domingo, 20 de dezembro de 2015

Capítulo 14 Bônus


Estou terminando de arrumar a zona do meu quarto com a ajuda da vovó. Ela organizou todas as minhas caixas de sapato por modelo e cor. Respiro em alívio quando chegamos ao fim. Após um banho rápido e uma maquiagem básica, troco de roupa, optando por um vestido descolado. Lanço um olhar triste para minhas caixas de sapato. Suspiro alto e entro em pânico:

— Droga, não tenho nenhuma rasteira legal para combinar.

— Como assim? – minha avó se sobressalta. – Demetria, pelo amor de Deus, minha filha!

— É sério, preciso comprar uma rasteira nova. – lastimo.

— Sabe o que Freud diria nessa situação? – ela não espera minha resposta. – Ele falaria, com todas as letras, que essa sua fixação por sapatos nada mais é do que o seu eu tentando fincar os pés na realidade, buscando se fixar neste planeta, manter o equilíbrio.

— Uau, agora você foi profunda.

— Querida, o que está acontecendo com você? – ela me encara, naquela profundidade astuta de quem já viveu de tudo. – Encontrou-se com o Joseph, não foi?

— Até você, vó! – revolto-me. – Caramba, eu sou tão transparente assim?

Ela me dá uma olhada de cima a baixo e então, um sorriso brinca em seus lábios rosáceos:

— Está mesmo precisando de um solzinho. Você está muito branca, Demi, transparente é pouco.

— Vó! – como ficar brava com essa pessoa?

— Minha linda, com relação ao Joseph, só joguei um verde e estou colhendo bem maduro. Esse reencontro não saiu como você esperava? – ela suspira, de forma apaixonada. – Ai, ele está tão bonitão, não é mesmo?

— Valeu hein, vó. – balanço a cabeça, inconformada.

Puxo a primeira caixa de sapatos que vejo, bem no alto de uma das pilhas. Essa rasteira branca terá que servir. Deslizo os pés para dentro das tiras e dou uma olhada no espelho de corpo inteiro.

Combinei uma balada leve com o Espírito após o jantar. Segundo ele, é um barzinho pequeno, bucólico, aconchegante, com som ao vivo e uma batida de maracujá dos deuses.

— Volto cedo, beleza? – dou um beijo na testa suada da vovó.

— Demetria, tente relaxar, está bem? Você é muito nova para esse estresse todo, parece que está a ponto de explodir. E tenho medo que nessa explosão, você acabe se machucando e aos que estão à sua volta.

— Sábio conselho, vó. – meus lábios desenham a linha de um sorriso. – Obrigada.
                                               ≈≈≈

A baladinha se mostra mais agradável do que o esperado. O bar está cheio, a banda toca um rock nacional de qualidade e a companhia não poderia ser melhor. Adoro conversar com Espírito. Sem trocadilhos, ele pega o espírito da coisa e consegue elevar qualquer astral pisoteado. Meu amigo tem uma aura poderosa, que abraça qualquer um que se aproxime.
Essa batida de maracujá é das alturas, tanto que já estou acima do teor alcoólico recomendado. O riso é frouxo e agora engatamos uma conversa nada a ver, falando sobre a mudança de consciência da humanidade e o fim do mundo maia que deixou a desejar em 2012.

Espírito é todo ligado nessa coisa de misticismo e eu sempre evitei o assunto a todo custo. Também pudera, qualquer aroma de incenso ou penduricalhos esotéricos lembravam a minha mãe. A paranoia passou, mas ainda há um resquício de raiva bem guardado no fundo do meu eu.

— Vamos dançar. – ele empurra a cadeira e se levanta, estendendo-me a mão.

E você que está lendo isso, não se espante. Espírito é gay.

— Sabe que não sei dançar e vou pisar no seu pé.

— Ah, vamos nos divertir, Demetria!

— Certo, mas eu avisei.

O rock nacional dá lugar ao forró e odeio esse ritmo com todas as minhas forças. Felizmente, com álcool na cabeça, tudo é lindo. Nesse caso, atrelo-me a Espírito, ali na calçada mesmo, e começamos a dançar como boa parte dos casais. Massacro seus pés e ele apenas ri, como se estivesse blindado. Para a sorte do meu amigo, não estou de salto.

Três músicas depois e estamos suados, cansados e rindo sem controle. Um tanto cambaleantes, voltamos à mesa, pedindo agora uma rodada de caipirinhas com pinga.

— Droga, Demi. – Espírito baixa a cabeça e franze os lábios. – Não olhe para trás.

— O que foi? – exalto-me.

— Prometa não olhar.

— É ele, não é? – fecho os olhos, maldizendo minha sorte.

— Merda, ele me viu. – Espírito começa a narrar a aproximação. – Está vindo para cá e prepare-se porque ele não está sozinho.

— Que saco! Ela não estava num congresso?

— Congressos não duram a vida toda, Demetria. – Espírito se levanta, alegremente. – Ei, Joe!Como está, cara?

— E aí, meu amigo? Tudo bem com você?

Minha garganta se fecha e viro o restante da caipirinha numa golada só. Meus ossos estão congelados e minhas extremidades esquentam de nervoso. Tem algo dentro do meu estômago, se remexendo. Não são borboletas, está mais para um bando de morcegos vampiros. Não sei se ele havia me visto, mas agora que seus olhos esverdeados estão sobre mim, noto certo desconforto. Não me mexo, nem penso em levantar daqui. Do jeito que estou, é bem capaz que eu caia de cara no chão. Divertido, não?
Cumprimento Joseph com um aceno de cabeça e ele faz o mesmo. Então, desvio o olhar para aquela baranga agarrada ao braço dele. E não é que a cirurgia plástica ficou excelente? Como assim a filha da mãe ficou mais bonita? Eu me odeio!
Samantha está alta, usando saltos impossíveis para Paraty. Seus anos de balé lhe conferem aquela postura ereta, clássica, digna das divas. Os cabelos estão hiper compridos, castanhos e ondulados nas pontas. Os olhos cor de mel se fixam na minha pessoa e estou morrendo de vontade de falar um tremendo palavrão.

— Como vai, Demetria? Há quanto tempo, não? – a voz dela perfura os meus tímpanos.

— Como está, Samantha? – entro no jogo e lanço meu melhor sorriso falso.

— Soube que veio para ficar, é verdade?

— Tudo é possível. – tento cortar o papo, mas ela continua:

— Nesse caso, mandarei um convite para a pousada. – ela checa as unhas cor de fogo e estreita os olhos na minha direção. – Joe e eu nos casaremos dentro de algumas semanas e adoraríamos a sua presença.

Puta que pariu!

E não é que a provocação da biscate funciona? O chão acaba de sumir debaixo dos meus pés. Meus olhos correm para Espírito e noto que meu amigo está tão abismado quanto eu. Joseph limpa a garganta e o momento tenso se desfaz, como que por encanto.

— Se eu ainda estiver por aqui, será um prazer. – forço-me a responder.

— Ótimo! – ela se agarra mais firme ao braço de Joseph, desferindo-lhe um selinho no canto dos lábios. – Vamos, querido?

Um tanto embaraçado, Joseph alisa a franja para trás, de maneira nervosa. Seus olhos se atiram dentro dos meus por poucos segundos e é o que basta para me deixar em chamas. A mimada cutuca sua barriga e ele parece acordar de um sonho particular, apressando-se em se despedir:

— Nos vemos por aí, até mais.

2 comentários:

  1. Eu to urrando"Joe e eu nos casaremos dentro de algumas semanas e adoraríamos a sua presença" meu Deus ela quer provocar nao e msm? Quer saber se a Demi sente algo por ele,e o melhor jeito e convidando
    Quero mt mt mais ta mt perfeito
    Demi tem q pegar alguem nessa balada
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    Xoxo

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  2. Eu queria fazer uma maratona,mas meu notebook quebrou hoje,porem tem capítulo terça às 13:00

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