quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Capítulo 12


Deus, mande um raio agora, por favor. Se não me matar, morrerei de vergonha de qualquer maneira. Me trucide!
Estou com as pálpebras cerradas no nível máximo, mas sinto milhões de olhos sobre mim, queimando-me. A cabeça lateja, insistentemente, e eu só penso em sumir daqui, evaporar.
Ouço a comoção, cadeiras sendo arrastadas, meu pai tocando meu braço, verificando minha cabeça. Eu quero saltar no tempo, por favor. Talvez ele não tenha visto, é provável que Joseph nem esteja mais no restaurante. A quem estou querendo enganar?
Arrisco e abro os olhos, vagarosamente.

Merda!

Joseph está aqui, ao meu lado. Quando finalmente sustento os olhos abertos, ele pergunta se estou bem. Não respondo, a voz simplesmente não sai. Ele não questiona. Puxa algo do bolso do jaleco branco e leva luz para dentro dos meus olhos envergonhados. Checa as pupilas e eu prendo a respiração.

— Pensei que a era de desastres havia terminado. – meu pai me auxilia e ergo o tronco. – Mas veja pelo lado positivo: você continua cabeça dura. Só ganhou um galo gigantesco.

— Tô enjoada. – é a única coisa que sai da minha boca.

— Vamos fazer um raio-x, por garantia. – a voz de Joseph me atira de volta ao passado. – Eu sabia que nosso encontro seria explosivo, mas nunca pensei em algo desse tipo, Demetria. – ele está rindo e eu continuo querendo morrer.

— Olá para você também, Joseph. – rosno e com ajuda do meu velho, estou de pé. Cambaleio e adivinhe só onde vou parar? Com a cara enfiada naquele peito malhado e cheiroso! Ah, Deus, socorro.

— Ei, calma lá. – Joseph me ampara e por alguns segundos nossos olhares se cruzam.

Caramba, quando Espírito disse que ele havia mudado muito, eu não esperava por isso. Absolutamente ultrajante.
Como um cara franzino e quatro olhos pode ter se transformado nessa bomba de formas e músculos bem torneados? Não é possível, tenho vontade de esfregar os olhos, como se assim pudesse enxergar outra realidade.
Um tanto ressentida – o porquê disso eu ainda não sei – tenho que encarar os fatos, por mais absurdos que se apresentem.Forte, alto, largo, cheiroso, rosto angelical com a barba dourada por fazer, lábios fartos que seduzem como milk shake no deserto, olhos grandes, esverdeados, vibrantes, sem os tais óculos… ele está gostoso ao extremo!

Não, mil vezes não!

Aquelas mãos enormes tocam meus braços e eu quero correr, mas meus pés estão grudados no chão. Minha voz sai trêmula quando eu o afasto, dizendo:

— Eu estou bem, não foi nada.

— Acho que deve dar uma olhada nisso. – meu pai aponta para a minha cabeça pulsante. – Joseph, poderia acompanhá-la? Eu tenho uma reunião importante com o pessoal do convênio, preciso estar no centro em quinze minutos.

O quê????????? Não me deixe sozinha com ele!

— Já disse que estou bem. – bufo, exasperada.

— Não me contrarie, Demetria. O médico aqui sou eu. – meu pai decreta e não estou a fim de entrar num embate desnecessário.

— Que saco! – reviro os olhos e entrego os pontos.

— Ótimo. – meu velho dá um beijo estalado em meu rosto e checa minhas pupilas uma última vez.

– Qualquer coisa, estou no celular.
                                              ≈≈≈

Isso não pode estar acontecendo.

Vestido todo de branco, com uma camiseta ajustada ao tórax, que deixa entrever somente o necessário para loucas fantasias noturnas, Joseph segue ao meu lado, guiando-me pelos corredores de médicos, enfermeiras e pacientes.
Eu queria dizer milhões de coisas, mas nada de útil me vem à cabeça. Aliás, Melhor eu ficar calada ou é bem provável que eu confunda as palavras e revele o quanto estou aflita com essa aproximação.
Ele cumprimenta as pessoas conforme vamos passando e fico aliviada por não conseguirmos engatar qualquer conversa que seja. Talvez alguém lá em cima esteja complacente com a minha desgraça, amenizando a carga.

Mas isso não dura tempo o bastante.

O operador da máquina de raio-x ainda está em horário de almoço. A sala está vazia, com cheiro de limpeza e um silêncio constrangedor. Joseph diz alguma coisa sobre pegar um avental de chumbo e eu apenas meneio a cabeça, em concordância.

— A mudança é definitiva? Quando seu pai me contou, resisti a acreditar. – e meu velho se mostra um tremendo fofoqueiro.

— A princípio sim. – dou de ombros, como se estar sozinha com ele não fosse nada demais. – Isso é mesmo necessário? – questiono, apontando para a máquina. Ele não responde e continua a conversa:

— O que houve, Demi? – Joseph prende aquele troço pesado sobre meus ombros. – Pensei que estivesse feliz em São Paulo, soube que tinha sido promovida a Diretora de Criação. – ele faz uma pausa curta. – Não era o que queria?

— Joe, não estou a fim de falar sobre isso. – digo, injuriada.

— Desculpe.

Droga, fui ríspida e sem qualquer razão.

— Olhe, talvez um dia eu conte o que houve por lá. A princípio, quero esquecer, se é que você me entende.

— Perfeitamente. – ele umedece os lábios de forma sedutora e sério, acho que meu ar está tóxico. O corpo amolece, as pálpebras estremecem, mordo o canto da boca com desejo. Minha nossa, estou perdendo a sanidade.

Joseph aponta para a maca gélida e asséptica. Tiro as sapatilhas e me deito, ajeitando a barra da saia. Em outras épocas, esse “ajeitando a saia” seria para revelar as pernas e não o contrário. Mas não sou mais tão biscate assim.
Enquanto ele mexe com destreza no equipamento, rememoro o que houve no passado para culminarmos nesse momento. Ele, noivo da minha arqui-inimiga e eu, sozinha, jogada às traças.
Minha história com Joseph é complicada, como tudo na minha vida. O primeiro beijo eu já contei, agora a primeira transa realmente foi hilária. Mas nesse momento, melhor me ater aos fatos com roupas.
Eramos muito jovens e eu não estava a fim de compromisso. Joseph era um ficante sério, quase um namorado. Estávamos apaixonados e eu não dava o braço a torcer.
Os anos passaram e num belo dia, ele chegou com uma aliança de compromisso e um pedido sincero de namoro. Caí do salto, chocada. Não esperava por isso, achei que ele tinha entendido o meu lado.
Hoje, numa autoanálise tosca da minha personalidade, posso afirmar com cem por cento de certeza que fiquei com medo desse envolvimento mais profundo. E outra: eu tinha passado na USP em São Paulo e nem cogitava a possibilidade de um namoro à distância. Queria curtir a vida e viver intensamente. E aquela aliança representava uma prisão, um elo que eu não queria sustentar de jeito algum. Obviamente a briga foi feia e naquela noite, saí para a balada com algumas amigas.
Papo vai, cerveja vem, e eu acabei fazendo a maior burrada da minha vida. Fiquei com o Melhor amigo dele, o galinha mais cobiçado do pedaço. Sempre houve certa atração entre nós e, naquele dia, estávamos travados de tão bêbados. Não pensei nas consequências quando me atirei de cabeça nos braços do Guilherme. E foi aí que minha história com galinhas filhos da mãe começou. Estou pagando o erro do meu passado, atraindo só tipos como esse para a minha vida. Mas poxa, já não paguei com juros e correção monetária?
Enfim, a vadia da Samantha viu a cena e correu para contar ao Joseph. Ele chegou na balada armado apenas com suas mãos grandes e seu corpo franzino. O olhar de ódio dele nunca me saiu da cabeça.
Não fiquei para ver a briga, mas me disseram que o Joseph arrebentou a cara do melhor amigo. Quanto a mim, fui atrás daquela pilantra da Samantha e destruí seu nariz empinado com um soco que me quebrou dois ossos da mão.
Depois disso, nunca mais me encontrei com Joseph… até o dia de hoje.

 

3 comentários:

  1. Eu to jogada estirada no chao
    Meu Deus ela desmaiou quando viu ele kkkkk to rindo
    Tadinha
    Ela deve ta mt arrependida do q fez ele todo gostosao ai cassete
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    Xoxo

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    1. Amanhã tem capítulo e domingo o bônus,sempre às 13:00

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