sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Capítulo quatro


Joseph
Assim que sai do restaurante liguei para o investigador do escritório e pedi um relatório sobre a Samantha, lhe dei seu número e alguns dados. Eu queria saber quem era essa garota e o que ela tinha a perder. Se ela não fosse me ajudar por bem, seria por mal. Eu não jogava para perder, e deixar que uma puta mudasse isso definitivamente estava fora de questão.

Logo pela manhã eu já tinha o relatório em mãos com todos os dados que eu precisava. Demetria Johnson, conhecida como
Samantha por seus clientes, tem 19 anos e mora no centro de Londres no edifício Marchell Senna, apartamento 402. Morou a vida inteira em Cambridge e está há um ano e meio em Londres. Cursa psicologia no College London e não possui nenhuma bolsa de auxílio estudantil. Ao olhar o prontuário foi detectado que os dois pais de Demetria estão mortos, ela foi criada por seus tios
John Smith e Sara Smith, que aparentemente não possuem condições de manter o estilo de vida em que ela vive. Sua melhor amiga, ou única como foi possível perceber se chama Bianca Cortez Amarantes, filha do deputado Hélio Cortez.

Demetria tem como habito frequentar festas na casa de Hélio, assim como boates caras. Além de ir a ótimos restaurantes e viajar com frequência. Ela não trabalha e aparentemente não tem nenhuma renda a não ser a que ganha como acompanhante de luxo.
Então ela se chamava Demetria e era amiga da Bianca? Que garota esperta, imagina a quantidade de clientes que ela não deve arrumar nos jantares do meu padrinho Hélio. Se ela achava que iria deixá-la continuar se aproveitando de Bianca estava muito enganada.

Demetria

Acordei com a maior crise de enxaqueca que eu já tinha tido. Elas sempre foram frequentes, mas nos últimos meses elas tinham desaparecido. Acabei tendo que desmarcar todos os meus planos, incluindo à tarde no shopping que eu pretendia passar com a Babi e a conversa com o meu orientador.

No fim da tarde por volta das 18h30 eu acabei tendo que me levantar para comer alguma coisa, a Babi passou para me ver e deixou uma saladinha e uma sopa para quando eu estivesse melhor. Não que estivesse me sentindo bem, a dor era intensa e eu tive náusea a tarde inteira. Mas eu precisava comer, eu não comera nada desde a noite anterior quando cheguei do meu encontro com o Bart.

Sentada na bancada da cozinha eu estava pensando que a oferta do meu orientador não era nada viável. Eu viajava muito, e estudava em dobro para compensar minhas faltas e manter as notas boas. O desconto que ele me daria não me ajudaria em nada, não quando eu pagava uma mensalidade tão cara.

Com a cabeça longe demorei a perceber que minha campainha estava tocando. A única pessoa que vinha aqui era Babi e mais ninguém, logo quando estou acabada algum vizinho intrometido tinha que aparecer. Ignoro esperando que a pessoa desista, mas não, e além de tocar, começa a bater na porta. Esse barulho me mataria, desisto e vou atender a maldita porta. “Finalmente.” – Ouço a voz e meu corpo congela na hora.

“O que você está fazendo aqui?” – sussurrei assustada, eu ainda estava me sentindo fraca, mal tinha começado a comer.

“Convide-me para entrar, Demetria.” – Oh não, não e não, ele não iria por esse caminho, como ele tinha descoberto o meu nome?

“Você não vai entrar aqui, olha, eu não estou me sentindo bem, estava tentando comer pela primeira vez hoje” – falei um com a voz baixa “e agora tudo que consigo é sentir náusea, por favor, podemos ter essa conversa outra hora?” – eu disse enquanto me segurava na beirada da porta. Meus joelhos estavam trêmulos e eu não sabia se era por causa dele ou porque eu estava piorando. “Sem chances, eu preciso entrar Demetria, isso não é discutível.” – Será que ele sempre estava nervoso? “Preciso acertar essa merda ainda hoje e o melhor preciso saber que raios você pensa se envolvendo com Bianca, ela não sabe o que você faz sabe?”

Senti minha cabeça girar e minha visão ficou turva, eu não sabia se desmaiava, vomitava ou se batia nesse cara. Olhei para baixo tentando me firmar e quando percebi estava tudo escuro e eu estava prestes a me estatelar no chão.

Joseph

Assim que ela abriu a porta eu percebi que alguma coisa ia mal. Ela estava pálida e com profundas olheiras ao redor dos olhos. Porém o que teria feito com que numa mulher normal ficasse desinteressante nela isso só trazia um ar de vulnerabilidade. Como se ela precisasse ser cuidada e mimada. “Convide-me para entrar Demetria.” “Você não vai entrar! Eu não estou me sentindo bem, estava tentando comer pela primeira vez hoje e agora tudo que consigo é sentir náusea, por favor, podemos ter essa conversa outra hora?” – Mentiras, mentiras, todas as mulheres mentem, não é?

Questionei-a sobre a Bianca e ela ficou pálida, isso era o que mais me irritava nessa história. Bianca era filha do meu padrinho Helio Cortez, um membro do parlamento e melhor amigo do meu pai. Eu a conhecia desde criança e não imagino como ela e Demetria ficaram amigas. Bianca era a pessoa mais egoísta e mimada que eu conhecia.

Percebi que ela parecia tonta e antes que eu pudesse falar mais alguma coisa eu a vejo desmaiar na minha frente. Merda! Qual é o problema com essa garota? Levei-a em meus braços para o sofá da sua sala e a deito confortavelmente.

Decidi ir até a cozinha pegar um copo de água para ela e percebi um prato de sopa em cima da bancada. Pelo menos isso era verdade, eu atrapalhei sua refeição. Assim que voltei vi que ela continuava desmaiada e mais pálida que o normal. Será que eu deveria levá-la ao hospital?

“Demetria, Demetria acorda.” – sussurrei.

“Uhnn” – ela disse.

“Por favor, acorde e beba um pouco de água, tome.”

“Minha cabeça parece que vai explodir, por favor, apague a luz.” – ela disse meio que choramingando ainda sem abrir os olhos, merda eu vou ter que apagar a luz mesmo.”

“Certo.”

Assim que apaguei voltei para o sofá e percebi que ela está sentada com a cabeça jogada para trás no assento do sofá. Ela parecia fraca e eu não tinha a menor ideia do que fazer agora.

Liguei o pequeno abajur no lado oposto ao dela, ficar no escuro com ela é tudo que eu não precisava.

“Por favor, no meu quarto tem uma pequena caixa com remédios no criado mudo, você poderia pegar para mim?” – percebi que a dor era forte porque sua voz estava muito baixa e rouca.

“Claro, eu já volto.”

O apartamento era muito bem decorado e percebi que ela provavelmente morava sozinha. Assim que entrei em seu quarto senti o perfume que ela estava usando no dia anterior, pairando pelo ambiente. Sua cama estava desarrumada e com um grosso cobertor em cima. Dei uma olhada rapidamente e percebi que não havia fotos nem nada que pudesse remeter a família ou amigos. Tudo soava um pouco vazio, quase como se não pertencesse a ninguém. Cores neutras, móveis neutros e objetos neutros. Totalmente diferente dela que tinha uma personalidade tão forte. Porque sim, ela era uma prostituta, mais não parecia fraca e nem era o tipo de mulher que precisava de ajuda.

Achei a caixinha ao lado de uma pequena agenda e curioso acabei dando uma folheada por ela. Acabei encontrando alguns nomes que me soavam familiar, junto a horários, hotéis e preferências. Sim definitivamente uma prostituta organizada. Mas espera ai Bart Bass? Eu não acredito que ela fodia com um dos meus melhores clientes. Fui para as últimas páginas que ela escreveu e vi que ele era o seu cliente do dia anterior. Folheei mais e percebi que no dia seguinte seria o dia do Nick. Merda, uma onda de raiva passou por mim nesse momento. Ela iria ver o Nick na manhã seguinte?
Fechei a agenda e dei uma olhada nos remédios da caixinha, todos eram para enxaqueca. Gigi, minha falecida esposa tinha umas três crises por mês delas, que ela insistia ser algo normal.

Três anos depois de casados descobrimos que ela tinha um pequeno tumor no cérebro. O médico disse que era pequeno, mas que mesmo assim precisava de cirurgia, o foda era que ela se recusou a fazer qualquer tipo de tratamento. Merda, tudo isso fazia lembrar-me da minha Gigi, eu a amava tanto e quando a perdi meu mundo virou de cabeça para baixo.

Queria sair dali naquele momento e esquecer todas aquelas lembranças, mas tinha que verificar se a Demetria estava bem antes de me mandar, não poderia abandoná-la nesse estado.

Assim que entrei na sala percebi que ela ainda estava na mesma posição, sentei ao seu lado e perguntei qual remédio ela queria, porque bem tinha ao menos uns cinco tipos para enxaqueca, isso me dava arrepios.

“Pega os dois de cima para mim, por favor.” – Ela misturava essas coisas? Tenho quase certeza de que isso ferraria com ela.

“Você tem certeza que pode misturar Demetria? Toma só um e depois se não melhorar...”

“Não, por favor, me dê os dois. Essa dor está insuportável, tomei um e não ajudou, por favor, eu só quero dormir por algumas horas sem sentir dor.” – Ouvi-la pedindo por favor para mim tão baixinho me fez ter uma reação bem diferente da esperada ao ver alguém com dor. Me fez excitado e imaginando como seria ela implorando para que eu fizesse sexo com ela. Será que eu era tão fodido assim?

“Demetria eu vou te dar os dois, mais preciso que você chame alguém para te fazer companhia. Você pode ter alguma reação e isso não vai ser bom se estiver sozinha aqui.”

“Olha essa não é a primeira vez que misturo ok? Sempre fiquei bem, prova disso é que estou viva, então, por favor, só vá embora eu me viro daqui.” – ela falou nervosa.

“Eu não vou te deixar aqui sozinha assim.”

“Então pega o meu telefone na cama e procura o nome Babi, eu vou pedir ela vir e você pode ir.”

“Oh não mesmo, eu não vou ligar para ela, inclusive, não quero vocês duas juntas.” – Eu não a deixaria continuar se aproveitando da Bianca e nem do Hélio, eu percebi que a maioria dos seus clientes faziam parte do meio do qual eu convivia e eu aposto que era por causa dessa amizade. – Quero que você se afaste dela o quanto antes. Ela não respondeu, e parecia estar pior. Fiquei em dúvida se Bianca viria aqui por ela. Eu nunca a vi fazendo nada por ninguém. Decidi ligar para ela antes de deixar Demetria chamá-la, eu queria saber o que a Bianca sabia a respeito dessa garota.

“Fala.” – Bianca falou assim que atendeu.

"Bianca, de onde você conhece Demetria?" – Fui direto ao 
assunto. 

“Primeiro eu preciso saber por que essa conversa Joseph .”

“Não enrola Bianca, eu realmente não tenho tempo para isso, só me responda.”

“Eu e ela nos conhecemos na faculdade.”

“E o que você sabe sobre ela?” – perguntei sem paciência.

“Bom ela vive sozinha e os seus pais vivem viajando, ela é um amor de pessoa Joseph , mas porque isso agora?” “Por nada eu só preciso resolver algumas coisas.” – Voltei para a sala e encontrei Demetria impaciente. “Onde está meu telefone?” – ela perguntou.

“Pode ligar para ela.” – eu disse contrariado, eu teria que sair daqui antes que ela aparecesse.

“Babi, eu acho que eu piorei, a dor voltou e eu acabei de tomar mais alguns comprimidos, você poderia vir e ficar aqui comigo?” – merda ela estava chorando, me senti culpado sem saber do que realmente eu tinha culpa.

Peguei-a nos braços e a levei para cama, ela estava tão fraca que não me contrariou em nada, deitou tão encolhida, que senti uma dor no peito uma dor que eu sabia que já tinha sentido antes. Eu queria cuidar dela, mas não podia me deixar levar. Eu pegaria leve agora, mas depois a proibiria de vez que ela se aproximasse de Bianca, não poderia deixar uma garota como ela afundar a reputação de uma família tão respeitável.

“Preciso que ir embora antes que a Bianca chegue tudo bem?” – ela não respondeu nem olhou para mim, meu peito apertou ainda mais, eu tinha que sair daqui logo.

Demetria

Acordei no dia seguinte um pouco melhor, Babi tinha passado a noite comigo e eu só tinha que agradecer por ter uma amiga como ela. Eu sabia que ela poderia ter um gênio difícil às vezes, mas ela era a única pessoa com quem eu verdadeiramente me importava e que nunca me deixou na mão.

Eu ainda estava um pouco sensível à luz e ao barulho, mas estava bem melhor. Não vi quando o idiota do Joseph foi embora e do fundo do meu coração eu esperava nunca mais ter que vê-lo.
Fui surpreendida quando a campainha tocou e rezei para que não fosse ele novamente, fui atender receosa.

“Bom dia, você pode assinar aqui, por favor.” – O entregador falou e me passou um envelope branco. Peguei e me sentei no sofá curiosa com o assunto da carta.

Espero que esteja bem, porque o meu avião sai as 17h00. Não me faça ter que contar para a Bianca e os seus amigos o que você faz Demetria.Pretendo ser bastante generoso, então não se atrase.
Joseph .


Que homem mais arrogante e idiota, quem ele pensava que era? 

                                              ***

O motorista de Joseph me buscou no horário marcado e assim que entrei, ele já me esperava no carro.

“Vejo que está melhor.”

“Um pouco.”

“Fico feliz que aceitou o meu convite.”

“Isso não foi um convite, foi chantagem.” – Ele sorriu e me ignorou o resto do caminho.

“Joseph , nós não combinamos o valor ainda” – corei enquanto falava.

“Se 80 mil é pouco o que seria adequado?”– ele estava ficando irritado, eu podia ver pelo seu sorriso apertado. “Nunca fiquei tanto tempo com algum cliente, mas já passei cinco dias no Caribe e cobrei 60 mil. O preço é maior do que o programa, porque ficaremos o dia juntos na maior parte do tempo e no seu caso passarei o dia fingindo ser outra pessoa. Então 120 mil seria o preço que eu cobraria.”

“Você está de brincadeira comigo não está?” – ele perguntou severamente.“Eu não costumo brincar sobre dinheiro, Sr. Hudhman.”

“Já passamos da fase de senhor Demetria, darei os malditos 120 mil, mas espero que sua atuação seja impecável ou eu juro que você nunca mais vai ter algum outro cliente com tanto dinheiro querendo foder você.”

“Eu... eu achei que você e eu não fossemos fazer sexo” – eu disse gaguejando merda. Não queria demonstrar o quanto ele me afetava. “Então esse valor não inclui sexo? Você está me dizendo que se eu quisesse você na minha cama, coisa que graças a Deus eu não quero, eu teria que pagar mais?” – apertei minhas mãos, nervosa com a situação – “Quanto mais Demetria? Acabe com minha curiosidade.”

“Eu cobraria no mínimo uns 30 mil a mais, daria esse valor porque não sei quantas vezes transaríamos e nem o que você faria” – tentei e controlar para não aparentar o meu nervosismo. – “Não conheço sua rotina sexual então seria um risco cobrar menos e tendo que ficar o dia todo na sua cama entende?”

“Você é inacreditável, nunca achei que fosse conhecer mulher mais vadia que a prostituta com quem meu pai se envolveu – ele me olhou com repulsa – mas você a supera em ambição e esperteza e isso Demetria definitivamente não foi um elogio.”

“Você não vai poder me ofender Joseph , se me ofender eu estou fora” – avisei a ele antes que ele começasse a ser grosso novamente.

“Ok, eu não pretendo fazer isso” – ele falou e voltou a me ignorar. Fiquei tão abalada com suas palavras que preferi ficar quieta também.

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