quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Capítulo 34



Estou pronta para a despedida de solteiro do Joseph.

É claro que quero impressioná-lo, talvez seja minha última chance. Fiz todo o ritual conforme manda o figurino: banho demorado, hidratante para mãos, pés, corpo, olhos, seios, barriga, joelhos… aff, nem eu sabia que existiam hidratantes para todas as partes do corpo. São todos da Nauane, a maníaca por produtos de beleza.
Passo um rímel, faço um olhar de gato bem marcado, uso um gloss apenas para dar um brilho nos lábios. Nauane seca meus cabelos curtos, deixando-os bagunçados e volumosos. Segundo ela, estou prontinha para matar.

No espelho de corpo inteiro, checo o visual e adoro o que vejo. O vestido preto é curto, esvoaçante e levemente transparente. As rasteiras pretas de verniz serão destruídas pela areia da praia, mas nem estou ligando para o fato. Os brincos de argola prateada cintilam e balançam de cá para lá conforme caminho. O bracelete de couro trançado com pontos de strass está um luxo no punho esquerdo.

Será que estou me esquecendo de algo?

Nanie sacode a caixinha preta na altura dos meus olhos. Ela quer porque quer que eu use a aliança de compromisso que o Joseph me deu há dez anos. Aí é apelação demais, não?

Enquanto discutimos os pormenores, a porta do quarto se abre e minha mãe solta um suspiro surpreso. Seus olhos correm de baixo para cima e de cima para baixo sobre a minha figura.

— Uau, Demi. O Joseph não resistirá a isso. – ela diz, com um sorriso satisfeito nos lábios.

— Não é mesmo? – Nauane concorda, ainda me estendendo a caixinha.

— Eu ainda não estou certa disso. – afirmo, cabisbaixa. – E pare de esfregar essa caixa nas minhas fuças, não vou usar a aliança e ponto final. – atiro, num rosnado.

— Por que não? – mamys resolve interferir. – Ah, esse seria um golpe de mestre. – ela pega a caixinha das mãos de Nanie, checando o conteúdo. – Esse pequeno objeto mexerá com sentimentos adormecidos, trará a tona os motivos pelos quais o Joe comprou essa aliança para você, Demetria.

— Mãe, como psicóloga você deve saber que o efeito pode ser contrário. Ele se lembrará que o deixei exatamente por causa desse elo, do medo em me comprometer. – revido.

— Não mesmo. – minha mãe retruca com sua famosa expressão “eu sei de tudo”. – Se você estiver usando a aliança, garanto que o Joseph ficará tão chocado que o abandono passará batido.

— Mandou bem, tia Lili. – Nanie concorda com minha mãe mais uma vez, para meu total desespero.

— Me dê essa droga aqui. – enfio a aliança no dedo anelar da mão direita. – Satisfeitas?

— Ah, agora sim você está perfeita. – Nanie levanta o polegar para cima, aprovando.

— Demetria, faça o que precisa para não se arrepender mais tarde. – conselho de mamys com o aval de Nauane. Oh céus, essas duas estão num complô contra mim.

Com um abraço para lá de sufocante, minha mãe deixa claro que está ao meu lado nessa empreitada. Segundo ela e um estudo cármico que fez da minha pessoa, meu único destino é o caminho para a felicidade plena. Como não acredito muito nessas coisas esotéricas, continuo na mesma, sem saber o que esperar.
                                             ≈≈≈

No estacionamento da pousada, cruzo com meus avós que voltam de uma caminhada noturna. Estão de mãos dadas e a cena é linda, merecia uma trilha sonora melosa de fundo. Como não tem, minha mente fértil providencia uma rapidinho daquelas bem bregas.

Os dois me encaram com um sorriso idêntico bem preso aos lábios. É um incentivo, um empurrão para que eu não desista. Nauane e Espírito deram com a língua nos dentes e até o porteiro sabe o que aprontarei nas próximas horas.

— Independente do que aconteça nesse luau, saia de lá com a cabeça erguida, Demetria. – meu avô toca os meus ombros. – E lembre-se: o que é seu, ninguém pode tirar.

— Diga isso mais alto, talvez os anjos sejam surdos. – satirizo minha cruel situação.

— Sempre tive certeza de que você e Joseph foram feitos um para o outro, assim como seu avô e eu. – vovó ajeita a alça do meu vestido. – Só a morte pode separar almas gêmeas, Demetria.

— Samantha é a morte. – reviro os olhos.

— A Samantha é uma chata de galocha, isso sim. – vovó fecha a cara e sacode a cabeleira repleta de laquê, provavelmente tentando afastar a imagem daquela mimada da cabeça.

— Não estão atrasadas? – vovô checa seu relógio de pulso.

— Vou ligando o carro. – Nanie se despede dos meus avós e caminha para o Peugeot.

Suspiro alto e aqueles morcegos vampiros revolvem ansiosos no meu estômago. Sinto como se estivesse a caminho da execução, colaborando com meu carrasco, hiper feliz e saltitante por estar prestes a ser enforcada em praça pública. Lê-se: sinto-me uma idiota. Talvez eu tenha uma chance, mesmo que ínfima. Preciso me agarrar a isso, com as unhas cor de biscate que esmaltei após o banho. Quero acreditar que nem tudo está perdido, que posso reverter a grande merda que aprontei há dez anos.

— Confie no destino, Demetria. – vovô toca meu rosto e ganho um beijo na testa.

— Obrigada, vô. Valeu mesmo, vó. – agradeço, com a voz embargada. – Não tentarei dissuadi-lo, mas espero que ele me escute e perdoe os meus erros do passado.
                                                  ≈≈≈

A caminho de Trindade, recebo uma ligação inesperada do meu velho. Minha mãe contou a ele tudinho, inclusive o detalhe sobre a aliança que sustento na mão direita. Achei que seria repreendida, mas estava redondamente enganada.

Meu pai deu a maior força, dizendo que Joseph não será feliz ao lado daquela “patricinha metida a besta”. Hum, meu velho não costuma apelidar as pessoas ou mesmo julgá-las. Nunca imaginei que essa era a visão dele com relação a mimada da Samantha. Sorri perigosamente ao fato.

Tenho o apoio de todos com os quais me importo, o que poderia dar errado, afinal?

Pensando melhor sobre isso, tudo pode dar errado.

Nauane para o carro e dou uma sacada na praia. O lugar está cercado por uma atmosfera festiva, convidativa. Há muitos carros e pessoas circulando sobre as areias, sentadas em torno de mesas adornadas com flores e candelabros.

Tochas iluminam o corredor que nos levará à festa. Há um bar sobre um tablado e um barman executa uma performance impossível com três garrafas coloridas de bebida.

Sobre um palco, a música rola solta, com direito a banda, backing vocals e dançarinas ao estilo Ula-Ula. Por um momento, seguro a respiração, rememorando meu primeiro luau, aquele beijo que não saiu como previsto.

Minha relação com Joseph começou nessas areias e talvez termine aqui. Quero chorar, mas contenho as lágrimas. Não estou a fim de borrar meu olhar de gatinho, tão complexo e certeiro. Nauane toma uma das minhas mãos. Eu a encaro, incerta. Ela me devolve um sorriso compreensivo e ao mesmo tempo, motivador. Não quero que minha história com o Joe termine aqui. Não posso conceber a possibilidade de viver sem ele. Demorei para entender isso, mas agora que a ficha caiu e levei uma direita certeira do meu ego, sei que a felicidade está logo ali, ao lado do meu homem perfeito.

Aliás, tenho que me segurar para não dizer um palavrão. Joseph só pode ter feito de propósito. Está vestindo uma bermuda branca, camiseta branca justérrima ao tórax malhado e os cabelos dourados estão levemente bagunçados devido à brisa morna que vem do mar.

Cara, ele está incrivelmente, absurdamente, despudoradamente lindo! Arquejando, forço-me a seguir Nauane pelo corredor de tochas flamejantes. Quando os morcegos começam a bater asas no meu estômago, vacilo. Minha amiga lança aquele olhar “se não andar logo lhe darei um soco” e diante de tamanha insistência e ameaça, volto a caminhar.

A festa começou há duas horas e nosso atraso foi previsto e maquinado por Guilherme. Segundo ele, uma entrada triunfal e inesperada causaria o efeito tanto desejado.

Será?

Joseph ainda não nos viu. Guilherme aproxima-se apressadamente, com dois copos de chopp em mãos. Quando me vejo com a bebida, viro numa golada só. Preciso tanto de coragem!

— E agora? – lanço a pergunta para o vento.

— E agora nada. Você fingirá que ele não está aqui. – Gui aconselha e sorri, satisfeito com seu plano diabólico. – Divirta-se, beba, converse com a galera, seja você mesma. Mas em nenhuma hipótese aproxime-se do Joe.

— Como assim? – reviro os olhos, estressada.

— Lance olhares furtivos para ele, nada mais. – Nauane arremata. – Duvido que ele não a pegará pelo braço e a levará para uma conversa a sós. Duvido!

— Vocês dois deveriam ganhar dinheiro com isso. – bufo, contrariada. – E se ele não se aproximar? Vocês mesmos disseram que essa é minha última chance.

— Confie em mim. – Guilherme pega o copo vazio da minha mão. – Sei bem como funciona o cérebro de um homem. Ele ficará intrigado com a sua presença e mais: ficará possesso por não ter ido até lá, cumprimentá-lo. Sacou, Demetria?

— Saquei.

— Mais chopp? – Guilherme oferece e realmente estou necessitada.

— Certo, me dê o barril todo.




3 comentários:

  1. é agora ou nunca kkk
    posta mais!!!
    estou amando a fic <3

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  2. Como vc pode parar ai?eu aqui toda animada pensando q ia ser nesse capitulo a parte mais esperada isso e covardia sabia? Isso e errado,isso nao se faz to chorando kkkkkk
    Demi tem q fazer o q eles estao falando pq vai q ela fica beba e chega la agarrando ele jesus pode ate dar certo ou nao
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    Pfvr
    Xoxo

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  3. Finalmente cheguei no cap atual. JA QUERO MAIS . POSTA POR FAVOR

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