Já é fim de tarde quando escancaro a porta do meu quarto para Nauane entrar. Ela deixa as malas num canto e se joga na minha cama, retomando a conversa iniciada ainda na recepção da pousada.
— E então, vamos colocar o plano em prática? – ela incita e eu recuo.
— Nem pensar! Não vou melar esse noivado, isso é demais até para mim. – um tanto estressada, deixo-me cair ao seu lado. – Nanie, e se eu só estiver com ciúmes?
— Ah, no começo pensei mesmo se tratar disso.
— Quando sua opinião mudou? – indago, ansiosa.
— Você sempre mascarou o amor que sente por ele. Vira e mexe o cara entrava nas nossas conversas. E os seus relacionamentos sem futuro? Meu, você realmente não queria se envolver, já que seu coração sempre pertenceu e sempre será do Joseph.
Fito minha sábia amiga. Há um sorriso de entendimento brincando entre suas sardas fofas. Os cabelos castanhos estão espalhados sobre o lençol e ela me encara como se soubesse o que direi a seguir:
— Se ele se casar, serei a mulher mais infeliz desse mundo.
— Eu sei, por isso cheguei em boa hora. Ainda há tempo de ferrar com tudo.
≈≈≈
Levo Nauane para um tour pela pousada. Ela esteve aqui por três vezes, mas algumas coisas mudaram desde sua última visita. Meus avós a adoram e Espírito também. Aliás, meu pai até saiu mais cedo do hospital para o jantar em homenagem a essa visita mais do que aguardada.
Relembramos momentos hilários da faculdade e da agência de propaganda. Nanie conta como chutei as bolas do Roger, durante aquela reunião importante para a empresa. Minha avó chora de tanto rir. Que bom que minhas histórias os divertem. Após o banquete, resolvemos sair à caça de uma balada. Estou usando um vestido azul curto e uma jaqueta jeans por cima. Nanie preferiu uma bermuda preta de alfaiataria e uma blusinha branca de gola rulê. E nos pés, sapatilhas mega confortáveis.
Não há nada de interessante nessa cidade hoje. Poucos bares estão abertos e o único que nos chama a atenção pode se mostrar uma péssima ideia. Após deliberarmos os prós e contras, desistimos. Quando já estamos virando as costas, eis que uma voz rouca e extremamente sexy chama o meu nome.
Guilherme.
— Finalmente deu as caras Demetria. – ele se aproxima e não há para onde fugir.
— E aí, Gui. – noto que ele e Nanie trocam olhares quentes e tenho que me conter para não rir.
Apresento minha melhor amiga no mundo e não é que o Guilherme está jogando o maior charme para cima dela? Galinha, sempre galinha.
— Sejam bem-vindas ao Boteco Nas Costas do Padre. – ele toma as mãos de Nanie, desferindo um beijo em ambas. Que malandro safado.
Nas Costas do Padre não era o nome oficial do bar. Mas Guilherme, como todo criativo inveterado, mudou a alcunha do boteco que se localiza atrás da igreja. O padre não deve ter ficado lá muito satisfeito.
— É um imenso prazer conhecê-lo. – minha amiga diz, com sua melhor voz sedutora. Ah meu Deus, devo me preocupar? Enfim, ela sabe onde está se metendo, já contei poucas e boas do Guilherme.
— E então, vamos entrar? – ele pergunta, sorrindo para Nanie.
— O bar está lotado, talvez um outro dia. – digo puxando-a pelo braço.
— Nada disso. O bar está cheio, mas estou com uma mesa bem em frente ao palco. Estamos só eu e um amigo. Será um prazer ter a companhia de tão belas mulheres.
Devo vomitar agora ou mais tarde? Guilherme é tão meloso que chega a me causar náuseas.
— Demetria? – ele me encara, aguardando uma resposta.
Meu olhar recai sobre Nauane e suas pupilas parecem pular dentro das órbitas. Sei que ela quer ficar e não tenho como negar isso. Contrariando todo o meu bom senso – já não tenho muito mesmo – decido — Ok, vamos ficar.
Levo Nauane para um tour pela pousada. Ela esteve aqui por três vezes, mas algumas coisas mudaram desde sua última visita. Meus avós a adoram e Espírito também. Aliás, meu pai até saiu mais cedo do hospital para o jantar em homenagem a essa visita mais do que aguardada.
Relembramos momentos hilários da faculdade e da agência de propaganda. Nanie conta como chutei as bolas do Roger, durante aquela reunião importante para a empresa. Minha avó chora de tanto rir. Que bom que minhas histórias os divertem. Após o banquete, resolvemos sair à caça de uma balada. Estou usando um vestido azul curto e uma jaqueta jeans por cima. Nanie preferiu uma bermuda preta de alfaiataria e uma blusinha branca de gola rulê. E nos pés, sapatilhas mega confortáveis.
Não há nada de interessante nessa cidade hoje. Poucos bares estão abertos e o único que nos chama a atenção pode se mostrar uma péssima ideia. Após deliberarmos os prós e contras, desistimos. Quando já estamos virando as costas, eis que uma voz rouca e extremamente sexy chama o meu nome.
Guilherme.
— Finalmente deu as caras Demetria. – ele se aproxima e não há para onde fugir.
— E aí, Gui. – noto que ele e Nanie trocam olhares quentes e tenho que me conter para não rir.
Apresento minha melhor amiga no mundo e não é que o Guilherme está jogando o maior charme para cima dela? Galinha, sempre galinha.
— Sejam bem-vindas ao Boteco Nas Costas do Padre. – ele toma as mãos de Nanie, desferindo um beijo em ambas. Que malandro safado.
Nas Costas do Padre não era o nome oficial do bar. Mas Guilherme, como todo criativo inveterado, mudou a alcunha do boteco que se localiza atrás da igreja. O padre não deve ter ficado lá muito satisfeito.
— É um imenso prazer conhecê-lo. – minha amiga diz, com sua melhor voz sedutora. Ah meu Deus, devo me preocupar? Enfim, ela sabe onde está se metendo, já contei poucas e boas do Guilherme.
— E então, vamos entrar? – ele pergunta, sorrindo para Nanie.
— O bar está lotado, talvez um outro dia. – digo puxando-a pelo braço.
— Nada disso. O bar está cheio, mas estou com uma mesa bem em frente ao palco. Estamos só eu e um amigo. Será um prazer ter a companhia de tão belas mulheres.
Devo vomitar agora ou mais tarde? Guilherme é tão meloso que chega a me causar náuseas.
— Demetria? – ele me encara, aguardando uma resposta.
Meu olhar recai sobre Nauane e suas pupilas parecem pular dentro das órbitas. Sei que ela quer ficar e não tenho como negar isso. Contrariando todo o meu bom senso – já não tenho muito mesmo – decido — Ok, vamos ficar.
≈≈≈
O boteco está atulhado de pessoas que aguardam a banda subir ao palco. É um lugar jeitoso, rústico e com um ar vintage que chama a minha atenção. Há uma imensa estante de madeira, com inúmeras garrafas de whisky, todas etiquetadas com o nome do dono da bebida. Esse bar sempre foi o point dos amantes de destilados e jogadores de poker.
Desviamos de garçons e pessoas falantes, chegando à mesa apontada por Guilherme. Quando miro as costas do amigo dele, a respiração falha de imediato. Meus pés enraizam no chão e me recuso a andar. Notando que estou prestes a correr para bem longe, Guilherme passa o braço sobre meus ombros, sussurrando a seguir:
— Ele não morde, fique tranquila.
— Gui, não posso ficar.
— Ah, você pode sim. – ele praticamente me arrasta até a mesa. Ainda tento me desvencilhar, mas então, Joseph gira a cabeça e nossos olhares se encontram em meio ao burburinho. Assim fica difícil recuar.
— Olhe quem eu achei perdida por aí. – Guilherme faz as honras, puxando duas cadeiras para sentarmos. – Essa aqui é a famosa Nauane, de quem o Espírito sempre fala. – ele a apresenta e não sei o que fazer ou dizer. Afinal, onde está a noiva dele?
Com ambas as mãos, Guilherme força meus ombros para baixo e eu me sento, contrariada. Parece que zilhões de alfinetes espetam a minha bunda e uma angústia sem precedentes cresce em meu peito.
— Boa noite Demi. – Joseph acena com a cabeça e parece tão ou mais alarmado do que eu.
— Oi Joe. – respondo num fio de voz.
— Chopp? – Guilherme chama o garçom.
— Parei de beber. – aviso e aqueles três me olham como se eu não fosse desse planeta. – Qual o espanto? – irrito-me.
— Suco de limão? – Guilherme oferece.
— Pode ser. – dou de ombros.
Nesse ponto, Nanie e Joseph engatam uma conversa e começo a temer com possíveis especulações sobre o meu passado. Ela me lança uma piscadela e relaxo, na certeza de que minha amiga não dirá nada além do necessário.
A banda sobe ao palco e a galera aplaude, ensandecida. Nos primeiros acordes, entendo o porquê do boteco estar lotado. O show de blues começa e giro a cadeira para a frente, ao lado de Guilherme. Apesar de estar louca para dar uma olhada de esguelha, finjo que Joe e Nanie não estão ali, na maior fofoca.
Mas sobre o quê esses dois tanto falam?
Noto uma movimentação às costas. Giro o pescoço e Joseph se levanta, com o celular à mão. Diz qualquer coisa e se dirige para a saída do bar. Encaro Nanie com as sobrancelhas bem erguidas, interrogativas.
— É do hospital. – ela revela.
— Hum. – levo os cotovelos à mesa, sustentando a cabeça entre as mãos. – Sobre o que estavam falando?
— O que acha? – ela me lança aquele sorriso enigmático que odeio.
— Não é óbvio? – Guilherme se mete.
— E quanto a você senhor Guilherme, o que pensa estar fazendo? – interpelo.
— Quer realmente saber? – apesar do som estar alto, escuto perfeitamente a sua voz. – Tenho esperanças que sua chegada destrua aquele casamento fadado a infelicidade. – engulo com dificuldades e ele continua: – Joseph não pode se casar com aquela mocreia, não suporto a ideia do meu amigo entrar nessa roubada. Só você pode salvá-lo de cometer um grave erro Demetria.
Nanie e eu nos entreolhamos pasmas. Tenho que repetir mentalmente o que acabo de ouvir. A expressão de Guilherme comprova a veracidade de seu desabafo.
— Olha Guilherme, não sei sua versão dos fatos, mas concordo plenamente com você. – Nanie joga a merda na mesa e levo as mãos à cabeça prevendo a união desses dois contra o casamento de Joseph e sua megera.
— Parem. – peço, suplicante. – Vocês não sabem o que estão dizendo.
— Ele não ama a Samantha. – Guilherme coloca sua mão sobre a minha. – Ele nunca amou outra mulher.
— Ele disse isso à você? – estou prestes a surtar.
— Nem precisa. Eu sei. – Guilherme respira e me encara nos olhos. – Quando você foi embora, ficamos brigados por algum tempo. A Samantha se aproveitou do momento de fragilidade e deu o bote.
— Espírito me disse que ela não é tão ruim assim. Até o incentivou a estudar fora do país, mesmo sabendo que poderia perdê-lo. – sério mesmo que estou defendendo aquela tosca?
— Como você é inocente Demi. – ele ri na minha cara. – A mimadinha só fez isso por acreditar que se ele ficasse no Brasil, poderia ter uma recaída e correr atrás de você. – Guilherme aperta a minha mão. – Ainda acha que ela agiu de boa fé?
Ah, agora está tudo muito claro. Achava mesmo que faltava uma peça nesse quebra-cabeças do capeta.
— Biscate. – murmuro, entredentes.
Joseph volta para a mesa e o assunto morre. Desculpando-se por precisar sair às pressas, mas havia uma emergência no hospital. Despede-se de Nanie com um beijo na bochecha, de Guilherme com um aperto de mão firme e da sem noção aqui, apenas um meneio de cabeça.
O boteco está atulhado de pessoas que aguardam a banda subir ao palco. É um lugar jeitoso, rústico e com um ar vintage que chama a minha atenção. Há uma imensa estante de madeira, com inúmeras garrafas de whisky, todas etiquetadas com o nome do dono da bebida. Esse bar sempre foi o point dos amantes de destilados e jogadores de poker.
Desviamos de garçons e pessoas falantes, chegando à mesa apontada por Guilherme. Quando miro as costas do amigo dele, a respiração falha de imediato. Meus pés enraizam no chão e me recuso a andar. Notando que estou prestes a correr para bem longe, Guilherme passa o braço sobre meus ombros, sussurrando a seguir:
— Ele não morde, fique tranquila.
— Gui, não posso ficar.
— Ah, você pode sim. – ele praticamente me arrasta até a mesa. Ainda tento me desvencilhar, mas então, Joseph gira a cabeça e nossos olhares se encontram em meio ao burburinho. Assim fica difícil recuar.
— Olhe quem eu achei perdida por aí. – Guilherme faz as honras, puxando duas cadeiras para sentarmos. – Essa aqui é a famosa Nauane, de quem o Espírito sempre fala. – ele a apresenta e não sei o que fazer ou dizer. Afinal, onde está a noiva dele?
Com ambas as mãos, Guilherme força meus ombros para baixo e eu me sento, contrariada. Parece que zilhões de alfinetes espetam a minha bunda e uma angústia sem precedentes cresce em meu peito.
— Boa noite Demi. – Joseph acena com a cabeça e parece tão ou mais alarmado do que eu.
— Oi Joe. – respondo num fio de voz.
— Chopp? – Guilherme chama o garçom.
— Parei de beber. – aviso e aqueles três me olham como se eu não fosse desse planeta. – Qual o espanto? – irrito-me.
— Suco de limão? – Guilherme oferece.
— Pode ser. – dou de ombros.
Nesse ponto, Nanie e Joseph engatam uma conversa e começo a temer com possíveis especulações sobre o meu passado. Ela me lança uma piscadela e relaxo, na certeza de que minha amiga não dirá nada além do necessário.
A banda sobe ao palco e a galera aplaude, ensandecida. Nos primeiros acordes, entendo o porquê do boteco estar lotado. O show de blues começa e giro a cadeira para a frente, ao lado de Guilherme. Apesar de estar louca para dar uma olhada de esguelha, finjo que Joe e Nanie não estão ali, na maior fofoca.
Mas sobre o quê esses dois tanto falam?
Noto uma movimentação às costas. Giro o pescoço e Joseph se levanta, com o celular à mão. Diz qualquer coisa e se dirige para a saída do bar. Encaro Nanie com as sobrancelhas bem erguidas, interrogativas.
— É do hospital. – ela revela.
— Hum. – levo os cotovelos à mesa, sustentando a cabeça entre as mãos. – Sobre o que estavam falando?
— O que acha? – ela me lança aquele sorriso enigmático que odeio.
— Não é óbvio? – Guilherme se mete.
— E quanto a você senhor Guilherme, o que pensa estar fazendo? – interpelo.
— Quer realmente saber? – apesar do som estar alto, escuto perfeitamente a sua voz. – Tenho esperanças que sua chegada destrua aquele casamento fadado a infelicidade. – engulo com dificuldades e ele continua: – Joseph não pode se casar com aquela mocreia, não suporto a ideia do meu amigo entrar nessa roubada. Só você pode salvá-lo de cometer um grave erro Demetria.
Nanie e eu nos entreolhamos pasmas. Tenho que repetir mentalmente o que acabo de ouvir. A expressão de Guilherme comprova a veracidade de seu desabafo.
— Olha Guilherme, não sei sua versão dos fatos, mas concordo plenamente com você. – Nanie joga a merda na mesa e levo as mãos à cabeça prevendo a união desses dois contra o casamento de Joseph e sua megera.
— Parem. – peço, suplicante. – Vocês não sabem o que estão dizendo.
— Ele não ama a Samantha. – Guilherme coloca sua mão sobre a minha. – Ele nunca amou outra mulher.
— Ele disse isso à você? – estou prestes a surtar.
— Nem precisa. Eu sei. – Guilherme respira e me encara nos olhos. – Quando você foi embora, ficamos brigados por algum tempo. A Samantha se aproveitou do momento de fragilidade e deu o bote.
— Espírito me disse que ela não é tão ruim assim. Até o incentivou a estudar fora do país, mesmo sabendo que poderia perdê-lo. – sério mesmo que estou defendendo aquela tosca?
— Como você é inocente Demi. – ele ri na minha cara. – A mimadinha só fez isso por acreditar que se ele ficasse no Brasil, poderia ter uma recaída e correr atrás de você. – Guilherme aperta a minha mão. – Ainda acha que ela agiu de boa fé?
Ah, agora está tudo muito claro. Achava mesmo que faltava uma peça nesse quebra-cabeças do capeta.
— Biscate. – murmuro, entredentes.
Joseph volta para a mesa e o assunto morre. Desculpando-se por precisar sair às pressas, mas havia uma emergência no hospital. Despede-se de Nanie com um beijo na bochecha, de Guilherme com um aperto de mão firme e da sem noção aqui, apenas um meneio de cabeça.
Oh, mundo cruel!
Quando Joseph nos deixa a sós, esses dois bem que tentam voltar ao assunto “Melando o casamento”, mas corto o papo pela raíz. Se for como Guilherme contou, não serei eu a dar um ponto final nisso. Mas tenho que dar o braço a torcer, eu adoraria ver aquela arrogante se ferrar.
Posta maiiis!!!
ResponderExcluirFeliz ano novo !! 😁😁
Posta maiiis!!!
ResponderExcluirFeliz ano novo !! 😁😁