segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Capítulo cinquenta e um

                                               

Demetria

“Se você passar mal ou sentir qualquer coisa...”
“Eu sei Wil, se eu passar mal eu ligo para você, para o meu médico e para sua tia...ah e aviso a Ângela também.” Ângela era a empregada do Wil.

“Promete que não vai ser teimosa?”

“Eu não sou teimosa amor.”- é claro que eu era.

“Eu não queria me afastar agora Demetria, eu estou tão preocupado com você.” “Amor me escuta, não vai acontecer nada comigo, eu estou ótima, além disso, serão só alguns dias.”- ele me olhou preocupado. Wil ia me deixar maluca com toda essa preocupação.

“Eu amo você Demetria.”

“Ama mesmo?”- brinquei com ele, eu não o queria tão tenso assim.

“Amo Demi, amo muito.”- ele me abraçou e me beijou.

“Eu vou me cuidar e cuidar dos nossos bebês amor, eu só quero que você viaje despreocupado eu não sou irresponsável Wil.”

“Eu sei que não é, mas é teimosa.” passei a mãos pelo seu pescoço e o beijei, nós teríamos a manhã toda para ficarmos juntos até que ele tivesse que viajar depois do almoço.

“Faz amor comigo Wil.” - eu falei em seu ouvido.

“Eu faço qualquer coisa com você Demi.” - ele me segurou e eu o envolvi com as minhas pernas, a minha barriga já estava bem visível e era estranho me acostumar a transar assim, mas o Wil não reclamava eu acho que ele até gostava.

“Eu sou louca por você amor.” sussurrei enquanto ele lambia e mordiscava meu pescoço.

                                            ***
Já tinha três dias que o Wil havia viajado e ele me ligava praticamente o tempo todo. Naquela manhã eu acordei me sentindo mal novamente, estava tonta e com uma dor de cabeça horrível. Por incrível que pareça eu também não estava com fome, acabei não indo para a faculdade e como a empregada do Wil percebeu que eu estava mal ligou para ele. Eu passei a última meia hora tentando convencê-lo de que eu estava melhor. Para o meu azar ele ligou para a sua tia e pediu que ela viesse me dar uma olhada. Wil estava forçando demais a minha relação com Anita, ela não gostava de mim e tão pouco eu gostava dela.

“Demetria a tia do Wil está lá em baixo.” - Ângela falou.
“Você pede para ela subir Ângela?” ela me olhou bem atenta antes de descer, ela estava exagerando junto com o Wil, eu só tinha acordado com mal estar. Voltei a me afundar na cama, eu tinha vários travesseiros posicionados para que eu pudesse ficar confortável mesmo sentada.
“Demetria?” - Anita chamou.

“Entra Anita.” - ela entrou e me olhou preocupada.

“Oh querida você está com uma carinha péssima.” - eu juro que se ela começasse a me criticar eu ia mandar ela embora.

“Eu não acordei muito bem Anita.” “Já ligou para o seu médico? Wil pediu que eu te lembrasse disso.”

“Já liguei sim, ele pediu que eu ficasse de repouso o resto do dia.”

“Meu sobrinho está muito preocupado Demetria.”

“O Wil é exagerado.”

“Sim, mas uma gravidez de gêmeos sempre exige mais atenção.”

“Eu estou bem atenta Anita.” - falei e fechei os olhos ela aproveitou para dar uma olhada no quarto do Wil distraída.

“Eu estive pensando Demetria, talvez eu tenha exagerado com você.” - abri os olhos curiosa.

“Sério?' - eu quis soar sarcástica sim. Anita nunca me deu uma oportunidade e sempre foi arrogante e má comigo, eu sabia que ela estava fazendo isso pelos bebês.
“O Wil conversou comigo antes de viajar e ele me pediu para cuidar de você enquanto estivesse fora.”

“Eu agradeço, mas eu já tenho gente demais cuidando de mim.”

“Eu sei, ele falou que você seria teimosa. Mas eu não vou deixar você colocar em risco a saúde dos Bebês.”

“Mas que risco? Eu passei o dia inteiro nessa cama, eu não fiz nada.”

“Mas também não comeu não é?”- não respondi, ela não tinha nada com isso, e eu não estava com fome. - “Você não pode ficar tanto tempo sem comer Demetria, eu pedi para que a Ângela fizesse uma sopa para você, eu só saio daqui depois que você estiver com alguma cor nesse rosto, você está mais pálida do que o aceitável.”

“Eu não preciso de uma babá Anita.” “Eu sei que não.” - ela falou dura. “Isso não vai mudar o fato de que eu não quero você perto dos meus filhos.” “Eu sei que fui horrível com você Demetria, mas eu quero me redimir.”

“Porque isso agora? Eu não entendo, você me acusou de dar um golpe no Wil, me criticava toda vez que nos víamos e agora quer ser minha amiga?”

“Essa é a única chance que eu vou ter de ser avó, mesmo que o Wil não seja meu filho, eu ajudei a criá-lo depois que a mãe dele morreu, ele e Joseph ficaram muito próximos, pelo menos até eles...”
“Eu sei a história Anita.”

“Meu filho nunca mais foi o mesmo depois que ela morreu, eu quase não o reconheço sabe? Como mãe eu sempre tentei fazer o melhor para ele, mas o que é bom para gente nem sempre é o melhor para os filhos.”

“Eu concordo.” -ela me olhou intrigada. “Joseph não pode ter filhos Demetria, ele fez vasectomia assim que Gigi morreu, - ela parecia bem abalada. -ele não pensa em adotar tão pouco então essa é a única chance que eu tenho de ser avó.” - engoli em seco, Joseph tinha o que na cabeça?
“Eu sinto muito por você, eu...”

“Nós podemos começar de novo, eu criei dois meninos Demetria eu nunca tive uma filha, eu e Bianca temos muitas coisas em comum, mas até eu percebo o quão imatura ela é. Bianca foi um erro do qual eu acho que não vou conseguir me perdoar.”

“Erro?”

“Você não entenderia. - ela encerrou o assunto. - eu vou ver se a sua sopa está pronta e vou ligar para o Wil tudo bem?”

“Anita...” - chamei.

“Sim?”

“Não diz para ele que eu estou ruim não, fala para ele que eu melhorei eu não quero que ele fique preocupado.” - ela me deu um pequeno sorriso e saiu. Eu estava um pouco confusa com essa conversa da Anita, ela me pareceu sincera, mas eu já quebrei a cara muitas vezes nessa vida para acreditar que ela decidiu mudar de uma hora para a outra. Voltei a deitar e fechei os olhos, tudo o que eu queria era o Wil comigo.

                                  ...

“Eu estou muita saudade, amor.” - ele estava fora a apenas quatro dias e já parecia uma eternidade.

“Eu também Demi, as coisas aqui estão um pouco complicadas, Joseph encontrou muita papelada fora do lugar e tivemos que organizar isso tudo. Eu pensei que fosse conseguir estar aí amanhã, mas não vai dar amor.”

“Poxa Wil.”

“Mas eu prometo que assim que eu chegar tirarei ao menos dois dias inteiros para poder te mimar.”

“Mais? Parece que todo mundo acha que eu estou doente, Jéssica e Iuri me tratam como se eu fosse uma criança e sua tia como se eu não tivesse cérebro.”

“Ela só esta tentando ser legal Demi, eu pedi isso para ela. Eu quero que ela te ajude quando eu não puder estar por perto.”

“Mais por que ela amor?”

“Eu sei que ela não é fácil, sei que ela é uma cobra quando quer, mas em momento algum desde que eu perdi a minha mãe me tratou de forma diferente do Joseph Demi. É por isso que eu sei que ela vai tratar essas crianças como se eles fossem seus próprios netos.”

“Tudo bem, eu só tenho medo que ela queira controlar tudo sabe”

“Nós daremos um jeito nisso com o tempo amor, agora me diz como estão os bebês.”

“Eles estão ótimos e com muita fome.” eu ri.

“Isso é bom.”- ele falou, mais parecia distraído.

“Estou te achando preocupado Wil.” “Muita coisa na cabeça Demi. E eu não consigo me concentrar, se estou no telefone com você penso no trabalho e se estou no trabalho penso em você. Acaba que eu não consigo me concentrar em nada totalmente.”

“Você quer que eu ligue para sua tia para que ela venha aqui hoje? Você vai ficar mais aliviado se eu fizer isso?”

“Vou.”

“Então eu vou ligar Wil, e você vai me prometer que vai tentar não me ligar a cada meia hora.”

“Eu prometo.” - ele falou um pouco mais animado.



                                      ***



Passei a tarde inteira ouvindo Anita me dar 'dicas' sobre gravidez e consegui perceber que por trás de toda sua arrogância ela era uma mulher carente. No fundo eu tinha um pouco de pena dela. Joseph chegou a me contar uma vez que seu pai os deixou para fugir com uma garota de programa quando ele era adolescente. Acho que esse foi um dos principais motivos que atrapalharam a nossa relação.

Um dos “porquês”, o que não faltavam eram motivos para ficarmos separados. Eu acho que se tivéssemos tentado ficarmos juntos, Anita teria feito tudo para nos separar, Ela não percebia que essa mania de querer interferir na vida dele só o prejudicava, Joseph era infeliz, quando eu o conheci. Ele não era muito melhor do que é agora, só acho ele fingia melhor.



Em alguns momentos eu me lembrava do dia em que ele falou que me amava. Só que era difícil acreditar nesse amor, se fosse verdade ele teria feito tudo para ficar comigo, ele teria passado principalmente por cima do seu orgulho. Fora todas as vezes que ele me ofendeu. Isso não era amor, eu não sei o que era, mas definitivamente não era amor. A cada dia que passava eu tinha mais certeza de que Joseph se tornou incapaz de sentir isso depois que sua esposa morreu.

                                               ***

Anita havia acabado de sair e eu estava prestes a me deitar quando senti uma pontada de dor um pouco abaixo do umbigo, parecia à cólica que eu senti há algumas semanas só que mais intensa.

“A senhorita está bem?” - Ângela tornara-se a minha sombra desde que Wil viajou.

“Não Ângela estou com uma dorzinha chata na barriga eu pensei em ligar para o Dr. Rodrigo, mas da última vez a dor passou sozinha.”

“Eu acho melhor a senhorita ligar, o Wil disse que qualquer coisa que acontecesse era para eu entrar em contato com o Doutor.” - ela disse preocupada.


                                                     ***

“Você fez bem em me ligar Demetria.” assim que eu expliquei a ele o que estava sentindo ele se prontificou a vir me ver.

“É grave doutor?” - Ângela perguntou. “No momento não, essas pequenas cólicas não tem exatamente uma causa, essa é a segunda vez que você sente, não é?' “Sim.”

“Eu quero que você fique atenta, quando mais tempo passar, maior o risco de você acabar tendo um parto prematuro.”

“Essa vai ser a minha primeira e única gravidez Doutor, você sabe a tortura que é ter todo mundo em cima de você o tempo todo?” - falei irritada e ele riu da minha situação.

“Isso é normal Demetria, ainda mais quando se é a primeira gravidez..” “Então eu posso dormir tranquila?”

“Pode. O medicamento que eu receitei vai deixá-la mais calma e evitar o incômodo.”

“Perfeito.” - tudo o que eu queria era uma boa noite de sono.

                                           ***

Acordei assustada, tive um pesadelo, olhei para o relógio e vi que eram apenas sete horas. Eu não precisaria levantar até pelo menos as nove. Sem conseguir dormir me levantei. Tentei afastar as imagens do pesadelo da minha mente, mas não consegui. Fiquei arrepiada só de lembrar os gritos que ouvi, eu não entendi direito o que tinha acontecido só sei que havia sirenes e luzes por todos os cantos. Olhei-me no espelho e vi que eu não estava mais tão pálida como a noite anterior. Podia-se notar um leve rubor nas minhas bochechas. Era estranho me acostumar com as mudanças da gravidez. Wil achava tudo lindo, a minha barriga, os meus seios maiores, até quando eu estava irritante ele gostava, dizia que era o meu charme de grávida. Senti um aperto no peito, eu queria muito o Wil comigo agora.

“Demetria.” - ouvi a voz da Ângela me chamando.


“O que foi Ângela?” - ela sabia que eu não acordava a essa hora.

“A...a tia do Wil está te esperando lá em baixo.” - sussurrou com a voz fraca. “Por que? Eu não marquei nada com ela essa manhã Ângela.”

“Eu sei. Ela quer falar com a senhorita. Eu acho que é urgente.” - não tive coragem de perguntar mais nada, só consegui lembrar do meu sonho.

“Você está bem?” - ela viu quando eu me segurei na bancada com força. “Estou, diga para ela que eu vou descer, me deixe só lavar o meu rosto sim?”

“Tudo bem.” - ela falou e saiu. Eu estava com um péssimo pressentimento. Desci as escadas e ouvi Ângela e Anita conversando.

“A senhora não pode contar para ela, ela não esteve bem a noite passada.” Ângela murmurou.

“Eu tenho que contar Ângela, ela precisa estar preparada.”

“Preparada para que?” - eu perguntei interrompendo as duas. Elas me olharam apreensivas.

“Nada.” - Ângela respondeu Anita ficou em silêncio, ela estava chorando, alguma coisa havia acontecido.

“O que aconteceu Anita?”

“Demetria.”

“Eu acho melhor vocês duas me contarem logo.” - essa situação já estava me deixando tensa.

“Eu não sei os detalhes, eu só sei o que o Carlos me contou. Foi ele quem atendeu quando a equipe de paramédicos ligou.” - Paramédicos? Olhei para ela assustada.


“ Wil e Joseph sofreram um acidente de carro. Estavam indo encontrar-se com um cliente e houve uma batida com vários carros envolvidos.” - Joseph e Wil? Eu comecei a sentir uma dor sufocante no peito, eu não queria ouvir mais nada.

“Eu não quero ouvir Anita. Pode parar.” - eu falei e me levantei do sofá. Eu não conseguiria perder nenhum dos dois, eu ficaria arrasada se alguma coisa acontecesse com Wil, mas com o Joseph ? Eu acho que não suportaria. “O Carlos já está voando para lá Demetria e assim que ele tiver alguma notícia ele vai ligar.” - eu não respondi, eu sabia que alguma coisa ruim tinha acontecido, o pesadelo e a sensação estranha que eu tive assim que acordei era um sinal.

“Eles tem que estar bem; Eu não posso perder nenhum deles eu...” - eu disse para mim mesma e Anita me olhou confusa.

“O que você falou?” - ela perguntou. “Nada.”

“O que os paramédicos disseram Anita” - eu não queria saber, mas eu tinha que saber entende?

“Vamos esperar o Carlos ligar Demetria.” “Não, eu quero saber, eu tenho que saber, por favor.” - Ângela chegou com um copo de água e um comprimidinho, provavelmente um dos medicamentos que o Dr. Rodrigo me receitou noite passada.

“Bebe toda a água e tome esse remédio, eu liguei para o Doutor e ele disse que você pode e deve tomar ele.' - ela falou séria.

“Eu não quero voltar a dormir Ângela.” “Ou você toma ou eu vou ligar para ele de novo.” - ela me chantageou.

“Eu só quero saber o que aconteceu, por favor, vocês duas não podem me esconder.” - As duas se entreolharam...

“A situação é confusa Demetria. Só tinha os dois no carro e os paramédicos não souberam, ou não quiseram dizer para o Carlos qual deles faleceu, a única coisa que eu sei é que... só conseguiram tirar um com vida e...” - ela começou a chorar, eu ainda não tinha parado para pensar no sofrimento dela.Saí da sala desesperada e subi para o meu quarto, eu queria chorar, mas queria fazer isso sozinha. A dor que eu estava sentindo era muito forte, eu tinha perdido um dos dois isso era certo, mas eu não queria pensar qual deles me faria sofrer mais se morresse.

O Wil era o meu conforto, o pai dos meus bebês. Eu era apaixonada por ele, os últimos meses foram os melhores da minha vida. Ele me mimava, me fazia sentir amada e nunca me decepcionou. Já Joseph era o oposto de tudo isso, nós tínhamos uma química e algo mais forte que nos ligava, eu não conseguia entender. Só eu sei quantas vezes eu rezei para conseguir esquecê-lo de uma vez por todas, mas não dava, eu poderia me enganar o resto da vida e até amar outra pessoa, mas o que eu sentia por Joseph era maior do que tudo isso.Ouvi a porta do meu quarto abrindo-se e me levantei, era a Anita.

“Querida... o Carlos ele ligou...e...” ela disse não conseguindo segurar seu choro e seus soluços. Senti uma dor estranha percorrer o meu corpo, me senti vazia como eu não me sentia há muito tempo, fechei os olhos e desmaiei.

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