segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Capítulo 32 MINI MARATONA FINAL



Joseph se afasta, ofegante. Seu olhar diz que perdeu o controle, que esse beijo não deveria ter acontecido. Eu entendo, perfeitamente. Ainda assim, uma facada não seria tão dolorosa e sangrenta.
Não me desculpo, não vejo motivos para tal. Ele também não se pronuncia e morde o lábio, com força, talvez para segurar as palavras que queiram sair por aquela boca macia e quente e selvagem e farta e perfeita.

O irmão do Espírito diz que precisam ir ao hospital, para verificarem os ferimentos e mais alguma coisa que não capto. Todos os meus sentidos estão desligados, apenas a visão funciona. E eu só vejo a ele.

— Eu preciso ir. – ele diz, com as mãos entrelaçadas às costas como se somente dessa forma, pudesse evitar me tocar.

— Joe, nós precisamos conversar.

— Eu sei. – seu olhar torna-se apático de repente. – Quando eu puder, procuro por você.

— Antes do casamento, por favor. – meu tom é de súplica.

— Farei isso.

                                          ≈≈≈

De volta à pousada, estou sentada de frente para o meu avô, em sua mega biblioteca. Narrei os últimos acontecimentos no mar e ele ouviu atento, com os óculos na ponta do nariz.

Quando fiz menção em me levantar, ele segurou o meu braço, dizendo não se conformar com a forma com que tenho tratado minha mãe e que eu deveria, ao menos, dar uma chance a ela.

Nesse ponto, começo a folhear um livro bem antigo, desses com capa de couro e cheiro de papel envelhecido. É uma história de amor e dou uma olhadela no final. Como um romance pode ter um final tão desastroso? Arquejo, contrariada.

— Demetria, seja inteligente. Converse com sua mãe, entenda-se com ela. Seu pai está feliz desde o reencontro, não notou?

— Eu tinha certeza de que havia um rabo de saia na jogada, mas nunca pensei que seria minha mãe.

— E isso não é bom? – vovô ajeita os óculos na ponta do nariz adunco. – Demetria, não seja tão turrona.

— O que a vovó pensa disso tudo? – questiono, fechando a porcaria do livro.

— No início ela foi contra, tinha medo do seu pai sofrer novamente. Mas então, se deu conta de que ele a ama, sempre amou, independente do passado ou mesmo do que o futuro reserva à essa relação. – ele faz uma pausa e mira o fundo dos meus olhos. – Demetria, seu relacionamento com Joseph não é muito diferente disso.

Que tapa na cara!

Minhas bochechas queimam com o óbvio. Eu nunca havia pensado por esse ângulo e não é que meu avô tem toda a razão?

— Você teve os seus motivos para abandoná-lo. Sua mãe também teve os dela. Pense nisso. – ele suspira alto e volta para sua leitura.

                                        ≈≈≈

Nauane está Nas Costas do Padre com Guilherme. Espírito saiu com aquele cara bonitinho da outra noite. Não faço ideia de onde Joseph esteja. Meu pai e meu avô jogam truco na sala de jogos. Minha avó já foi dormir há algum tempo.

Estamos apenas minha mãe e eu, na varanda da casa do meu velho. Ela se balança em uma rede enquanto eu finjo fazer as unhas. Já tirei o esmalte, mas estou trêmula com essa aproximação e não conseguirei passar o vermelho que escolhi.

— O que acha de recomeçarmos do zero? – fito-a, sem qualquer traço de raiva na voz.

— Acho uma ótima ideia. – ela ajeita as madeixas em um rabo de cavalo. – Demetria, eu amo você, filha. Mesmo longe, nunca deixei de pensar em você, enviar vibrações positivas. Você é o meu bem mais precioso e sabe disso.

— Por mais que explique, ainda não entendo os seus motivos.

— Demetria, eu era muito jovem e estava perdida, querendo me encontrar nesse mundo. Depois da morte dos seus avós naquele acidente de helicóptero, fiquei desnorteada. E quando aqueles turistas vieram para cá trazendo a fórmula mágica da felicidade, senti um chamado, uma vontade louca de largar tudo e buscar um sentido para a vida. Eu queria entender a morte.

— Eu me lembro bem dos meus avós. – e nesse instante derrubo uma muralha, permitindo que minha mãe entre e que eu possa compreendê-la.

— Seus avós eram meu porto seguro e me entendiam como ninguém. Quando morreram, eu surtei. Seis meses depois, fiz as malas e parti. Não sei se você recorda, mas não fui uma boa mãe, muito menos boa esposa desde que me deixaram para trás. Seu pai sabia que a única forma de me salvar, seria me deixar partir. Demetria, eu realmente sinto muito.

— Você se encontrou? Está a salvo agora?

— Eu estou bem filha. Por todo esse tempo que passei fora, nunca tive outro homem. Sempre fui do seu pai e sempre serei. – ela sorri. – Ele sabe disso.

— Ele teve algumas namoradas. – revelo, mas não para machucá-la.

— Eu sei. – ela diz cabisbaixa.

— O que acontecerá agora? – indago, pensativa.

— Continuarei morando no Rio de Janeiro e assim ficaremos por um tempo. Não pense que uma reaproximação é fácil, existem mágoas profundas que necessitam de cura. Mas estamos progredindo e só o amor é capaz de um feito como esse.

— Está falando de você ou de mim? – sinto que ela argumenta com uma arma de dois gumes. E um dos canos está voltado para a minha pessoa.

— O que acabei de dizer serve para você também. – ela faz uma pausa. – Imagino que Joseph esteja confuso com o seu retorno às vésperas do casamento com aquela chatinha.

Ah, mamãe acaba de ganhar pontos comigo.

— Mãe, não sei o que fazer.

— Não deixe a razão cegá-la. Em casos como esse, só o seu coração pode iluminar o caminho.

Nauane chega com um baita sorriso no rosto. Minha mãe se levanta da rede e as duas trocam olhares de cumplicidade. Tenho certeza de que elas andaram conversando sobre mim, está nítido.

Antes que minha mãe entre, fomenta uma ideia no ar.

— Por que não se muda para cá, Nanie? Você e a Demi bem que poderiam abrir uma agência de propaganda por essas bandas. Tenho certeza de que em pouco tempo, conquistariam todas as contas da cidade.

Nauane e eu nos entreolhamos, incertas e ao mesmo tempo, sorridentes. Não é má ideia, longe disso. Eu realmente adoraria tê-la por perto e sempre nos demos super bem, inclusive no trabalho. Eu sou ótima em direção de arte e criação. E os textos da Nanie são perfeitos, aliás, sempre disse que ela deveria escrever um livro, uma comédia romântica, talvez. E que lugar melhor do que Paraty para altas inspirações? Aliás, ela não precisaria ir muito longe, já que minha vida parece ser uma eterna comédia pastelão.

— Pensarei nesse assunto, prometo. – Nanie responde, efusiva.

— E sei que está se envolvendo com o Guilherme também. – minha mãe dá uma piscadela e some das nossas vistas.

Nanie senta-se na rede, me encarando. Só está esperando que eu atire as perguntas que não querem calar. Não conversamos sobre esse relacionamento com o Guilherme, mas preciso muito descobrir em que pé está o envolvimento.

— Tenho milhões de perguntas para fazer, mas não quero ser invasiva, portanto, me diga o que está havendo entre você e o Gui. Conte somente o que achar necessário.

— Sei da sua opinião sobre ele e realmente entrei nessa parada armada e protegida, como você mesma aconselhou. Só que essa proteção caiu por terra quando ele me disse que nunca havia levado ninguém ao barco e sentiu uma vontade absurda de permitir que eu entrasse em sua intimidade.

— O cara é um Don Juan. Acreditou nele?

— Parecia sincero. – ela me encara com olhos brilhantes, de quem está apaixonada. – Demi, estou me deparando com sentimentos dos quais só tinha ouvido falar. Na verdade, estou começando a entender o que sente pelo Joseph.

— Nanie, não quero que se machuque.

— Nem eu quero isso! – ela rebate. – Há algo nele, não sei como explicar. É como se nos conhecêssemos há séculos, consegue compreender?

— Como não? – abraço os joelhos contra o peito. – Nanie, eu só quero que você seja feliz, que encontre o cara da sua vida. Se é o Guilherme ou não, pouco importa. O que não quero, de jeito algum, é que você permita que ele arrase o seu coração.

— Eu estou bem e não deveria se preocupar comigo. – ela faz uma pausa breve. – O Joseph voltou a procurá-la?

— Nem sinal dele. – suspiro alto e uma tristeza latente me abala. – Nanie, eu realmente acho que o perdi.

— Segundo o Guilherme, você está com a faca e o queijo na mão. Só depende de você, Demi.

— Sei lá, não quero pensar nisso agora. Aliás, por que voltou tão cedo da balada?

— Eu não deveria contar, mas vou. O Guilherme foi ter uma conversa com o bonitão do Joseph.

– ela revela e me sobressalto.

— O quê? Por quê?

— Ah, larga de ser besta. Você sabe porquê. O Guilherme não se conforma com esse casamento e quer confrontar o Joseph uma última vez. Já que você anda uma mosca morta e não quer melar esse casório, alguém precisa agir. E pela amizade desses dois, o Gui é a melhor escolha.

                                               ≈≈≈

Revirei-me a noite toda.

Nauane já está pronta quando saio do banho. Visto uma combinação de saia branca com blusinha cor-de-rosa. Estou louca para saber o resultado da conversa entre Guilherme e Joseph, mas não deixo transparecer. Apesar disso, minha amiga saca minha inquietação.

— Vamos pular o café-da-manhã. – ela inicia. – O Guilherme está no boteco, fazendo o balanço do mês. Falei com ele e disse que estamos a caminho.

— Ele adiantou alguma coisa? Revelações bombásticas? – questiono, aflita.

— Nadinha.

Por mais que Nauane o tenha pressionado, Guilherme alegou que esse não era um assunto para ser tratado por telefone. Sendo assim, passamos voando pelo gazebo, tapando o nariz para aqueles aromas coloniais deliciosos que se misturavam no ar. A fome terá que esperar.

Saímos para o Centro Histórico, caminhando apressadas, sem desviar nossos olhares para as inúmeras vitrines cheinhas de chamarizes. Nem para a loja de sapatos eu dou atenção. Meu rumo está traçado e não sossegarei até arrancar do Guilherme qualquer informação que salve o meu destino cruel e solitário.

Mas então, Nanie parece ter sido alvejada por tiros. Seu olhar embasbacado está fixo numa vitrine ao meu lado. Quando faço menção em girar o pescoço, ela puxa o meu braço tentando inutilmente me arrastar pelo calçamento.

Ah, de jeito nenhum!

Nesse momento, descortino a razão do seu choque.

Através de uma vitrine quadrada, vejo ao fundo uma linda mulher vestida de noiva. Está sob um pedestal de madeira e uma costureira marca a barra de sua saia branca, divinamente adornada com pedrarias prateadas.

Engulo o choro e tenho que encarar a face da verdade: Samantha está maravilhosa e o vestido é um luxo.

Nauane me puxa com força e dessa vez me deixo levar. Já não sustento mais as lágrimas dentro dos olhos e elas vertem, queimando minha face derrotada. É claro que Joseph a escolheria, afinal, ela é a miss perfeição, uma mulher bem resolvida e dotada de atributos físicos surpreendentes. Sem falar na inteligência e na cabeça centrada. E eu, o que sou? Uma tresloucada sem noção, uma mulher que ainda não amadureceu, que não conquistou absolutamente nada na vida. E eu tenho celulite.

Quando viramos uma esquina, longe o bastante daquela vitrine, Nauane me abraça e me permito chorar em seu ombro. Ela sussurra, pedindo que esqueça o que vi. Mas como? Essa imagem foi forte demais e não me abandonará tão cedo. De repente, não tenho mais vontade de saber sobre a conversa que Guilherme e Joseph tiveram. Não tenho forças para continuar caminhando ou vivendo. Certo, a última afirmação soou dramática ao cubo, mas é exatamente assim que me sinto. Estou sangrando, sinto a alegria se esvaindo, minha força de vontade se perdendo, meu amor me sufocando. Eu queria poder gritar até perder a voz e asfixiar com o ar. Eu queria… eu queria… ah, Deus, como eu o queria!



2 comentários:

  1. Mas q porra eu tava quase gritando toda feliz achando q o Joe ia ate ela falando q ia desistir do casamento e os caralho nunca fui tao trouxa na minha vida
    Entendo a mae dela e ainda bem q elas voltaram a se falar
    Eu ameeei mt mt mt mt mt a maratona pode fazer mais q eu nao reclamo,nao mesmo
    Meu ano novo foi mt bom,me diverti bastante foi mt engracado kkkkk me jogaram na piscina mt bom e o seu?
    Posta mais pfvr nunca te pedi nada
    Xoxo

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    1. Também fiquei assim quando eu li, emu ano novo foi muito divertido também, bebi com meus amigos, dancei e zuarte muito,amanhã tem capítulo as 13:00

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