sábado, 26 de dezembro de 2015

Capítulo 22


— Alô? – minha voz ecoa pelas sombras. – Alguém está aí? Aí? Aí? Aí?

— Demetria? – nesse momento, as sombras se dissipam e me vejo num lugar confuso, onde as leis da física não se aplicam. – Demetria, é você?

Reconheço a voz e a pessoa vestida de branco, sentada na posição de lótus, flutuando sobre uma nuvem cheia de imagens desconexas.

— Mãe? – ok, estou em choque.

— Demetria! O que está fazendo no Astral, minha filha?

— Como assim? – indago unindo as sobrancelhas numa gigante interrogação.

— Onde você estava antes de chegar aqui? – ela questiona, visivelmente abalada.

Preciso pensar sobre isso. Onde eu estava mesmo?

— Acho que estava surfando. – afirmo, sem muita convicção.

— Como disse? – ela se mostra perturbada. – Ah, minha nossa! Você deve estar se afogando!

— O quê? Não, não é possível. – uma pausa tensa. – Você está querendo dizer que estou morta?

— Ainda não. – ela vasculha ao redor. – Onde está seu mentor espiritual?

— Quem? – meu tom de estranheza se eleva alguns decibéis.

— Droga! Do jeito que conheço você, ele deve estar tirando um cochilo. – ela parece transtornada. – Demetria volte já para o seu corpo!

— E como faço isso?

— Escorregue para a Terra, agora! – ela ordena, como se fosse algo simples, tipo estalar os dedos.

— Me mostre o escorregador que eu vou. – olho em volta. – Aliás, nem estou a fim de ficar por aqui mesmo. Baita lugar esquisito esse Astral. – resmungo.

— Estava surfando sozinha? – ela se aproxima e toca meus ombros, chacoalhando-me. – Quem estava com você, Demetria?

— Eu não sei. – meus pensamentos estão bagunçados, nebulosos. – Acho que o Joseph estava lá.

— Graças a Deus! – ela une as mãos em agradecimento. – Espero que ele seja rápido.

— Mãe, estamos mesmo conversando ou tudo isso é fruto da minha imaginação fértil? – indago, temerosa com a resposta.

— Vou dar duas horas para você se recuperar. E então ligarei no seu celular.

Nesse ponto, a imagem da minha mãe começa a se distanciar, distanciar, distanciar… saio daquele mundo esquisito e começo a cair. Caindo, caindo, caindo. E então, baque!

Ouço gritos.

Massagem cardíaca.

Lábios contra os meus.

O uivo feroz do vento.

O barulho das ondas quebrando.

Gotas gélidas de água caindo sobre a pele.

— Anda, Demetria, reage! – reconheço a voz de Joe.

Sinto suas mãos pressionando meu peito, uma, duas, três vezes. Seus lábios se colam nos meus e seu ar invade meus pulmões. Nesse ponto, meu corpo estremece e inicia uma batalha pela sobrevivência. Ergo o tronco subitamente e um jato d’água sai pela minha boca sem controle. Perco o ar. Começo a tossir desenfreadamente. Noto que não estamos sozinhos, um bando de surfistas se amontoa ao nosso redor. O oxigênio entra aos poucos e sinto os pulmões queimarem a cada inspiração. Cuspo mais água salgada. Estou asfixiando o ar não é suficiente. Sem parar para pensar, Joseph me pega nos braços e começa a correr pela praia num desespero que me assombra. 


                                                ≈≈≈

É óbvio que eu não iria morrer nessa altura do campeonato. Vaso ruim não quebra, como costuma dizer o meu avô. Mas nunca passei por algo assim a tênue linha entre a vida e a morte quase se quebrou. Quase. Lembro-me de parte do trajeto até Paraty.

Alguém assumiu o volante do carro de Joseph e minha cabeça se aconchegou em seu colo. Como todo bom médico, ele carrega no porta-malas uma infinidade de apetrechos, inclusive um balão de ar portátil, desses que precisam ser bombeados manualmente. E foi isso que ele colocou sobre meu rosto.

Lembro que perguntei sobre a minha prancha. Notei que Joseph se segurou para não me xingar. Com toda a paciência do mundo, ele desviou o olhar e disse:

— Quebrou-se ao meio. – houve uma pausa para respirar. – O que me causa alívio, já que você não fará outra idiotice tão cedo.

Não me lembro de mais nada, acho que apaguei.
                                                ≈≈≈

Estou medicada e já não preciso mais do balão de oxigênio. Abro os olhos e tento sorrir quando vejo meu pai e meus avós ao lado da cama na emergência do hospital. Aturdida descubro que minha mãe realmente ligou no celular após duas horas exatas do nosso encontro extracorporal.

Sinistro.

Nem sinal do Joe. Procuro com os olhos, mas realmente ele não está ali. E por que estaria?

— Não vou brigar com você Demetria. – meu pai toca meus cabelos alisando-os para trás. Seu tom é gentil e me acalma. – Aliás, quero pedir perdão por minhas últimas atitudes. – seus olhos estão marejados e a culpa me assola. – Eu não suportaria perder você.

— Pai, me desculpe. – minha garganta arde e a voz está rouca.

— Me perdoe filha. – ele se inclina e beija minha testa.

Minha avó chora, copiosamente. Segura firme a minha mão, como se assim pudesse evitar que eu volte a cometer outra imprudência. Já meu avô, suspira profundamente massageando meus pés.
Nesse segundo, a verdade cai sobre mim como um meteoro mortal. Sempre estivesse cercada de amor, mas buscava o que não estava ao meu alcance. A separação dos meus pais e a fuga da minha mãe mexeram comigo em níveis profundos deturpando por completo minha visão da vida.Caramba, está tudo tão claro agora.

— Terei que ficar aqui? – pergunto com a voz entrecortada.

— Ficará em observação até amanhã. – meu velho elucida. – E não se preocupe com o seu carro, já mandei buscá-lo.

— Obrigada pai. – minhas pálpebras pesam e eu adormeço.
                                         ≈≈≈

Acordo e pareço estar chapada. Há fios e canos por todos os lados. Estou ligada num monitor cardíaco e o barulho da máquina é infernal. Demoro um pouco para enxergar algo além de vultos e sombras. Quando giro o pescoço dou de cara com Joseph. Sentado numa cadeira desconfortável, percebo que velava o meu sono. Não demora muito e está de pé verificando meu pulso, as pupilas e os medicamentos que caem em gotas. Nunca vi um médico passar a noite ao lado de seu paciente, mas enfim… — Durma um pouco mais, ainda é madrugada. – ele aconselha.

— Você me tirou da água não foi? – tento rememorar os últimos acontecimentos.

— Foi por um triz, Demi. – ele revela e franze os lábios. – Se eu tivesse demorado um pouco mais… – a frase se finda antes da conclusão do pensamento.

— Fui presunçosa, me desculpe. Eu deveria ter escutado você.

— Pense antes de tomar decisões como as de hoje. Não brinque com a sua vida e das pessoas que a amam dessa forma irresponsável. – ele umedece aqueles lábios fartos e me lança um olhar triste.

Nesse instante, uma enfermeira chega sem aviso e sussurra algo no ouvido de Joseph. Ele meneia a cabeça e diz que já está a caminho.

— O que houve? – questiono.

— Alguém enfiou uma Barbie onde não deveria. – há um sorriso incrédulo em seu rosto. – Isso é o que dá pegar plantão.

— Uma Barbie? – seguro o riso. – Ok, boa sorte com o parto.




2 comentários:

  1. SCOORR Q LINDOOS AMEEI
    Gente o Joe ainda gosta dela obvio,acaba com o noivado logo menino,mas com calma
    Eu to amando meu Deus ta mt perfeita quero mais sim queroo
    Posta Logo pfvr
    Xoxo

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  2. Feliz Natal..... Atrasado
    Eu tô amando a fic
    Posta mais!!!!

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