sábado, 9 de janeiro de 2016

Capítulo 35

Olhares furtivos. Sorrisos encenados. Descontração teatral. É assim que estou me portando desde que cheguei ao luau. Joseph já se deu conta da minha presença e sua reação deixou meu ego satisfeito. Ele ainda não se aproximou, mas tudo leva a crer que o fará.

Joe parece estar ensaiando uma forma de se dirigir a mim, leio isso nas entrelinhas dos seus movimentos corporais. Está tenso e quando nossos olhares se cruzam, soltam faíscas etéreas que chegam a incendiar a pele. Preso numa roda de amigos, sinto seu desconforto ao longe. A cada cinco segundos leva a mão grande aos cachos dourados, alisando os fios para trás. Morde o lábio, olhando para as estrelas. Noto que sua respiração é curta e rápida. Sei que sou a causa de sua inquietação e a cada minuto que passa, tenho certeza de estar agindo corretamente.

Não posso perder esse homem sem lutar.

Tenho consciência de que não o mereço. Joseph é tudo que sempre sonhei em um relacionamento e ainda assim eu o perdi. Sou a causa da minha infelicidade, a única responsável pela situação crítica na qual me encontro. Darei a ele um tempo, meia hora é o suficiente. Se Joe não se prontificar a ter uma conversa definitiva, irei até lá. Peço que Nanie me avise do horário, enquanto finalizo mais um copo de chopp.

— O bonitão está lutando bravamente. – Nanie observa.

— É o que parece. – concordo.

— Definitivamente sua presença causa efeitos alarmantes. É notório e chega a me dar pena.

— Pena? – indago.

— Coloque-se no lugar dele. Tente imaginar a batalha interna que ele está vivendo nesse exato instante. É a despedida de solteiro do cara e ele provavelmente está pensando em trair sua futura esposa com a namorada do passado, a mulher que realmente ama. – sinto-me horrível de repente. Não digo nada e Nanie continua: – Demetria, não deve estar sendo fácil para o Joseph. Você o traiu e saiu da vida dele sem aviso. Ficaram dez anos afastados e agora, você ressurge das cinzas do passado, trazendo um amor avassalador à tona. É natural que ele esteja pirado, sem saber o que fazer.

— Você disse que eu deveria vir, me incentivou. – estou confusa. – Nanie, talvez eu esteja agindo mal, forçando uma situação que não deveria em hipótese alguma acontecer. – cabisbaixa, levanto apenas os olhos para fitar Joseph. – Eu só quero que ele seja feliz.

— Mesmo longe de você? – ela questiona e não preciso pensar para responder.

— Mesmo que seja com outra mulher. – revelo, numa tristeza que me esmaga.

— Uau, você acaba de passar no meu último teste.

— Como é? – uno as sombrancelhas, intrigada. – Está me testando, Nanie?

Ela eleva uma das mãos, tocando meu rosto. Fixa meu olhar, tombando a cabeça de lado e sorrindo. Passei no tal teste e agora estou doida para saber qual o significado disso.

— Seu amor por esse homem é real, Demi. E a prova disso é que você quer que ele seja feliz, mesmo que com outra pessoa.

— Duvidava do meu amor por ele? – questiono, indignada com a falta de confiança em minhas palavras, nos meus sentimentos.

— Não é isso. – ela toma minhas mãos. – Nunca duvidei do seu amor ou da intensidade dos seus sentimentos. Só queria saber até onde estaria disposta a ir, o que faria por esse homem. E cara, você acaba de me surpreender. Demetria, posso jurar que essa foi a coisa mais madura e sábia que você já disse.

— Sem ele nunca estarei completa. – confesso, entre lágrimas. – Precisei ferrar com a minha vida para entender isso.

— Vou mais além: você precisou crescer, amadurecer, viver para entender isso. Ninguém passa por essa existência sem cometer deslizes, Demi. Tudo bem que seu caso é extremo, mas algo me diz que essa lição você aprendeu e passou para o outro estágio com louvor.

— Eu preciso ter uma última conversa com ele. Não posso continuar com a minha vida sem ter certeza de que me perdoou. – miro Nauane e enxugo as lágrimas. – Deseje-me sorte.

— Boa sorte, Demi.

Numa sincronicidade impressionante, Joseph também toma sua decisão. Essa conexão é tão absurda que, por alguns instantes, congelo no lugar. Nossos olhares estão enlaçados e, mesmo as pessoas que passam entre nós, não são capazes de quebrar o elo.

Deixo que ele venha ao meu encontro. Dou uma olhada para trás e vejo Guilherme e Espírito se juntando a Nanie, incitando-me a continuar, a não desistir da única batalha pela qual vale a pena lutar.

Joseph está próximo demais. Tenho vontade de me jogar sobre ele, abraçá-lo até sufocar, despindo-me de qualquer proteção, libertando-me das amarras que me prendem à sanidade.

Perco as forças quando ele toma uma das minhas mãos. As pálpebras estremecem e se fecham, deixando-me a sós com as sensações e sentimentos borbulhantes. Deus, como sou capaz de amar tanto?

— Vamos dar uma volta. – ele se aproxima do meu rosto em chamas e sussurra.

Não respondo, mas concordo com a cabeça. Nossos dedos se entrelaçam e caminhamos lado a lado, sem qualquer palavra que possa atrapalhar esse momento perfeito.

Penso se ele não se preocupa com o possível falatório, se não liga para o fato de Samantha vir a descobrir sobre nossa escapada. Pelo visto, ele não está incomodado e relaxo.

Na beira do mar, com os pés descalços, vamos nos afastando da festa. A música vai diminuindo, assim como a iluminação. Por incrível que pareça, não estou aflita e muito menos ensaiando mentalmente o que dizer a seguir. Não quero planejar, tudo o que acontecer a partir de agora será natural e deverá soar como verdadeiro.

A brisa solta seu uivo noturno. Já estamos longe o bastante, nos aproximando das rochas na ponta da praia. A lua cheia está alta, cercada por estrelas piscantes e um halo prateado imaterial. Sinto uma paz profunda se aconchegando, fortalecendo-me.

— Não estou aqui para melar o seu casamento ou ferrar com a vida que escolheu. – meu tom é amoroso, mas firme. – Se você pedir, posso ir embora amanhã mesmo de Paraty, não quero ser o motivo da sua infelicidade em nenhum nível. – ele me encara com uma expressão insondável. – Por favor, me perdoe pelo que fiz a você. Não medi as consequências, agi de forma imatura, feri quem não merecia. Eu me arrependo todos os dias, Joe. Tentei apagá-lo da minha vida, mas cheguei a conclusão de que é impossível, porque você faz parte de mim e sempre fará, independente do que aconteça daqui para a frente. Não sou tão egoísta como você pressupõe e sério, eu só quero que seja feliz. Preciso que acredite em mim e me perdoe. Quero ouvir você dizer, só assim terei paz de espírito.

A expressão de Joseph não se altera. Quando expiro o ar e baixo o olhar numa tristeza narcótica, ele toma meu rosto entre as mãos, acariciando minhas bochechas com a ponta dos polegares.

— Quer que eu seja feliz? – ele questiona, retesando os lábios a seguir. Noto que os olhos verdes estão marejados, não suporto assistir à cena.

— Se você estiver feliz, vou ficar bem.

Seus olhos se aprofundam quando se aproxima. Suas mãos agora se enroscam nos meus cabelos e sinto que vou desmaiar. Caramba, só agora me dou conta de que eu morreria por ele, faria qualquer coisa por sua felicidade.

Vejo meu reflexo em tons esverdeados quando seus dedos correm até meus lábios, desenhando seu contorno. Arquejo, em súplica. Não preciso pedir, ele sabe o que deve fazer para matar a minha sede, aplacar a minha fome.

Fraquejo quando Joe desliza aquelas mãos enormes pelas laterais do meu corpo, enlaçando minha cintura. Nem penso em recuar quando sua respiração se confunde com a minha. Meus olhos se fecham e tomo fôlego enquanto seus lábios provocam os meus, roçando bem de leve, me levando a loucura. Joe está me desafiando e estou adorando esse jogo.

Onde isso tudo vai dar, realmente não sei. A única coisa que quero nesse momento é jogar Joseph sobre a areia e me entregar a ele, como se fosse a última vez.


 

2 comentários: