sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Capítulo 43 Penúltimo


Capítulo 43 Penúltimo 


 Demi tinha passado na frente do Front Page Books, na esquina da rua quarta oeste uma infinidade de vezes e sabia que era uma das poucas livrarias independentes que ficavam em Manhattan. Nessa manhã, no seu caminho de volta a seu partamento, depois e passar quatro noites seguidas no do Joe, viu na vitrine um anúncio dos candidatos para o prêmio de ficção dos Young Lions, que incluía um dos títulos que ela tinha recomendado como finalista. Sentiu
que se tratava de um sinal e abriu a porta de vidro fazendo soar uma campainha. Um grande gato malhado laranja veio correndo e rodeou os pés. Demi se inclinou e acariciou a cabeça suavemente. O gato se esfregou contra suas pernas com a cauda erguida.
— Merlín, vem aqui — uma mulher o chamou atrás do balcão.
Usava uma camiseta e jeans e várias joias turquesa. Parecia jovem, não mais de trinta anos, embora tinha o cabelo quase cinza. — Sinto muito — disse para Demi. — Não sei o que lhe deu ultimamente. Depois de dez anos, de repente, saúda todos os clientes e nem todos desejam acrescentar esse complemento em particular a sua experiência de compras.
Ela veio e pegou o animal no colo, que ronronava com força.
— Posso te ajudar em alguma coisa? — perguntou, quase como se acabasse ocorre-lo.
Demi não sabia por que tinha entrado na loja, mas assim que a mulher perguntou se podia ajuda-la, a resposta foi óbvia.
— Perguntava-me se teria alguma vaga disponível.
— Possivelmente — respondeu a outra.— Tem experiência?
— Sou bibliotecária — afirmou Demi e gostou de dizê-lo.
— Oh, nossas pobres e atribuladas bibliotecas! — lamentou a mulher. — O que vamos fazer com todos esses cortes no financiamento? Sem bibliotecas não há livrarias. A história verá isto como a decadência de nossa civilização. Dizem que se julga a uma cultura por sua arte, não por sua política. Ou algo assim.
— Vi anúncio dos candidatos ao prêmio de ficção dos Young Lions na vitrine.
Não mencionou que tinha formado parte do comitê de seleção.
— Como se chama? — perguntou a mulher.
— Demetria— respondeu.
— Deixe-me o seu número de telefone, Demetria — pediu-lhe.
— Ligarei depois que eu tiver falado com meu sócio. Ou melhor ainda...
Deixou o Merlín no chão e retornou ao balcão. Indicou a Demi que a seguisse. Investigou numa gaveta e deu-lhe um cartão.
— Sou Lucy — disse. — Me envie por email o seu currículo.
— Genial — exclamou ela, tentando conter a excitação. —Farei isto. Obrigada!
Já na rua, voltou rapidamente para o seu apartamento. Só que tinha passado um tempo em casa durante as últimas duas semanas, mas tinha decidido que esse dia seria um dia de procurar emprego a sério e sentiu que Front Page Books era um começo prometedor.
Enviaria seu currículo para Lucy e se parecia um pouco ansiosa ao enviá-lo cinco minutos depois de seu encontro, que o parecesse. Sentia falta dos livros e desejava encontrar seu lugar entre eles. Como tinha tentado explicar ao Joe, isso não era só o que precisava, era o que desejava profundamente.
Subiu a escada esperando que Selena estivesse em casa. Não tinha falado com ela há dias.
— Oi, desaparecida — saudou a garota quando ela entrou no apartamento.
Sentiu uma pontada de culpa, porque Selena tinha mandado uma mensagem na noite anterior dizendo que a ligasse o mais rápido possível e Demi, que estava no cinema om Joe quan o o recebeu, esqueceu de lhe responder mais tarde.
— Olá — disse. — Sinto não ter respondido ontem à noite a sua mensagem. Estava no cinema e logo...
— Não continue — interrompeu Selena agitando a mão. — Só posso imaginar como são as coisas no ninho de amor do Joe. A propósito, sua mãe ligou umas vinte vezes.
Ela suspirou. Tinha evitando falar com sua mãe desde que a tinham despedido. Se lhe dissesse que não tinha trabalho, a campanha para fazê-la voltar para casa seria dolorosa e implacável.
— Sinto muito — desculpou-se.
— Sério dê a essa mulher seu número de celular ou eu o farei! — ameaçou-a Selena, movendo o dedo num gesto de fingido aviso.
E foi então que Demi se fixou no grande diamante que brilhava no dedo anelar da mão esquerda de sua companheira.
— Oh, meu Deus! — exclamou, atravessando a sala com alguns passos rápidos e agarrava a mão do Selena. — É isto o que eu acho que é?
A garota assentiu, sorrindo de orelha a orelha.
— Pediu-me ontem à noite. Por isso te mandei a mensagem.
Demi a puxou para levantá-la e a abraçou.
— Felicidades — disse e sentiu que enchiam os olhos de lágrimas de felicidade por sua companheira de apartamento.
Embora em seguida se sentiu envergonhada pelo pensamento tão egoísta que lhe cruzou a mente: nesses momentos não só não tinha trabalho, mas também provavelmente estava a ponto de ficar também sem casa. Soou telefone e soltou Selena para tirá-lo da bolsa.
— Me perdoa — se desculpou, — um segundo. Alo?
— Onde você está? — perguntou Joe. Soava levemente ansioso.
— Em meu apartamento. Por que?
— Pegue um táxi e se encontre comigo na Sessenta e seis com a Madison.
— Agora? Acabo de chegar — replicou, enquanto entrava no seu quarto e fechava a porta. Tirou o notebook. — E tenho que enviar um currículo...
— Não vai demorar muito. E depois te levarei de volta a seu apartamento se quiser.
— O que há na Sessenta e seis com a Madison?
— A boutique Gaultier.
Meneou a cabeça.
— E por que eu vou me encontrar com você na boutique Gaultier? — Porque acabo de encontrar o vestido perfeito para você — respondeu ele, como se fosse a resposta mais óbvia no mundo.
— Joe, não preciso de um vestido Gaultier. — Mesmo ela, apesar de sua total ignorância sobre moda, conhecia o Jean-Paul Gaultier e seus desenhos provocativos. Se não por outra coisa, por ser o desenhista da excursão da Madonna, a Loira Ambição, dos anos noventa.
— É obvio que precisa — repôs Joe— . O que vais vestir para a festa de gala dos Young Lions?
Demi afastou o telefone do ouvido e lançou um desgostado olhar que teria dirigido a le se tivesse estado e pé em frente dela. Logo voltou a aproxima-lhe. 
— Despediram-me, recorda?
— E? Mesmo assim virá como minha acompanhante, não? Agora coloca seu bumbum num táxi. Suspeito que a única coisa que pode ser mais sexy que você nua será você com este vestido.
Demi sorriu.
— Ok. Espere aí. Irei o mais rápido possível.
Desligou. E logo abriu o notebook para enviar o currículo.

                                                ***

Não era tanto um vestido como uma criação, um vestido de baile de fina renda preta até o chão. Com o pescoço fechado e pequenas mangas curtas, flertava com o conservadorismo, enquanto o corpo do vestido se ajustava como uma segunda pele terminando numa cascata de delicado renda a seus pés
— Super, ultra sexy não é? — perguntou o vendedor, um cara preto muito magro, chamado Marcel.
Usava o cabelo muito curto descolorido, quase branco, e os olhos delineados. Demi, com um interesse recém-descoberto pela maquiagem da sessão fotográfica, resistiu ao impulso de perguntar pela marca de seu lápis de olhos.
— Muito sexy — assentiu Joe.
Ela se olhou no espelho e não pôde estar mais de acordo. O vestido era assombroso e sentia como se estivesse sido feito para ela. Só havia um problema.
— É muito... isto... muito transparente — comentou, afirmando o óbvio.
— Poderia forrá-lo — comentou Marcel devagar. Entretanto, pela rápida careta de seus lábios deixou claro que o considerava um sacrilégio. — Embora quando o senhor Gaultier o mostrou na passarela, desejou ressaltar a transparência da renda.
Agarrou uma grande pasta com três argolas e a abriu numa página marcada, para mostrar uma foto do vestido no desfile de moda de outono do Gaultier. A modelo o usava com um sutiã e uma tanga vermelha por baixo.
— Oh, isso não vai acontecer — previu Demi. — Vamos a um evento social na biblioteca — assinalou deliberadamente olhando para Joe, como se este o tivesse esquecido.
Marcel assentiu, mais pormenorizado agora que via que a reticência da Demi se devia mais à ocasião que a incompetência no vestido.
— Se quer manter o look sem ser muito arriscada, pode usar um sutiã de meia taça e um calções de renda. Pode usa-lo em vermelho ou, se realmente quer ir pelo seguro, em preto.
Na insistência do Joe de que usasse sempre lingerie, e sua dedicação a proporcionar-lhe, Demi dispunha de um enorme sortido entre o que escolher. Poderia encontrar praticamente qualquer cor para por debaixo do vestido na sua coleção pessoal.
— Vermelhos — afirmou Joe sorridente.
— Pretos — replicou Demi, cruzando os braços.
Ele olhou para o Marcel.
— Arrematado.
                                             ***

Caminharam pela avenida Madison de mãos dadas. Passaram junto ao Barneys, Calvin Klein e Tod'S. Demi colocou bem a bolsa do Gaultier sobre o ombro. — Poderia ter comprado o vestido sem me fazer vir — comentou. Joe a olhou como se tivesse feito uma sugestão terrível.
— Sem que você o provasse primeiro?
— Isso não acostumava te deter antes — replicou ela.
— Está certo, aí me pegou. Só queria uma desculpa para ver você.
— Mas se sai do seu apartamento esta manhã!
— Exatamente — afirmou ele. — Transcorreu muito tempo.
Demi sorriu e negou com a cabeça. As mulheres que passavam olhavam para Joe e em seguida para ela. Demi nunca sabia se as pessoas o reconhecia pelas revistas e pelos sites de fofoca ou se simplesmente o consideravam bonito, talvez a imagem de duas pessoas loucamente apaixonadas bastava para chamar a atenção.
— Você tem certeza que é boa ideia que vá à festa de gala?— perguntou. — Blanda vai estar feito uma fera.
— A verdade é que não poderia me importar menos com o que Blanda pense e tampouco deveria importar a você. O único motivo pelo que não disse a ela exatamente o que penso sobre demitir você, é porque me implorou que não o fizesse.
— Eu me sentiria desconfortável— insistiu.
Joe se deteve e a olhou.
— Não será assim. Você tem tanto direito a estar alí como qualquer outro. Trabalhou nesse prêmio e deveria vive-lo. Demi sabia que tinha razão, não deveria importar o que Blanda pensasse. Já não trabalhava para ela. Aparecer na festa de gala poderia ser a melhor forma de deixar esse episódio para trás.
— Por outro lado — continuou Joe enquanto rodeava o rosto com as mãos e a beijava na boca. — Eu tenho que ir. Apresentarei o primeiro colocado.E se eu for, e você vai quero que esteja a meu lado.Sempre.
Aprofundou o beijo e Demi encostou seu corpo ao dele. Então soube exatamente por que as pessoas ficavam olhando.

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