sábado, 2 de janeiro de 2016

Capítulo 26



Minha história com a Samantha é de longa data. Estudávamos no mesmo colégio com a diferença de um ano. Ela estava na classe do Joseph e como toda garota intragável, ele era o único gente boa que conseguia aturá-la. Obviamente, ficaram amigos.

O Joe se dava com qualquer pessoa, independente de raça, credo ou cor. Talvez seja o seu carisma natural, porventura as pessoas percebam que ele realmente se importa. Não sei dizer o que é. Mas ele tem essa aura, essa coisa que nos atrai e a empatia é imediata.

Meus avós e os do Joseph sempre foram muito amigos e desde pequenos, brincávamos juntos. Vez ou outra ele trazia a Samantha, mas eu não suportava a garota mimada e de nariz empinado. Com minha personalidade explosiva, não tolerava seus mandos e desmandos. Quando crianças, as brincadeiras sempre terminavam em mordidas ou puxões de cabelo. Conforme crescíamos, começamos a sair no tapa. Até que meu avô achou por bem não me deixar mais brincar com aquela mala. Obrigada, vovô.

A Samantha vivia dizendo que Joseph era seu namorado. Acho que eles tinham uns oito ou nove anos naquela época. Ele apenas ria, mas eu não achava a menor graça. Lembro que uma vez, acredito que eu tinha uns dez anos, a peguei pelo colarinho engomado e apertei sua garganta, dizendo:

— Pare de se gabar. Ele nunca será seu namorado.

— Você está com inveja. – ela rebateu, furiosa.

— Nem estou. E quer saber? Quem vai se casar com ele sou eu.

Mas o problema entre nós não se restringia apenas ao Joseph. Ela me odiava e a recíproca é verdadeira até hoje. Eu bem que tentei ser legal, afinal, ela era amiga do meu melhor amigo. Mas não dava, era impossível, meu santo nunca bateu com o dela.

Ela aprontou muito comigo no colégio, num bullying descarado. Por sorte, seu único amigo era o Joe e sendo assim, eu revidava com a ajuda da turma toda. Fui cruel algumas vezes, mas ela mereceu. Sempre merecia.

Os anos passaram e ela acabou fazendo novas amizades. As garotas eram como ela, ou seja, um bando de pés no saco. Achei bom aquilo ter acontecido, só assim ela desgrudou do calcanhar do Joseph.

No dia daquele luau, incitada pelas amigas patricinhas, ela tentou agarrá-lo. Rememoro que assistia a cena ao longe e tinha certeza de que ele a afastaria. Dito e feito. Samantha chorou horrores quando soube que aquele primeiro beijo tinha sido meu… um tanto aos tropeços, é verdade, mas foi meu.

O ódio dela se tornou mortal quando Joseph passou do status de melhor amigo para meu ficante sério. Ela vivia chorando pelos cantos, numa tristeza que chegou a me dar pena. Mas logo ela se recuperou e sempre que tinha a chance, dava um jeito de me ferrar, como na história com o Guilherme.

Melar esse casamento seria uma cartada master, um tapa na cara que a derrubaria para sempre. Mas o que vou ganhar com isso? Epa, espere aí! Eu tenho muito a ganhar. E o prêmio será o meu homem perfeito!

                                                ≈≈≈

— Ok, Nanie, qual é o seu plano?

— Finalmente tomou juízo nessa cabeça. – ela me dá um beijo na testa. – Realmente eu tenho um plano. E dos bons. Pronta para ouvir?

— Desembucha logo que estou com comichão.

Jogadas em minha cama, ela desembesta a falar enquanto anoto as ideias quentes. Nesse momento, sei que o que sinto por Joseph não é apenas ciúmes do seu relacionamento com minha arqui-inimiga. É amor, sempre foi.

Quando ela termina de narrar os detalhes sórdidos, nós nos encaramos e caímos na gargalhada.

Joseph não terá a menor chance e esse noivado, está com os dias contados.
                                              ≈≈≈

Estou pronta para o primeiro ataque, vestida para matar… de amor, claro. Estou usando um vestido branco, semitransparente, hipercurto com um bolero por cima. Cai uma chuva medonha do lado de fora e Nanie bate palmas, entusiasmada com a colaboração da mãe natureza.

Mas não é só a chuva que está colaborando com seu plano. Guilherme acaba de ligar dizendo que Joseph está em casa, sozinho. Segundo ele, a vagaba está de plantão no hospital.

Nauane me estende a caixinha preta forrada de cetim. Abro-a e sinto uma tristeza me inundar. Aquela aliança de compromisso, que deveria ter marcado o início da minha vida adulta, carrega o significado do fim de um relacionamento.

Eu tinha merda na cabeça, só pode!

— Que bom que guardou essa aliança. – ela ajeita uma mecha teimosa do meu cabelo. – É a desculpa perfeita para procurá-lo.

— Será que os fins justificam os meios? Me sinto uma vadia usando algo tão importante para ferrar com esse noivado. Posso desistir? – suspiro, incerta.

— Se você desistir, garanto que se arrependerá pelo resto da vida por não ter ao menos tentado.

— Não seria mais fácil chegar e dizer o que sinto? – questiono, ainda indecisa.

— Você fará isso hoje mesmo, caso ele dê abertura. Pronta para conquistar sua felicidade eterna?

— Pronta.

— Certo. Borrife um perfume nesse pescoço e vamos lá.
                                            ≈≈≈

Nauane estaciona seu Peugeot a uma distância segura. Desliga os faróis e a chuva continua torrencial. Seguro a caixinha preta entre as mãos trêmulas. Estou ansiosa e hesito.

— Nanie, eu não tenho certeza sobre isso.

— Quer mesmo desistir? – ela liga a iluminação interna e me encara. – Se eles se casarem, terá que conviver com isso.

Atento-me aos meus pensamentos oscilantes. Meu olhar vagueia pela avenida à beira-mar, sem qualquer movimento além da ação dos ventos que surgem de vários cantos. Nanie aguarda, pacientemente. Sei que ela acatará minha decisão, qualquer que seja.

— Certo, eu irei. Mas veja bem, não vou seduzi-lo conforme o plano.

— Com esse vestido, nem precisará se esforçar. – ela cai na gargalhada e acabo sorrindo também, um tanto receosa.

— Sabe o que parece? Que estou trapaceando. – comento, olhando para a caixinha.

— Não vejo dessa forma, juro mesmo. – Nanie aponta para a casa do Joseph. – A luz da sala está acesa, aproveite o momento e faça como combinamos: toque a campainha e dê as costas, fingindo que desistiu.

— Todo esse teatro é mesmo necessário?

— Ok, faça o que achar melhor. Mas vá! – ela se joga sobre mim e abre a porta do carona. – Ande Demetria.

— Não vá embora. – peço, encarecidamente.

— Vou esperar por uns vinte minutos. Se você não voltar, irei saltitante de volta para a pousada.
                                               ≈≈≈

Desço do carro, agoniada. Meus passos são vacilantes e imprecisos. Não preciso de muito tempo debaixo dessa chuva para o vestido colar-se ao corpo, ensopado. Ainda não acredito que concordei com isso.

A casa do Joseph se parece com o reduto de alguém que curte a vida na praia, numa mescla interessante de simplicidade e reaproveitamento de materiais. A fachada é larga e há uma garagem com lugar para três carros. Reconheço sua Pajero e a moto é novidade para mim.

Segundo Espírito, ele construiu essa casa tão logo voltou à Paraty, há dois anos. Há muita madeira, tijolos de demolição e imensas janelas de vidro fumê. Não sei o que se passa lá dentro, mas tenho certeza de que ele sabe o que acontece do lado de fora.

Aproximo-me do sobrado, tremendo de frio e talvez, covardia. Não há portões e o acesso é fácil até entrada principal. Estufo o peito, empino o nariz, encolho a barriga e encaro meu destino.

Subo quatro degraus e estou debaixo de uma cobertura transparente. A porta de entrada é lindíssima, em madeira que se abre em duas folhas e tenho a impressão de que foi completamente restaurada.

A campainha soa alta aos ouvidos. Conto até três e viro as costas, doida para sair correndo, entrar no carro da Nanie e me mandar daqui. Ainda não sei se felizmente ou infelizmente, mas não chego ao último degrau.




2 comentários:

  1. posta mais um hj poor favoor!
    posta logo!!!

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  2. Gente q babado
    Eu to amando mt tenho certeza q o Joe vai pirar com essa roupa da Demi quero sexoooo sim
    Ta mt perfeiitaa
    Feliz ano novo amor tudo de bom pra vc,q esse ano vc poste mais e mais fics pq eu to amando mt
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    Xoxo

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