quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Capítulo 37


Capítulo 37 Mini maratona (3/6)


Um simples giro do pulso poderia fazer a diferença entre golpear a alguém e cortá-lo. Pelo menos, foi isso que disse Joe.
De pé no quarto dele, com as botas pretas altas, o espartilho bem apertado, com as luvas pretas de couro até o cotovelo, Demi sustentava a vara e se sentia poderosa, apesar de que o único que estava açoitando era o travesseiro. Voltou a golpear.
— Não deve dar com a ponta. Se golpear a pessoa só com o extremo, deixará marcas embora não rasgue a pele — continuou Joe.
Estava sentado numa cadeira de respaldo alto do outro lado do quarto, dirigindo-a como o Francis Ford Coppola do sadomasoquismo.
Aproximou-se e pegou a vara.
— É de náilon ou de fibra de vidro? — perguntou.
— Não tenho nem ideia.
— Ok, tenta de novo. Voltou para seu assento.
Demi levantou o braço e golpeou de novo o travesseiro.
— Melhor — disse. — E lembre-se que a força do impacto é determinada pela rapidez com que desce a vara, não quanto músculo aplique.
— Não tinha nem ideia de que seria tão complicado — ela comentou.
— Requer um pouco de esforço e reflexão — explicou sorridente.
— O que? Você pensou que era tudo diversão e jogos para mim?
Demi golpeou o travesseiro uma vez mais.
— Eu não sei se você foi muito precisa com esse, poderia lhe ter dado mais na parte superior das coxas que no bumbum. Tem que olhar isso.
Ela o olhou.
— É um travesseiro. Como posso saber onde está um traseiro imaginário?
— Eu admito, este exercício tem certas limitações. — Ele levantou da cadeira. — Acho que é hora de passar para um palco diferente.
Demi se emocionou. Esperava que a levasse ao Quarto para poder vê-lo pela primeira vez. Mas então ela percebeu que ele tinha as chaves do carro na mão.
— Aonde vamos?
— Faremos uma saída de campo.
                  
                                              ***

Se o clube tinha um nome, Demi não o viu lá fora. Dentro, estava muito escuro para poder ver. Ela havia trocado de roupa e pôs algo mais normal, embora Joe tinha avisado que não estaria vestida por muito tempo. O clube tinha uma rigorosa política de "roupa interior ou menos" e tínhamos que entregar a roupa na entrada.
Demi se mostrou receosa, mas Joe assegurou que, uma vez que estivesse dentro chamaria mais a atenção se fosse vestida que se deixasse levar e passaria desapercebida entre a multidão. Tinha certa lógica, mas ainda tinha um sabor ruim na boca pela aventura no Hotel Jane e não estava pelo trabalho de "deixar-se levar". Entretanto, a mulher da porta, de uns quarenta e cinco anos, não parecia absolutamente intimidadora e quando indicou a Demi que entregasse-lhe a roupa com tanta educação e naturalidade, ela cedeu. Não pôde evitar sorrir ao ver o Joe despindo-se até ficar só com a boxer.
— Não tinha pensando que a política de "roupa interior ou menos" incluiria você também. — comentou.
— Estou pela igualdade, baby — replicou.
Embora a noite tivesse dado uma volta inesperado, realmente já se sentia mais perto dele. E estava impaciente por ficar com a sessão fotográfica antes que a dinâmica entre eles voltasse a trocar para uma incerteza, ou antes, que ela simplesmente perdesse a coragem.
Mas Joe se mantinha firme em que experimentasse o papel que desejava refletir nas fotos. Demi se perguntou quanto tinha vivido realmente Bettie e quanto tinha sido simplesmente interpretação.
— Se desejam alugar chicotes, algemas, varas, máscaras ou qualquer outra coisa, os encontrarão abaixo à direita.
Demi entregou a roupa e a mulher lhe deu um recibo de cartão colorido, como o de um figurino.
— Não tenho nenhum bolso onde guarda-lo — disse para o Joe.
— Pode lembrar o número? 
— Sim. Pegou o cartão e o devolveu à mulher.
— Não nos entretenhamos mais, vamos.
Entregou-lhe a vara.
Pegou a sua mão e desceram uma escada. Aquilo parecia umas masmorras de luxo. A única luz que havia era a dos candelabros e revelava celas, chãos de pedra e arcos de madeira que dividiam os quartos. As peças do mobiliário, de aspecto medieval, serviam claramente como instrumentos de tortura e nas paredes havia cordas, correntes, ganchos e roldanas. Joe estava certo, Demi não sentia que chamasse a atenção em lingerie. As outras pessoas presentes no clube a olhavam com o interesse passageiro de qualquer um que entra num quarto já ocupado ou chega a uma festa que está em pleno apogeu. Joe a guiou pela estadia. Surpreendeu-a ver mais homens que mulheres atadas ou em diversas situações de bondage. Sua relação com Joe a tinha levado a pensar automaticamente nas mulheres no papel de submissas, mas no clube era a minoria.
— Não vai jogar com nenhum homem — advertiu Joe quando passaram junto a dois acorrentados à parede, um de frente e o outro de costas o quarto.
O que estava de frente tinha o pênis metido numa espécie de jaula de metal. Cada um deles estava nas mãos de uma mulher que erguia uma vara e outros instrumentos de castigo.
— Por mim está bem — respondeu Demi rapidamente.
Havia uma mulher com uma lingerie vermelha sentada numa
grande cadeira parecida com um trono. Suas longas pernas estavam vestidas com umas botas de couro vermelha e tinha um homem de bruços no seu colo e com a bunda ao ar. Açoitava-o com uma palmatória e Demi teria jurado que tinha ouvido o homem chama-la "mami".
— Por aqui.
Joe a fez atravessar uma arcada e entrar em outra sala. Viu uma mulher numa paliçada de madeira, com os olhos vendados e nua da cintura para baixo. Ele pareceu contemplá-la durante um momento, mas logo se aproximou de outra deitada de barriga para baixo, nua sobre uma mesa, com os braços e as pernas presos por cintas. A seu lado, um homem lhe dava açoites com a mão. A pálida pele da mulher já mostrava as marcas vermelhas. Joe deteve Demi a poucos metros da mesa.
— Observa — disse em voz baixa, uma vez que a rodeava com o braço.
O homem da mesa voltou a baixar a mão e logo esperou um pouco mais para lhe dar o seguinte golpe. A mulher gemeu, não gritava de dor, mas sim gemia extasiada.
Como se percebesse que tinha público, o homem se voltou para olhá-los. Logo, voltou a centrar a atenção na mulher da mesa e deixou cair a mão sobre a carne com uma palmada que Demi poderia ter ouvido da outra sala. Finalmente, afastou-se.
— Aonde vai? — sussurrou Demi.
— Está nos dando uma oportunidade — respondeu Joe.
— Uma oportunidade para que?
— Para jogar com ela.
Demi arregalou os olhos, em choque.
— Nem pensar.
— Par isso estamos aqui — replicou.
— Pensava que tínhamos vindo para observar.
— Não sei o que te fez pensar isso — disse, lhe entregando a vara.
— Espera aqui um segundo.
Joe se aproximou da mulher e se inclinou para lhe dizer algo. Ela tinha o rosto voltado para o outro lado e Demi não pôde saber do que falavam. Logo, ele se virou para a Demi e indicou que se aproximasse. Ela obedeceu a contra gosto. De perto, as marcas da pele da mulher se viam mais vermelhas. Demi desviou os olhos. 
— Diz que não tem problema que use a vara — informou Joe.
Ela o olhou como se estivesse louco.
— Não vou golpear esta mulher.
— É por isto que está aqui — repôs ele. — E o que é mais importante, é para o que nós estamos aqui. — Acariciou lhe a
cabeça e seu tom mudou. — Ou recebe ela agora ou receberá você mais tarde — Advertiu-lhe. — Na realidade, receberá igualmente. A questão é quanto severo serei.
Demi o olhou nos olhos, aqueles escuros olhos, e sentiu a familiar agitação que se estendia do estômago até a pélvis. Então se deu conta de que não deveria sentir-se mal por golpear à mulher. Provavelmente ela não tivesse um Joe e por isso ia a esse lugar, para sentir as coisas que Demi sabia que só uma pessoa era capaz de dar. Levantou a vara e manteve o braço à altura que Joe lhe tinha ensinado. Indicou o traseiro da mulher, recordando que desse no seu objetivo e não golpeasse a parte posterior das coxas, porque isso seria muito doloroso.
Demi vacilou antes de baixar a vara, mas um rápido olhar para Joe deu a coragem suficiente para fazê-lo. Mordeu o lábio inferior e golpeou o rosado traseiro da mulher.
— Pode fazê-lo mais forte — disse ele. Perguntou-se se o excitava vê-la. E levada pelo novo espírito de sua relação, mais aberta e comunicativa, decidiu perguntar-lhe.
— Isto te excita? Joe negou com a cabeça.
— Não. — aproximou-se mais dela e sussurrou: — Estou recorrendo a todo meu autocontrole para não te vendar os olhos e te atar nesse banco daí. Resistiria, mas te arrancaria as calcinhas e usaria a palmatória para ensinar a estes principiantes como se faz realmente. Isso sim seria excitante para mim. Para Demi o coração começou a bater com força.
— Agora — murmurou, — quero que golpeie esta mulher quatro vezes e logo iremos. Diga-lhe que conte. Perturbada Demi se voltou para a mulher.
— Conta — ordenou-lhe nervosa, tentando manter um tom forte e firme. Olhou para Joe e ele assentiu. Baixou a vara não muito forte, mas sem dúvida com ímpeto.
— Um — gritou a mulher com voz clara. 
Joseph lhe indicou vocalizando: "Mais forte".
Demi fez descer a palmatória mais rápido e seu som ao impactar contra a carne foi quase muito para ela.
— Dois! — gritou a mulher.
Demi continuou. O braço começava a tremer.
— Faça-a gozar — disse-lhe Joe.
Ela o olhou desconcertada. Golpeou-a com mais força. A mulher gemeu levemente, não tão forte como o tinha feito com o predecessor da Demi, mas mesmo assim já era algo.
— Três — prosseguiu a mulher, com a voz levemente mais tensa.
Demi voltou a golpeá-la, dessa vez com uma força que surpreendeu a ela mesma. Esta respondeu com um grito extasiado e logo clamou com voz grossa:
— Quatro.
Joe pegou a vara e a fez subir a escada.
                                              ***

Lá fora começava-se a notar o ar mais frio. Demi, aliviada por voltar a estar vestida, perguntou-se se tinha deixado para atrás a parte mais dura da noite ou isso ainda ia acontecer.
Alegrava-se de que Joe a tivesse levado ao clube, de que lhe tivesse deixado que experimentasse por si mesma o que era segurar a vara. Pareceu-lhe assombroso não ter sentido a mínima excitação na posição de poder. Deu-se conta de que a dinâmica sexual entre Joe e ela não era algo que aceitava para agradá-lo, a não ser uma coisa verdadeiramente ajustada a seus gostos.
É obvio o intenso prazer que sentia com isso já deveria ter deixado claro. Mas até que não se pôs a outra posição não tinha podido estar certa. Agora depois de ter visto quem não era tinha uma maior consciência de seu eu sexual. E inclusive, embora resultasse ilógico, saber que não era uma dominadora fazia que a sessão fotográfica resultasse mais fácil, porque revelaria pouco de si mesma nas imagens; estaria interpretando um papel. Sua própria sexualidade seguiria sendo um delicioso segredo entre Joe e ela, e ninguém mais.
Só esperava que ele pudesse retratar à dominadora de um modo convincente. Sentia um novo respeito por Bettie Page.
Joe pegou o telefone.
— Jess — disse. — Preciso que me faça um favor. Pode estar em minha casa em vinte minutos? Demi e eu necessitamos do seu talento.Ela o olhou com curiosidade, mas ele se limitou a piscar um olho.

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