quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Capítulo sessenta e três


Joseph

“Meu filho se acalme, não vai adiantar você ficar assim.”

“Mãe como você quer que eu me acalme? Ela vai ter que passar por uma cesárea de emergência, ela não queria isso.”

“Eu ainda não acredito que Bianca possa ter feito isso com ela.”

“Eu não quero falar dela mãe. O que eu precisava resolver com ela eu já resolvi. Já contei ao pai dela tudo que ela fez e ele vai fazer com que ela assine o quanto antes os papéis do divórcio.”

“Você fez algum acordo?”

“O que a senhora acha?” – eu teria que pagar uma pensão alta para manter Bianca longe de mim. Mas eu não me importava dinheiro nunca foi o meu problema.

“Como você vai lidar com as coisas depois Joseph ? E se ela espalhar para os nossos amigos que você pretende se casar com uma ex-prostituta?”–eu já tinha pensado nisso, por isso mesmo fiz um acordo. Se ela ousasse contar a alguém e eu descobrisse ela teria que me indenizar em milhões e eu sei que o pai dela odiaria se desfazer de tanto dinheiro. Eu tive que chantagear o Bart também para que ele colocasse pressão nela. Eu sabia que ele odiaria ver o seu nome envolvido em fofocas a essa altura. Tudo isso em menos de dois dias, eu não queria ter nenhuma surpresa desagradável quando Demetria melhorasse. O único problema é que ela não melhorou e o Dr. Rodrigo achou melhor fazer uma cesárea.

“Eu já lidei com tudo mãe, Bianca não vai falar, ela não vai querer irritar as pessoas erradas.”

“Seu pai já sabe Joseph e ele não está nada contente com essa situação.”

“Eu não posso fazer nada. Ele mais do que ninguém deveria entender não é?” – eu não queria ser duro com a minha mãe, mas nem ela e nem o meu pai palpitariam em minha vida. Ela não falou mais nada e nem eu. Nós estávamos esperando alguma notícia sobre a situação da Demetria. Ela teve outro sangramento na madrugada e sua pressão estava difícil de controlar.

“Ela vai ficar bem Joseph .”

“É o que eu espero mãe, porque eu sou capaz de fazer uma besteira se alguma coisa acontecer com Demetria.” – ela me olhou assustada. Eu estava perdendo a cabeça. Foram quase três dias no hospital me preocupando com ela e os bebês.

                                              ***

“Filho.” – acordei com a minha mãe me chamando. Eu tinha cochilado na cadeira do hospital.

“Como ela está mãe?” – vi a preocupação nos olhos dela.

“O quadro dela é instável, mas os bebês estão bem.”

“Instável como?” - perguntei já me levantando.

“Ela perdeu muito sangue Joseph , ela teve dois incidentes em menos de dois dias e eles não conseguiram manter a pressão dela baixa durante o parto. Eles só insistiram porque ficaram preocupados com os bebês.”

“Eu posso vê-la?”

“Não.”

“E os bebês?”

“Eles sim – ela disse sorrindo. – eles são tão fofos meu filho,você vai se apaixonar assim que os ver.

“Certo.”

“Não fique com essa cara Joseph , vai dar tudo certo.”

Minha mãe me levou até o berçário para que eu pudesse ver os dois. Eles estavam em uma incubadora e pareciam tão frágeis.

“Você tem certeza que eles estão bem mãe?”

“Absoluta, eles nasceram de quase oito meses Joseph , eles vão ficar bem.”

“Eles são tão pequenos.”

“Eles crescerão.”

“Você acha que ela vai ficar bem?” – eu falei sem conseguir para de olhar para eles, saber que há tão pouco tempo eles estavam dentro dela e que eram eles que a chutavam sempre que eu estava por perto me deixou emocionado.

“Ela tem que ficar Joseph , esses dois precisarão muito dela.”

“Eu também preciso dela mãe.” – minha mãe me olhou e viu que eu estava emocionado e cansado. O dia tinha sido exaustivo.

                                                  ***

“Você tem que comer alguma coisa meu filho, você não pode continuar assim.” – eu tinha passado o dia inteiro esperando para ver Demetria e nada. Ela ainda estava em observação e sem poder receber visitas. Eu e minha mãe passamos a manhã com os gêmeos mais também não tínhamos permissão de pegá-los no colo. Cada hora que passava eu ficava inquieto e sem saber o que fazer.
Meu pai queria que eu voltasse para o escritório, eu realmente tinha muito trabalho para fazer, mas minha mente só estava focada naqueles três.

“Eu não estou com fome mãe.”

“Joseph a Ângela veio para cá para nos substituir um pouco, ela nos avisará se houver alguma melhora. Nós dois precisamos ir para casa.”

“Eu não quero ir.”

“Deixe de ser teimoso filho e vem comigo. Assim que você estiver

descansado você volta.”

“Ok.” – insistir não adiantaria nada mesmo.

Meu único medo era sair dali e alguma coisa acontecer com ela ou os bebês. Eu iria, mas tentaria voltar logo, eu queria estar perto quando ela acordasse.

                                            ***

A sensação de segurar um bebê era indescritível, ainda mais quando era tão pequenininho quanto o que eu estava segurando. Eu e a minha mãe só tivemos autorização para segurar eles um pouquinho. Mas eu não queria que esse momento acabasse. Eu não sabia como e nem porque, mas eu sentia que já os amava. Demetria ainda estava em observação, o médico avisou que provavelmente ela seria transferida para o quarto. O que me deixava muito aliviado.

“Já está na hora deles voltarem para a incubadora.” – a enfermeira disse para mim e para minha mãe.

                                                   ***

“Vocês podem entrar.” – fomos informados pela enfermeira do andar em que a Demetria estava. Eu estava ansioso para ver a minha Demetria. Minha porque eu não tinha mais nenhuma dúvida sobre isso. Assim que coloquei os olhos sob ela vi que estava com uma aparência abatida. Mas ela sorriu quando nos viu, e eu não consegui deixar de retribuir o sorriso. Definitivamente minha.

“Como você está se sentindo?” – perguntei receoso.

“Acho que bem, não entendo direito o que aconteceu. Rodrigo conversou comigo e eu fiquei um pouco aliviada.”

“Quando você vai poder ver os bebês?” – perguntei.

“Talvez mais tarde, eu estou ansiosa.” – ela sorriu.

“Você já pensou nos nomes Demetria?” – minha mãe falou.

“Já.” – quando ela sorria assim eu tinha esperança de que as coisas fossem dar certo. Eu já tinha conversado com a minha mãe e ela me prometeu que tentaria relevar o passado da Demetria.

“Eu pensei em Alice e Wilmer.” – eu sempre me sentia um pouco estranho quando lembrava do meu primo.

“Acho lindo que você queira homenagear o Wil.” – minha mãe falou emocionada.

“Eu amava o Wilmer Anita.” – eu não precisava ouvir isso.

“Eu sei que amava querida, e você tem sido muito corajosa lidando com tudo da forma que você fez. Muitas pessoas não teriam conseguido sabe?”

“Eu quero que eles saibam quem foi o pai deles, não pretendo tirar isso do Wil.” – ela falou olhando para mim.

“E você está certa Demetria.” – não aguentei e me afastei, deixando as duas ali conversando. Eu precisava de um pouco de ar, eu sabia que teria que aprender a lidar com essa situação mais cedo ou mais tarde. Só que eu sentia como se eles fossem meus, me doía lembrar que não eram.

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