domingo, 3 de janeiro de 2016

Capitulo 27 BÔNUS



— Demetria? – sua voz acima da chuva é um bálsamo e em contrapartida, um martírio. Não me viro para encará-lo, ainda estou decidindo o que fazer. – Demi, você está ensopada, o que houve? – ouço sua aproximação, sinto calafrios quando suas mãos tocam meus braços cobertos pelo bolero.

— Desculpe, Joe. Eu… eu não deveria ter vindo. – saio pela chuva, mas não vou muito longe.

Logo ele pega minha mão, girando-me para encará-lo.

Acho que terei uma síncope. Joseph está apenas de bermuda, com o peitoral malhado desnudo.

E depois a trapaceira sou eu?

— Vamos entrar, vai pegar um resfriado ou coisa pior. – gotas de água deslizam por seus cabelos, molhando o rosto angelical, descendo entre os pelos dourados do tórax. Arquejo, buscando o controle a qualquer custo. – Onde está o seu carro? – ele procura pela avenida, mas o carro da Nanie não está visível.

— A Nauane me deixou aqui. – digo, cabisbaixa. – Olhe, não foi uma boa ideia. Pode chamar um táxi?

— Você não está mais em São Paulo Demetria. – ele elucida o óbvio. – Entre, troque essa roupa molhada e eu a levo para a pousada.

                                         ≈≈≈

Uau. A sala principal não é suntuosa, está mais para aquele tipo que abraça, sem intenção de soltar. Noto influências femininas na decoração, apesar disso, não vejo a mão de Samantha por aqui. É provável que Joseph tenha contratado alguém com experiência, ainda assim, existem objetos intimistas, bem pessoais.

Há uma cozinha gourmet, super bem equipada, numa mescla interessante de aço inox de última geração e móveis mais rústicos e requintados. Hoje em dia, o rústico é chiquérrimo.

Bem no meio da sala, há uma escada em madeira, num design charmoso que divide o ambiente. Na parte superior, vejo um mezanino incrível, que sustenta um escritório e uma estante gigantesca, repleta de livros. Vovô ficaria de queixo caído.

Estou molhando o piso de cedro e não estou nada à vontade com a situação. Joseph percebe meu embaraço e toma minha mão, dizendo que me levará ao quarto.

Ah, Nauane ficaria bem satisfeita com esse convite.

Recuso, afinal, não quero sair pingando por toda a casa. Peço uma toalha e ele se apressa. Enquanto isso, absorvo o ambiente, cada detalhe daquele refúgio que reflete parte da personalidade de Joseph.

A toalha chega e ele está ofegante.

— Tire esse casaco. – obedeço, descalçando também a rasteira dourada que era nova e agora, está imprestável.

Ele abre a toalha, colocando-a sobre meus ombros, ficando próximo o bastante para exalar seu delicioso aroma em minhas narinas. Ai, Deus, socorro!

— Precisa tirar esse vestido. – hum, Nanie surtaria nesse exato segundo.

— Não há necessidade Joe.

— Não foi um pedido, é uma ordem médica. – nesse caso, acato, seguindo-o escada acima.

Caramba, a casa é imensa. Passamos pelo mezanino e entramos num largo corredor, repleto de quadros e fotos. Não me atento a nenhuma imagem em especial, apesar da curiosidade estar me corroendo.

— Por aqui. – ele abre uma porta e atravesso o umbral.

Droga, esse é o quarto dele.

Joseph abre as portas do guarda-roupas, tirando de lá camisetas e shorts que talvez sirvam. Digo que não quero incomodar, mas ele finje não escutar meus lamentos, vestindo uma camisa polo, cobrindo aquele pedaço de mau caminho.

— Algo aqui deve servir. – ele aponta para as roupas sobre a cama box, que está divinamente arrumada sobre um tablado de madeira rente ao chão. Dá um ar oriental ao quarto, aliás, vejo alguns objetos decorativos que me remetem de imediato ao Japão.

— Obrigada, Joe.

— Estarei lá embaixo, preparando algo quente para você.

— Não precisa, de verdade. – seguro seu braço antes que se vá. Um grande erro. Sou arremessada ao passado, num turbilhão de acontecimentos trágicos. Não posso nem pensar em devolver essa aliança, será doloroso demais para mim.

Noto que Joseph se segura como pode. Solto seu braço e me afasto. Ele retoma o controle da respiração e desvia o olhar, saindo do quarto cabisbaixo.

O que estou fazendo? Por que estou me prestando a isso? Olho minha imagem refletida num espelho de corpo inteiro e tenho vontade de me socar com força. Não posso brincar com os sentimentos desse homem. Não que eu esteja me divertindo, não é isso. Mas a forma como vim parar aqui, nesse quarto, não foi das mais verdadeiras.

Tiro o vestido que se prende ao meu corpo de forma indecente. Visto uma camiseta branca e um short preto, desses com cordão na cintura. Apesar de grande, ajeita-se aos quadris e a camiseta tapa as bordas da calcinha.

Olho-me mais uma vez no espelho. Começo a sentir raiva de mim, do que estava a ponto de fazer. Não tenho esse direito, perdi Joseph naquela balada quando me atirei nos braços de seu melhor amigo. Não sou digna desse homem e ponto final.

Seco os olhos marejados e embrulho a caixinha preta no vestido úmido. Conto até dez para me acalmar, mas o efeito é contrário. Numa tensão descontrolada, deixo o quarto de Joe, a caminho do andar de baixo.

Ele me aguarda na cozinha, sentado sobre um banco alto forrado em couro caramelo. Aponta para uma caneca fumegante e pelo aroma, chuto ser chá de camomila. Acho que leu meus pensamentos, tomara que essa erva me nocauteie.

— Ficou bem em você. – ele parece estar se divertindo com meu visual.

— Sei que sim. – ironizo. – E obrigada pelo chá.

— Disponha. – após um silêncio esmagador, ele indaga: – O que veio fazer aqui, Demi?

— Sei lá  Joe. – dou de ombros, bebericando da caneca. – Quer saber, não sei o que deu na minha cabeça. Mas você me conhece, sou impulsiva e um tanto maluca.

— Dois traços de personalidade que me fizeram gamar em você. – ele revela e eu engasgo.

Recuperada do choque e acho que ruborizada, deixo a caneca sobre o balcão de madeira. Abraço o vestido molhado contra o peito e tenho que sair já daqui ou não respondo por meus atos.

— Poderia me levar para casa? Eu até iria caminhando, mas essa chuva está pesada.

— Eu vi a caixinha quando você chegou, Demetria.

— Que caixinha? – tropeço nas palavras.

— Essa aí embrulhada no seu vestido. – ele aponta e eu empalideço. – Veio para me devolver, é isso?

Aturdida com a pergunta, não respondo de imediato. Ele me fita num ar melancólico que me deixa apreensiva. Essa conversa está tomando rumos indefinidos, começo a ficar com medo do que virá a seguir.

— Naquele dia, eu a forcei a ficar com a aliança. Sentiu-se na obrigação de guardar? Achei que já tivesse se desfeito dela.

— Nunca. – nem penso para responder.

— Nunca? – ele ergue as sobrancelhas, intrigado com minha rápida resposta. – Está me deixando confuso, Demi. Veio para me devolver a aliança ou não?

Ele aperta e eu espano.

— Ok, eu confesso. – levanto uma das mãos, em sinal de rendição. – Toda essa cena foi armada. A escolha do horário, o vestido sensual, meus cabelos soltos, até a chuva ajudou.

— O que está querendo me dizer? – ele se levanta e vejo trevas se formando sobre aqueles olhos verdes translúcidos.

— Que eu armei para cima de você. – atiro.

— Com qual intuito? – Joseph me rasga com o olhar.

Meus lábios tremem, mas preciso falar.

— Desestabilizar você.

— Por quê?

— Não direi mais nada, Joe. Por favor, me perdoe. – há tensão em minha voz e me sinto febril. – Estou sem o meu celular, posso ligar para a Nanie vir me buscar?

— Acha mesmo que deixarei você ir embora assim? Não vai, não sem antes me dizer tudo. Por que quer me desestabilizar?

— Não me peça para falar sobre os motivos. Eu já me entreguei, isso não basta?

— Claro que não! – ele está transtornado, mas então, baixa o tom de voz e murmura, com os olhos fechados: – Demetria, o que sente por mim?

— Joe…

Ele se aproxima e toma meu rosto entre as mãos frias. Sinto-me fraquejar.

— O que sente por mim, Demi?

— Não quero dizer, não posso.

— Eu quero saber. Eu preciso saber. – ele me prende em seu olhar torturado.

Meus lábios se movem, mas não deixo que nenhuma palavra escape da minha boca. Mas então, ele encosta sua testa na minha, e novamente fecha os olhos. Droga, como posso resistir a isso?

— Por favor, Demi. O que sente por mim?

— Eu… eu… eu amo você, Joe. Sempre amei.

Um gemido escapa de seus lábios entreabertos, talvez pasmos com minha revelação bombástica. Será que ele não sabia, não havia percebido os sinais?

Meus olhos estão bem fechados, mas escuto sua respiração entrecortada. Suas mãos tremem em meu rosto, cada vez mais geladas. Ele não se move, talvez esteja cogitando as possibilidades a partir daqui. Joseph é do tipo que não age sem antes pensar duas vezes, ponderar as consequências.

Sem qualquer aviso, ele me solta e avança sobre um aparador lateral, jogando todos os objetos ao chão. Dois vasos de cristal se estilhaçam ruidosamente e um pavor insano sobe pela minha garganta.

O que eu fui fazer?

Joseph não sustenta o próprio peso e desaba no chão. Afunda o rosto nas mãos e o ouço soluçar. Meu peito arde, em súplica. Estou destruída com a cena, não consigo aguentar a pressão que me estraçalha.

Ajoelho-me ao seu lado, pedindo que me escute, que olhe para mim. Ele não o faz e me afasta, bruscamente. Quando eleva o olhar agonizante na minha direção, me sinto morrer.

— Por que voltou, Demetria? Por que agora? – seu tom é desesperado.

— Eu não sabia que você tinha voltado ao Brasil, muito menos que estava noivo. Ninguém me contou, acharam que assim me poupariam. – defendo-me, mas não há salvação para minha pessoa. – Esqueça o que eu disse, finja que nunca estive aqui.

— Ligue para sua amiga e vá embora, por favor. – ah, acabo de morrer pela segunda vez.

Levanto-me do chão, sem conseguir firmar as pernas. Procuro o telefone e encontro sobre uma mesa lateral. Meus dedos tremem e por pouco não consigo completar a chamada.

— Nanie. – estou aos prantos.

— Ai. Meu. Deus. Se acalme, estou indo.

Desligo e não consigo colocar o aparelho no lugar. Forço-me a engolir o choro e tirar forças do além, se for necessário. Não quero olhar para ele, mas preciso. Giro a cabeça e o vejo no chão, gemendo, como se estivesse com uma dor aguda. E a culpa é toda minha.

Não me despeço de Joseph e aos prantos, aguardo Nanie debaixo do dilúvio que desagua sobre Paraty. Eu me sinto um lixo, a pior mulher sobre a face da Terra. Eu deveria ter deixado as coisas como estavam, mas não, eu tinha mesmo que ferrar não só com a minha vida, mas também com a dele. — Demetria. – assusto-me, não senti sua aproximação.

Giro sobre as rasteiras e nossos olhares se encontram bem no momento em que um raio prateado se abre pelo céu, como uma teia de aranha. É exatamente como uma aranha que me sinto, enredei esse homem e abocanhei seu destino.

Numa pontualidade que me alivia, Nanie para o carro em frente à casa de Joseph. Ele não diz nada, muito menos eu. Ficamos ali, nos encarando, em meio ao caos da tempestade.

— Eu preciso ir. – finalmente algo sensato sai da minha boca.

Faço menção em lhe dar as costas e uma força me detém. Quando percebo, ele segura meu braço, mas não me pede para ficar. Tento lutar contra um impulso que se forma, queimando minhas veias. Perco a batalha comigo mesma e nesse instante, me atiro sobre seus lábios, como se fosse a última vez.

É um beijo frio, calculado. Quando Joseph tenta me prender naquele abraço abrasador, eu me afasto, sem tirar os olhos dele. Abro a porta do carro e praticamente despenco lá dentro, pedindo à
Nanie que arranque dali o mais rápido possível.

2 comentários:

  1. OMG.....
    sem palavras
    Posta mais!!

    ResponderExcluir
  2. Eu to urrando aqui caralho eu esperava mt sexo mas eu to chocada viadooo
    Eu to kapskalajs scoorr
    Se eu fosse ela estaria em duvida,acho q agarraria ele beijaria e pediria perdao ou entao faria o q ela fez iria emhorane chorar horrores
    Sinto q o Joe vai atras dela to sentindo isso
    Eu ameei
    Pfvr eu te imploro
    Posta Logo
    Pfrvr
    Xoxo

    ResponderExcluir