domingo, 27 de dezembro de 2015

Capítulo 23 BÔNUS


Acabo de receber alta e não vejo Joseph em lugar algum. Caminho lentamente pelos corredores do hospital amparada por meus avós. Meu velho segue logo atrás, acalmando minha mãe do outro lado da linha. Trocamos algumas palavras e o sermão foi inevitável. Quem ela pensa que é para esse tipo de repreensão? O caso foi que escutei seu discurso de mãe zelosa, caladinha. Não estava a fim de brigar, estou sem energia até para respirar. As portas se abrem e saímos para o clima pós-chuva. Há um aroma delicioso no ar e o sol desponta através de grossas nuvens. Chegando no estacionamento, levo um tremendo susto.

Joseph está cabisbaixo e Samantha gesticula nervosamente. Pela cena fica claro que estão tendo uma briga daquelas. Mas como a mimada faz o tipo bem educada, não eleva o tom de voz e portanto, não consigo escutar o que diz, entre caras e bocas de dar medo.

Ela me vê e imediatamente se atira nos braços de Joe, desferindo-lhe um beijo que rouba o pouco de ar que tenho. Meu peito arde, infeliz. Vovó é a única que percebe o que está havendo e toca meu ombro como se sentisse a minha dor. Lanço-lhe um sorriso angustiado em resposta. Ela balança a cabeça, como quem entende. E então abre a porta do carro e eu entro, sem olhar para trás.

                                                  ≈≈≈

Dias se passaram e Nauane chegará amanhã. Ai, nem acredito! Estou precisando desabafar cara a cara e esse Skype me irrita profundamente. Não vi Joseph desde aquela cena no estacionamento. Após muito me questionar, acredito que ocasionei aquela briga sou a responsável pelo abalo sísmico. Mas estamos falando da Samantha, então, que se dane.

Caminho a esmo pelas ruas estreitas do Centro Histórico. Vejo uma rasteira linda, leve e solta na vitrine de uma loja. Aproximo-me babando. Eu preciso experimentar essa preciosidade necessita que eu a compre, agora.

— Você deveria ter morrido naquela manhã. – ouço uma voz macabra às minhas costas. Não me viro. Através do reflexo da vitrine vejo de quem se trata.

— Ficaria em paz se isso acontecesse? – pergunto, estreitando os olhos perigosamente. Ela que não se atreva a dar mais um passo na minha direção.

— Sei o que está tentando fazer Demetria. Mas não pense que Joseph cairá no seu jogo.

— Não jogo pelas costas Samantha. – atiro entredentes.

E então ela finca as unhas no meu braço e giro nos calcanhares numa fúria crescente. Tento manter o controle, não quero me arrepender mais tarde. Mas bem que essa baranga merecia uns bons socos!

— Fique longe do Joseph. Aquele homem é meu, está me entendendo? Se eu souber que você cruzou o caminho dele novamente, eu…

— Você o quê? – estufo o peito e encaro a mimada.

— Não queira descobrir. – dito isso, ela me dá as costas e de forma sobrenatural, caminha sobre saltos impossíveis no calçamento pé-de-moleque.
                                              ≈≈≈

Nem a rasteira dourada, novinha e brilhante, curou o meu ódio. Caminho em círculos pela cozinha da pousada, deixando Espírito maluco. Eu deveria ter furado os olhos dela, dado um soco naquela mandíbula pronunciada ou talvez, quebrado novamente aquele nariz empinado e bem feitinho.

— De certa forma, ela tem razão Demi.

— Oi????????????

— Você tem cruzado com o Joseph nas situações mais escabrosas possíveis. Quem vê de fora diz com toda a certeza que você está perseguindo o cara. – Espírito argumenta e eu explodo:

— Mas eu não estou perseguindo ninguém!

— Eu sei disso, mas se coloque no lugar da Samantha. – ele pondera.

— Nem ferrando! – cruzo os braços e me deixo cair sobre uma cadeira.

Espírito volta para as panelas, checando o ponto do molho pesto. Deixa uma gota cair na palma de sua mão e experimenta. Continuo ali, parada, com um tremendo bico.

— Eles são felizes? – pergunto, com medo de ouvir a resposta.

— Ela é apaixonada pelo Joe desde criança, você sabe disso.

— Não foi o que perguntei. – retruco.

— Olhe, eu não posso afirmar nada. – ele suspira. – Mas sem a Samantha, o Joseph teria caído numa espiral descendente. Ela foi como um porto seguro, aliás, foi bem mais do que isso. Sua arqui-inimiga o incentivou a viajar para Londres e estudar.

— Com o risco de perdê-lo para uma inglesa? – pergunto, incrédula.

— Viu? Ela não é tão ruim assim. – Espírito me lança uma piscadela e volta sua atenção para as panelas.
                                             ≈≈≈

O restante do meu dia foi uma merda. Caí de uma escada de alumínio de três degraus, escorreguei no piso molhado e dei com a bunda no chão, a bateria do Lúcifer morreu de vez, queimei a língua com o chá, engasguei com catchup e para fechar com chave de ouro acabo de tomar um choque no chuveiro.

Vá ter má sorte assim lá no inferno!

O clima está ameno e nada de chuva. Desisto do banho e enfio uma bermuda ciclista, um top branco e uma camiseta regata por cima. Calço o par de tênis e oro para que não tropece em meus próprios pés na corrida noturna. Saio pelo estacionamento e sigo por uma rua lateral. Ando por ruas esburacadas pela ação da chuva e atravesso a pequena ponte um tanto apreensiva. Com a baita sorte de hoje, é bem capaz do negócio desabar sob meu peso. Respiro aliviada quando chego do outro lado. O que se descortina a minha frente é uma rua larga, plana, perfeita para correr até cair morta.

Alongo os braços e pernas, o suficiente para não sofrer um estiramento. Inicio uma caminhada rápida e alguns metros mais tarde, começo a correr. Meus cabelos se agitam para trás e o coração trabalha apressado. Gotículas de suor se formam em minha testa, caindo sobre os olhos. Aumento a velocidade, trincando os dentes. Estou com muita raiva e não sei bem o porquê.

Checo o relógio de pulso e pelos cálculos, corri por três quilômetros e não aguento mais. Ofegante, diminuo o passo, contando os batimentos cardíacos. Apesar do afogamento, ainda tenho fôlego.

Uma voz masculina e juvenil surge às minhas costas.

— Bacana esse tênis aí.

Caraca, só me faltava mais essa para o dia ser perfeito. Verifico ao redor e os poucos transeuntes não percebem – ou não estão a fim de perceber – a situação crítica na qual me encontro.

— Pois é. E bem confortável também. – giro para encarar o moleque.

— Passa pra cá. – ele gesticula com uma das mãos.

— Está me zoando não é? – recuo um passo. – Se soubesse a merda de dia que tive, não pediria algo assim.

— Ah qual é. – ele joga as mãos para o ar, no maior jeito de malandro. – Você tem cara de ser endinheirada, amanhã comprará um novinho. Passa logo esse tênis aí e fica tudo certo.

— Já ouviu falar em trabalho? – questiono.

— Estou perdendo a minha paciência é sério, você não quer que isso aconteça. – ele tira do bolso da bermuda um canivete suíço. Agora sim o garoto conseguiu o meu respeito e atenção.

— Não acredito nisso. – cerro os punhos e já estou a ponto de me abaixar e tirar o par de tênis.

Mas então, alguém surge às minhas costas.

— Dê o fora. – nem preciso olhar para saber de quem se trata.

— Não sem antes pegar o que é meu. – o moleque sustenta o canivete em frente ao corpo, numa atitude agressiva.

— Nesse caso... – Joseph dá alguns passos a frente e desarma o garoto com uma facilidade surpreendente. O bandidinho caí ao chão e se arrasta para longe dele. – Suma daqui. – ele brada e eu acho isso tão romântico!

O moleque se levanta, cambaleante. Dispara a correr para bem longe de nós. Estou petrificada e boquiaberta, buscando entender o que acaba de acontecer. Joseph gira para me fitar, jogando o canivete para cima, como se fosse uma bolinha de tênis.

— Como fez aquilo? – indago, chocada.

— Aikidô. – ele sorri lateralmente.

— Eu não sabia que lutava. – comento, absorta naquele canivete que sobe e desce, sobe e desce.

— Eu tinha que descarregar a raiva em algum lugar. – a revelação me pega de surpresa.

— Ah. – e então, reassumo o controle da minha mente e atiro: – Olhe, é melhor parar de me salvar ou é bem capaz da sua noiva mandar me matar.

— O que disse? – ele fecha os dedos em torno da arma branca.

— Não é nada. – apresso-me em consertar o estrago da minha colocação. – O que está fazendo aqui afinal?

— Eu corro por aqui sempre que tenho tempo. – ele revela. – Mas não fuja do assunto Demetria. Por acaso a Samantha foi procurá-la?

— Talvez. – cruzo os braços, na defensiva. – Escute, esse garoto pode voltar com a gangue, não é melhor saírmos daqui?

Ele leva as mãos aos bolsos da bermuda, guardando o canivete. Concorda com a cabeça e retomamos o caminho que nos levará ao Centro Histórico. Apesar de suado, Joseph emana um delicioso aroma de orvalho e por um instante, eu adoraria me enfiar em seu pescoço para inspirá-lo até gastar.

— O que ela disse à você? – ele cutuca.

— Nada demais. A mimada foi até educada. – ironizo. – Olhe, sei o que parece, mas não estou perseguindo você, acredita em mim?

— Sei que não estou sendo perseguido Demetria. – seu tom é irritadiço. – Samantha não tinha o direito…

Não deixo que ele finalize.

— Eu teria feito a mesma coisa Joe. Relaxe.

— Teria? – ele parece surpreso.

— Ah sim. – um silêncio agradável paira sobre nós. Ouço apenas o pio das corujas e o barulho das solas sobre a terra batida. Quando estou à vontade, lanço a pergunta: – Paraty é uma cidade pequena, mas estamos nos cruzando demais, não acha?

— Já se perguntou o por quê disso? – sinto seu olhar sobre mim e evito encará-lo.

— Acha que existe um porquê?

Joseph não responde. O silêncio agora é desconfortável, inquietante. Uma tensão se instala na boca do meu estômago e torço para que cheguemos logo à ponte.

2 comentários:

  1. Se eu fosse a Demi teria dado uns tapas e jogados algumas verdades na cara da Samantha,mas por um lado ela ta certa,mas nao tinha o direito de tirar satisfacao com a Demi ela tem q confiar no taco dela
    "Ja se perguntou o porque disso?" PORQUE PAROU AI? isso nao e justo gente,nao e eu quero continuacao,quero beijo respiro isso
    ta perfeito eu to amando mt jesus
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    Xoxo

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  2. pq vc parou ai?????
    nao é justo.....
    posta mais!!!!

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