em seco.
— Bom, eu acho que, na semana passada, na noite do Hotel Jane, eu disse que precisava mais desta relação, que desejava te conhecer e você ficou furioso porque eu mencionei o que Margaret me havia dito. E talvez isso fosse culpa minha, foi uma maneira desajeitada de iniciar a conversa. Mas então, você deixou claro que não estava interessado em ter uma relação desse tipo. E nós dois pensamos que era o fim. Joe assentiu.
— Mas então...
— Sim, eu sei — interrompeu rapidamente. — Você foi me ver depois do trabalho para tentar falar e eu disse... Bom, não recordo exatamente o que eu disse.
— Deixe-me parafrasear: "Muito pouco e muito tarde" — comentou Joe, mas a olhava com carinho.
—Sim... logo assim. Embora acredite que o que me assustou foi me dar conta de que se você tentou, eu também teria que tentar. E me pediu que posasse para você e isso me obrigou a dizer não, justo quando você estava dizendo que sim ... e me senti encurralada. Ou disposta a deixar que isto fracasse e eu não quero ser quem o estrague. Sentiu os olhos cheios de lágrimas. Piscou rapidamente para contê-las, mas elas escaparam de qualquer maneira. Joe estendeu a mão e enxugou as que caíam pelo seu rosto.
— Não está estragando nada, Demi.
— Talvez "estragar" é uma palavra muito forte. Estou-o limitando.
— Todo mundo tem limites. Não falamos sobre isso desde o começo? Ela assentiu.
Ele a rodeou com um braço e ficaram sentados em silêncio por alguns minutos.
— Demi? — perguntou em voz baixa.
— Sim?
— O que há nas bolsas?
— Ah, sim. Por isso vim. Mudei de opinião, quero que me fotografe. 
Joe a olhou como se esperasse o fim da piada. Então, ao perceber de que ela falava a sério negou com a cabeça devagar. 
— Agradeço esse gesto Demi, mas eu também estive pensando muito desde a nossa última conversa. Recorda o que eu disse sobre o BDSM e a fotografia? O que tinham em comum?
— Acho que sim — respondeu.
— Eu disse a você que não se pode obrigar a ninguém a ser um verdadeiro submisso nem ficar em frente a uma câmera. Os resultados seriam terríveis. Tampouco você pode obrigar a si mesma.
Ela se deu conta de que estava tentando tirá-la do apuro. Poderia voltar atrás nesse momento e poderiam ter uma relação física durante todo o tempo que durasse e isso seria tudo. Não voltaria a lhe perguntar se podia fotografá-la. Era livre para estabelecer seus próprios limites. — Não estou me obrigando. Quero fazê-lo. 
Ele a olhou com ceticismo. 
— Desde quando? Demi se aproximou de uma das bolsas e abriu o zíper. Tirou o livro do Bettie Page e voltou para sofá. 
— Você me deu isto — comentou enquanto o abria. — Sim, eu me lembro.
Virou as páginas até a última parte do livro, para localizar as fotos que gostava.
— Poderia fazer algo assim. Ele pegou o livro e o pôs no colo. Olhou a página, mas negou com a cabeça.
— Não posso copiar o estilo de outro — explicou. — Não é assim que funciona.
— Não me refiro ao estilo da foto. Refiro a como ela está.
— Demi não entendia por que lhe falhavam as palavras. Virou as páginas até a outra parte do livro e lhe mostrou uma foto de Bettie atada a umas vigas de madeira. — Mas estas fotos não. Não quero fazer este tipo de coisas.
— Quer ser dominante nas fotos? — perguntou. Demi assentiu.
Joe pereceu considera- o. — Mas não é assim que te vejo. Não é como é. Não seria autêntico.
— Não é você quem me disse que precisava...? Como o disse... evoluir? — perguntou sorrindo. Joe a olhou sério. Passou um minuto. Ela sustentou o olhar. E depois outro minuto.
— Pensarei nisso — decidiu. — Mas tem que me vender a ideia de que pode projetar esse papel de um modo convincente. Vejamos o que tem nessas bolsas.

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