terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Capítulo 33



— Se o Joseph se casar com aquela idiota, você não estará mais aqui para ver isso acontecer. – Nanie dispara.

— Quer que eu fuja?

— Você voltará para São Paulo comigo. Abriremos uma agência por lá, eu tenho uma grana guardada.

— Eu não tenho nada, Nanie. Minha poupança foi congelada, lembra?

— O Roger vai voltar atrás e retirar qualquer queixa com relação à você. Ele me disse ontem, quando liguei avisando que iria esticar as férias.

— O quê? Por que não me disse? – arregalo os olhos, chocada.

— Ah, esqueci. Tantas coisas acontecendo… definitivamente ser sua amiga não é um marasmo.

Estamos num bar, à beira-mar, tomando cervejas e divagando sobre meu futuro incerto. Nanie pretendia me arrastar para o boteco do Guilherme, mas não quero mais ouvir o que ele tem a contar.Se algo necessita ser dito, se alguém precisa tomar uma atitude, essa pessoa se chama Joseph.

— O que o Roger disse? Me conte tudo. – peço, afundando o nariz no copo com aroma de cereais.

— Disse que entende os seus motivos, que não foi sincero com você. E ele me pareceu maduro ao telefone. Até permitiu que eu esticasse as férias e perguntou como você estava, se já o havia perdoado.

— E o que você respondeu?

Nesse ponto, ela solta uma gargalhada.

— Respondi que você nem se lembrava mais do nome dele.

Agora estou rindo também.

— É verdade. – fito-a por algum tempo. – Realmente abriria uma agência comigo? Me levaria embora daqui? Mas e o Guilherme?

— Com relação ao Guilherme, nenhum estrago foi feito. Ainda tenho chances de virar as costas e partir, sem grandes sofrimentos. Estamos nos conhecendo, tenho certeza de que posso seguir adiante.

— Tem mesmo certeza disso? – incito.

— Não. Mas ah, o que importa? – ela toma minhas mãos entre as suas. – Demetria, não vou abandoná-la, não a deixarei sofrer essa desilusão. Sou sua amiga até a morte e para seu total desespero, ainda seremos amigas lá no céu, ou no inferno.

— Sabe que o inferno é o mais provável, não sabe? – satirizo.

— Se sei. – ela revira os olhos e dá de ombros.

A imagem de Samantha, vestida de noiva, volta a me assombrar. Penso em seu futuro com Joseph, nos filhos que terão, nas viagens que farão juntos, nas noites chuvosas em que estarão abraçados, comendo pipoca e assistindo a filmes de terror na televisão.

Sempre assistíamos a filmes de terror, grudados. A pipoca acabava antes do intervalo e nenhum dos dois tinha coragem de ir à cozinha providenciar mais um balde. Eu adorava essas noites e minhas memórias fazem a cabeça latejar. Antes que eu me perca em devaneios sobre o passado, Guilherme se aproxima, puxando uma cadeira e sentando-se ao lado de Nauane, passando os braços por seus ombros. Ela havia avisado onde estávamos e ele não perdeu tempo. Não quero ouvir nada, faço até menção em tapar os ouvidos, mas o bicho da curiosidade é uma merda e está me pinicando nesse exato segundo.

— Me ouça, Demetria. – Guilherme suspira, paciente.

— Eu vou querer morrer, não vou? – questiono, com olhos já marejados.

— Talvez não. – ele rebate e aguarda.

— Ouça Demi. – Nanie aconselha. – Ficar conjecturando não é uma boa ideia.

— Está bem, desembuche Guilherme.

Ele joga o cabelo de lado e me prende em seu olhar galante. Umedece os lábios e respira fundo. Ansiedade e tensão se misturam na minha aura e me preparo para o que quer que seja.

— Conversamos por horas. Na verdade, até discutimos. – ele começa. – E o que ele revelou, me deixou realmente puto. De acordo com meu perdido amigo, estar com a Samantha significa uma vida tranquila, sem grandes oscilações. Agora, escolher você seria o mesmo que optar por uma vida em uma montanha-russa. Joseph teme o fantasma de um abandono, de um novo sofrimento sem precedentes.

Cerro as pálpebras, abatida. Samantha é a segurança e eu represento uma ameaça à sua felicidade.

Joseph não confia em mim, muito menos no meu amor. E isso dói horrores.

— Eu já esperava por algo assim. Joseph nunca será capaz de me perdoar. – reflito.

— Não é bem assim Demetria. Ainda tenho esperanças. – Guilherme revela.

— Por que diz isso? – Nanie pergunta e a expectativa paira no ar.

Guilherme pensa bem no que dizer a seguir. Fita meus olhos marejados e inclina o corpo para a frente, tocando minhas mãos trêmulas. Ele as aperta, bem de leve e então, solta a bomba:

— Porque ele me confidenciou que ama você Demetria. E é um amor que o enlouquece e ao mesmo tempo o amedronta. Nada que seja novidade para mim, mas a forma como ele disse isso, cara, foi de abalar os céus.

Nauane sorri enquanto eu choro, ainda com as mãos de Guilherme sobre as minhas. Tombo a cabeça na mesa de plástico do bar e deságuo ali mesmo a tragédia na qual estou inserida. A culpa é minha, eu cavei essa situação toda e enterrei a única chance de ser feliz.

— Demetria, daremos uma festa para o Joseph, uma espécie de despedida de solteiro. Está tudo armado para um luau lá em Trindade, já contratei a banda e convidei uma galera. A Samantha não irá, aliás, proibi que dessem com a língua nos dentes. O Espírito ficou com a incumbência de levar o Joe, sem que ele suspeite de nada.

— Não é uma festa só para homens? – pergunto, entre soluços.

— Ah, qual é, que coisa ultrapassada. – ele sacode a cabeça para os lados. – Eu gostaria muito que fosse, pode ser sua última chance de salvá-lo.

— Não sei se devo. Eu realmente queria que ele tomasse uma atitude por vontade própria, sem eu ter que me expor, sem precisar de artifícios sedutores. – explico.

— Não estou pedindo que faça nada, apenas que esteja lá. É só para cutucar a onça, entende? O que você tem a perder?

— Prometo pensar sobre isso, Gui, de verdade.


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